Fragmento da Sociologia Política de Fernando Pessoa
De tempos a tempos convem beber na fonte da sabedoria para alimentar a máquina de pensar neste presente incerto de navegar à vista, mais improvisado do que pensado ou planeado. Diante tanta contingência urge tentar compreender Portugal pelas lentes de Pessoa, o que nos obriga a registar essa três passagens: 1) uma relação com o passado; 2) uma relação com o presente, nacional e estrangeiro; 3) e uma relação em direcção ao futuro - sempre desnorteado. Aquilo que hoje a moderna ciência do planeamento designaria de prospectiva. Em todos esses períodos, há forças que tendem a manter o que está, porque tendem a adaptar o que existe às condições do presente, e forças que tendem a dirigir o presente para um norte previsto, visionado no futuro. Não se trata aqui de partidos políticos, mas de íntimas forças nacionais. Esta concepção trinitária do discurso, que permite aprofundar um certo pensamento sobre Portugal (que ganhou nome no poema Mensagem) deve situar-se no fluxo temporal da história de Portugal para melhor entrever o futuro viável, segundo as virtualidades de uma tradição reinventada, adaptável aos condicionalismo do presente. Ora, com o Passado Pessoa mantém uma relação decadentista, o país apenas se confinou a sobreviver no decurso dos vários séculos, ainda que tenha experienciado a confusa experiência republicana do início do séc. XX. D. Manuel e a anexação a Espanha, o aparecimento do constitucionalismo em 1820 e a própria monarquia constitucional. Com o Presente - núcleo de preocupação "regenadora" de Pessoa dizia respeito ao presidencialismo, ou seja, a um executivo forte e operante que apontasse para uma fórmula política mais estável. E numa terceira fase - o regeneradorismo - apontava-se para a valorização das chamadas classes extra-políticas: comerciantes e industriais, o empresariado nos nossos dias. De resto o poeta atribuía grande importância à industrialização e aos níveis de educação do país, factores essenciais para ultrapassar os atrasos que o País ainda hoje sente. Aí residiam os remédios da nação e do atraso e decadência que no início do séc. XX Portugal conhecia, porblemas que no início do séc. XXI - se colocam, e cuja natureza, curiosamente, não andam muito longe do vaticínio do poeta-gestor que nos intervalos da lucidez poética também equacionava a forma mais eficiente de saber Como Organizar Portugal.
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