Terrorismo no Deserto: um mundo em fuga e o cancelamento da prova Lisboa-Dakar
UMA NOVIDADE NO SEIO DA TEORIA MODERNA DO TERRORISMO
A bernarda do dia é que o rali mais famoso, extenso e perigoso do mundo foi cancelado. O rali Lisboa-Dakar sofreu uma terrível amputação com o ambiente de instabilidade gerado na Mauritânia por grupos terroristas que controlam o deserto e têm uma obediência à Al Qaeda - que no Natal último liquidou 4 turistas franceses. Desta feita, e por razões de segurança, o terrorismo global e suicidário conseguiu impôr a sua lei numa área e num sector onde até agora o seu longo braço armado ainda não tinha chegado: a uma prova de rali que, supostamente, até um terrorista gostaria de ver, sobretudo no deserto - distraindo pessoas e camelos, além das serpentes da areia.
E com o rali cancelado caberá perguntar quem pagará os enormes custos de organização decorrentes dessa operação? Se o terrorismo visa espalhar o terror e criar um ambiente psicológico de incerteza onde quer que se fixem os seus objectivos, então o deserto também é, doravante, um local ideal para sabotar uma empresa do Ocidente capitalista, cristão e infiel que serve para Bin Laden e as suas várias células distribuídas pelo mundo inteiro - mostarem o seu poder, a sua influência e a sua capacidade de intervervenção e de interferência na desarticulação dos eventos que esse mesmo Ocidente organiza para seu belo prazer.
Nesta óptica, esta acção da célula terrorista a operar na Mauritânia é uma novidade, dado a natureza do evento escolhido para sabotar toda a organização do rali Lisboa-Dakar. De facto, não há fronteiras para o terrorismo global que hoje artificializa os territórios em nome duma ideia religiosa, dum fanatismo, dum purismo que descamba em violência.
Isto significa que vivemos num mundo em fuga, um mundo marcado por aquilo que um bando de terroristas pensa e faz no mundo inteiro, um mundo pautado pelo ritmo da incerteza, do risco e da turbulência, dado que são essas variáveis que facilitam as acções de terrorismo global de que esta interrupção da prova Lisboa-Dakar é um lamentável exemplo.
Este episódio, por outro lado, chama-nos a atenção para o facto de termos de viver pensando em todas as consequências e efeitos dos nossos actos, i.é, na reflexividade de toda a nossa conduta - invidividual e grupal, no plano micro e macro-societário. Isto implica reconhecer, ao invés do passado recente, que o controlo politico-administrativo que os Estados tinham sobre os respectivos territórios desapareceu substancialmente, numa era global as nações ficam paralisadas e perdem o poder que costumavam ter, por vezes até se dissolve a sua noção de identidade cultural.
Isto apesar dos governos dos Estados colaborarem entre si na troca de informação na luta contra o crime e o terrorismo transnacional, mas nem por isso o mundo deixa de estar em fuga, e, hoje, milhares de pessoas, de recursos viram o seu curso afectado por causa da suposta operação terrorista de um bando de fanáticos que ameaça explodir meia dúzia de carros num dos trajectos por onde passa o rali nesse imenso país (dez vezes maior do que Portugal, mas apenas com os seus 3 milhões de pessoas) que é a Mauritânia.
Mais uma vez a célula da Al Qaeda no Norte de África ostenta o seu poder intersectando projectos e eventos europeus demonstrando, desse modo, como o terrorismo em rede sabe e pode explorar as emoções frágeis das democracias moles do Ocidente, paralisando os seus sistemas de decisão, bloqueando os seus recursos, destruindo os seus sonhos e projectos e, agora, o que é uma novidade, coarctando um espaço de lazer mundial reconhecido como sendo a prova mais difícil e desafiante - pela resistência - do mundo nesta edição Lisboa-Dakar.
De facto, o terrorismo é mesmo um cancro que veio para ficar e, mais grave, tem uma estrutura de funcionamento que opera em rizoma, horizontalizando comandos e acções de terrorismo em rede e a operar em tempo real e programado - com vista a desacreditar e a destruir tudo aquilo que cheire a organização do Ocidente europeu - sinónimo de modernidade - sempre na mira telescópica desse energúmeno que o mundo pariu e se chama Bin Laden. Mas se não fosse ele seria outro...
Deixo, contudo, uma perguntinha: será que não aparece por aí um sniper qualificado que faça caridade ao mundo e elimine de vez o o sr. laden!? Creio que esta questão já foi feita ao actual locatário da Casa Branca, mas sem sucesso, apesar de ter sido mais uma, entre muitas, promessas que g.w. Bush fez ao mundo na sequência da guerra do Iraque. Que serviu apenas para enforcar aquele (Saddam) com quem um dia colaborou, deixando o maior perigo à solta.
Uma guerra que o ex-maoista de apelido Barroso, hoje na Comissão Europeia - também partilhou.
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