Notas Soltas - por António Vitorino -
António Vitorino hoje disputou com o PM o share televisivo nacional: um na RTP, o PM na SIC. Para AV a independência - precária - do Kosovo foi o núcleo da sua reflexão, e sobre ela cruzaremos aqui umas linhas, dado tratar-se do assunto mundial do momento, além da tentativa de decapitação do Estado em Timor-leste. Sobre aquela província da Sérvia com 2 milhões de habitantes e com uma história de violência e de ódios interétnicos profundamente enraizados em relação aos sérvios e muçulmanos do Kosovo há os que, no plano do reconhecimento politico-diplomático, reconheceram a ex-província com estatuto internacional à priori; os que o fizeram sob reservas - como Portugal, deixando esse reconhecimento pleno ao ajustamento que a UE irá (ainda) fazer (pois no plano económico o Kosovo irá depender dos programas económicos que a UE disponibilizará para o desenvolvimento do território); e aqueles que, como Espanha (em véspera de eleições e com uma tradição de autonomias que podem ver naquele precedente um perigo factor de desintegrador da unidade do Reino da Espanha) e Chipre (por razões análogas, mercê da ocupação a Norte pela Túrquia) - que só se pronunciarão após a ONU manifestar a sua posição formal diante o mundo. De seguida, como nunca tinha visto, AV faz um elogio fundado a Cavaco - enquanto Chefe Supremo das Forças Armadas - que, ao deslocar-se ao território do Líbano, onde estão estacionados militares portugueses ao serviço da paz internacional, acaba por valorizar o simbolismo da função, do acto e, por extensão, neutralizar qualquer tipo de protagonismo que cada um dos chefes dos ramos das forças armadas poderiam ter caso Cavaco não se "atirasse ao terreno" - como tem feito, e bem. Ora, não estando nós numa situação de guerra nem de paz - mas numa situação de virulência errática pelo mundo que, a qualquer momento, pode eclodir, generalizar-se e intensificar-se num determinado teatro de operações (mormente, por causa do terrorismo desterritorializado), faz bem o PR em colocar-se no papel de fiel da balança mostrando que é o dono do pêndulo do poder político-militar como, de resto, a CRP lhe confere. Neste capítulo, o PR não tem sido um agente político omisso, antes pelo contrário - tem reconhecido, valorizado e estimulado o papel de peace-keeper e de peace-bulding das forças militares portuguesas em missões integradas de âmbito internacional, espelhando a nossa filosofia de solidariedade no mundo inteiro. Com esta avaliação, creio, até Belém ficou um pouco surpresa (pela positiva, claro está!!), mas o realismo e a justeza das observações diluem esse efeito, e Portugal - enquanto projecto colectivo que contribui activamente para as missões de manutenção de paz pode, amanhã, exigir reciprocidade sempre que ela se justificar. Talvez assim tornemos a guerra fora de lei, como Woodrow Wilson dizia no início do séc. XX, mola indispensável para (também) exportar o modelo de democracia americana no mundo. Nós, pelos vistos, exportamos - além do Vinho do Porto e já alguma tecnologia de ponta que serve para funcionalizar sistemas de segurança no espaço Shengen, também exportamos "segurança" através das nossas forças militares integrados em operações de paz. O que não deixa de ser uma boa notícia atendendo à voragem dos tempos..
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