Luiz Pacheco, again..."Prémio Nacional Luiz Pacheco" -
SERIA INTERESSANTE QUE O MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUISSE O PRÉMIO NACIONAL DE CULTURA - LUIZ PACHECO -
Certamente, muitos de nós recordam hoje Luiz Pacheco pelo seu lado mais desviante, anómalo, libertino e anárquico que gerava escândalo e chocava as pessoas e as instituições, colocando-se ele próprio à margem antes que a sociedade o marginalizasse. A RTP2 explicitou isso num interessante documentário que acabou de passar. Parabéns à RTP2. Contudo, isto não deixa de ser algo macabro em nós, admirarmos/desprezarmos mais um homem pelo seu lado desviante do que pela sua obra. Até nisto somos mesquinhos, obsessivos. Tal faz-me lembrar a tara daquele amigo que quando conduzia parava sempre que via um acidente, por vezes podendo ele próprio gerar outro e pôr em risco a vida de terceiros. Tal ignorância cultural e literária deve-se, em meu entender, a dois factores articulados entre si: à iliteracia natural dos portuguesas e à dispersão da obra de Luíz Pacheco. Para remedear este défice deixamos aqui o repto à actual ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, académica e especialista em Eça de Queiroz, o que facilita um olhar de recorte literário para Pacheco e mandar os seus Serviços fazer um levantamento da Obra e republicá-la vendendo-a depois a preços competitivos. Ou quiça, instituir o Prémio Nacional Luiz Pacheco sob o Alto Patrocínio do Ministério da Cultura e, desse modo, promover o estudo da obra do autor junto dos liceus, da universidade e da sociedade em geral. Um apoio do Comendador Berardo facilitaria essa generosa promoção cultural da vida e obra de um grande autor português. Pois recuso-me a acreditar que para o Comendador a Cultura (lato sensu) apenas se verte em quadros, em peças de escultura ou em acções do bcp.
Porventura, seria um trunfo para Pires de Lima - que assim até poderia ficar no governo por mais uns tempos, dado que se lhe conhecem poucas medidas ou reformas no sector, de resto, muito contestado. Depois as soit-disant elites deste País que têm acesso aos media podiam, e deviam mesmo, sinalizar o todo ou parte dessa obra, porém, omitem-na escandalosamente num programa sustentado com os impostos dos portugueses. Aliás, marcelo, o douto Marcelo, que se arrasta numa previsibilidade analítica que já enfastia, nem sequer teve a ombridade de sinalizar a morte de um escritor maior do séc. XX. Certamente, porque Luiz Pacheco não integrava o perfil que vai de Caxias a Cascais, mas há que não ser faccioso, sectário ou elitista de "tio da linha" e ter, pelo menos, a categoria e a humanidade de registar a morte de um homem de cultura que engrandeceu, se bem que de forma sui generis, a cultura portuguesa. Quer o douto Marcelo goste ou não de Luiz Pacheco.
Ou será que o analista é daqueles que omite mas depois tem as obras todas do autor em casa!? Foi, confesso, um momento deprimente - por omissão - veiculado pelo douto marcelo na tv paga com os nossos impostos, daí a sua obrigação acrescida. Como só vejo o programa intermitentemente, admito que haja aqui uma falha da minha parte neste particular... Mas a ser verdade que num programa de análise social e política, onde o seu autor passa a vida a apresentar os livros dos amigos, muitos deles sem qualquer interesse ou qualidade, o seu interventor omita o desaparecimento de um grande escritor, tenho de extrair, por extensão, uma leitura política desse facto. Uma leitura que se liga ao facto de Pacheco ter sido um dos homens que mais e melhor questionou o poder e o regime de salazar e, desse modo, fragilizou o poder e influência de todos os seus apaniguados e agentes políticos, intra-e extra-muros, d' aquém e d' além mar.. Nesta perspectiva, o escritor Luiz Pacheco também ajudou a aniquilar o ancien regime através da genialidade da sua pena. Por isso, é natural que algumas dessas pessoas que viviam à sombra do regime e dele beneficiaram com cargos, benesses e protecção, ainda não tenham digerido essa alteração geral de circunstâncias que coincidiu com o momento em que Luiz Pacheco tocou a "corneta", para celebrar a queda do velho Botas e de toda aquela brigada do reumático que, durante décadas, adiou Portugal, e muitos adiaram o País mantendo-o na ilusão de segurar os fios do Império do Minho a Timor, quais pobres de esprit que até na modesta figura e condição de governadores coloniais contribuíram para agravar esse subdesenvolvimento - que além de político, económico e social - foi também moral, espiritual e cultural. Institua-se o referido Prémio de Cultura - Luiz Pacheco.
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