quinta-feira

Violência perversa: A reforma do Homem, de todo o homem, do homem todo. Tributo a Freud

Todos sabemos que o homem é um grande sacana. Nós somos uns sacanas. No plano interindividual, social, em ambiente empresarial, político ou qualquer outro. Não mudamos muito desde o nosso aparecimento, apenas aperfeiçoamos os esquemas de actuação, os métodos e as operações com que fazemos as coisas. Somos hoje - e sempre - mais perigosos que os animais selvagens. O germen da maldade está lá, na integralidade. Nem valerá a pena recuperar aqui algumas dessas teorias psicosociológicas que ratificam esta afirmação acerca do pessimismo da condição humana.
É claro que o homem também é bondade, também temos uma costela de S. Francisco de Assis e andamos por aí a fazer o bem sem esperar qualquer contrapartida. Mas a regra, infelizmente, não é essa.
Como julgo conhecer alguma coisa do que vamos aqui falando, desde o meio social, ao político, ao académico passando pelas várias esquinas que se interpõem nessas trajectórias - cito aqui Pierre Desprogess quando afirma esta pérola:
Que fiz eu para merecer um tal castigo? Uma palavra certeira pode matar ou humilhar, sem ser preciso sujar as mãos. Uma das grandes alegrias da vida é humilhar os seus semelhantes.
É triste concordar com isto, mas é a mais pura das verdades, escondê-lo ou não o reconhecer seria um acto de hipocrisia ou de pura estupidez.
Por outro lado, nesse jogo da vida, há encontros que nos estimulam, porém há outros encontros que nos podem destruir. Ora, é este tipo de assassínio psíquico que hoje mina as nossas sociedades. No interior das famílias, das empresas, na política, em todo o lado se vai matando essa desejada coesão social, cada vez mais uma miragem. Hoje jogamos todos na bolsa, vivemos todos em multidão, mas vivemos de forma atomisada. Ninguém, verdadeiramente, se conhece neste jogo de espelhos. Sendo que uns sempre representam melhor o seu role-playing do que outros. Daqui decorre a violência indirecta que temos na sociedade contemporânea.
Mas é aqui que também nasce a magna quaestio: se somos autores de tanta maldade, se somos uns verdadeiros sacanas, por que razão infligimos tanto mal aos outros?! A resposta repousa no facto de sermos como somos por que, também, sentimos imenso sofrimento, e ao não conseguirmos converter esse sofrimento numa energia positiva acabamos por replicar actos ainda piores do que aqueles que sofremos. É um ciclo de violência terrível, se não for interrompido.
Na nossa vida corrente sabemos que conseguimos destruir alguém com um olhar, uma palavra, uma intenção. Daí à violência perversa ou ao assédio moral vai um passo.
O objectivo nestes jogos sociais é tentar infligir à vítima uma espiral depressiva, por vezes com consequências suicidas, pois nunca sabemos, antecipadamente, quais serão os resultados das nossas acções nas conduta de terceiros.
Numa palavra, o grande propósito é matar no outro a boa imagem que ele guarda de si mesmo. Se se conseguir isto então somos uns verdadeiros sacanas, para não plasmar aqui outro nome mais feio.
É aqui que entramos num impasse terrível: como sair daqui, dado que essas são pulsões demasiado vincadas no homem para que ele mude e passe a ser o tal S. Francisco de Assis, que desejaríamos todos ser.
Freud dizia que ou investimos na educação, na cultura e na civilização ou então então estamos tramados, não passamos duns sacanas. E, devemos convir, esta imagem de sacanas não cola bem ao ser mais perfeito e inteligente sobre a face da Terra.
Faça-se, pois, a vontade a Freud e liberte-se e civilize-se o Homem. O homem todo, todo o homem.
PS: Este texto deveria ser lido por todos "os sacanas", quem sabe ficassem um pouco menos sacanas e mais homens.