Pé direito - por António Vitorino - que nos fala do aumento do petróleo e das eleições nos EUA
PÉ DIREITO
António Vitorino jurista "Existe um velho costume de recomendar que se entre no Ano Novo com o pé direito. Deixando agora de lado eventuais interpretações políticas do dito popular, ele significa no fundo desejar que se entre com sorte! Ora, logo no primeiro dia útil do novo ano, o barril do petróleo em Nova Iorque ultrapassou a fasquia dos 100 dólares, registando assim um pico de que não há memória desde o início dos anos 80. Este valor representou uma subida de mais de 55 por cento apenas nos últimos meses. Parafraseando um outro episódio da nossa vida pública, sabia-se há muito que o petróleo acabaria por ultrapassar a fasquia mágica dos 100 dólares, só não se sabia quando... O novo ano não se fez esperar. A responsabilidade por este pico aparece imputada à instabilidade política em vários países do mundo (Nigéria, Paquistão, Quénia), ao aumento da refinação na China para responder a uma procura sempre crescente e a um risco de escassez de gasolina para distribuição, à divulgação dos dados referentes às reservas estratégicas de petróleo dos Estados Unidos abaixo do que eram as previsões. A volatilidade dos factores que condicionam o preço do petróleo vai decerto repercutir-se na própria oscilação desse preço nos próximos meses em torno deste valor de referência dos 100 dólares. Mas a tendência mais provável é que, persistindo as causas, o curso do preço a prazo seja marcado por uma subida continuada. São, sem dúvida, más notícias para a economia mundial e, em especial, para a daqueles países, como Portugal, que dependem largamente da importação de petróleo. Para aliviar a nossa angústia, os especialistas dizem que este desfecho não é inevitável... se houver uma recessão mundial! E como exemplo avançam com as ondas de choque da crise do mercado hipotecário norte-americano e seus efeitos no sistema financeiro global que só agora começarão a produzir impacto na economia real, bem como com as previsões do sector industrial americano que são as mais baixas dos últimos cinco anos... com tudo o que significaria para o mundo inteiro uma recessão americana. Faz lembrar aqueles médicos que nos explicam que se não morrermos do mal morreremos da cura... Neste cenário pouco animador fica-nos a compensação de sermos parte da Zona Euro e assim beneficiarmos da solidez da moeda única europeia face ao dólar. Mas trata-se de uma mera compensação parcial, quer porque a evolução do câmbio não permite recuperar totalmente a diferença face ao aumento do preço do crude, quer porque ao mesmo tempo a apreciação da moeda europeia determina uma perda de competitividade das exportações europeias para o resto do mundo. Já quanto aos Estados Unidos, este é um ano de eleições presidenciais marcado por uma elevada incerteza quanto ao possível vencedor. Ora estes períodos eleitorais diminuem a capacidade de intervenção do presidente cessante e não permitem grande clareza quanto ao rumo a seguir subsequentemente. Acresce que até este momento nenhum dos candidatos, sejam eles democratas ou republicanos, se distinguiu por apresentar um discurso económico claro e consistente que constitua um referencial para a orientação futura da principal economia mundial. Este ano começa assim com sinais preocupantes e traz consigo a certeza de que alguns dos nossos hábitos de vida e de consumo terão de ser alterados. E já não se trata apenas da utilização individual do automóvel ou das escolhas sobre o sistema de aquecimento das nossas casas, mas antes de decisões colectivas e estratégicas sobre a sustentabilidade das nossas economias e dos nossos empregos. Decisões de que dependerá não apenas o nosso bem-estar no imediato, mas também as condições de vida que legarmos às gerações futuras. Com que pé é que terá entrado este ano?"
Obs: Com tanta C & T pergunto-me quando é que essa fonte de energia do séc. XIX começa a ser substituída por outra menos poluente, mais barata e que seja, por extensão, menos virulenta, já que na raiz da conquista das regiões onde estão grandes jazidas petrolíferas estão também a raiz das guerras no sistema internacional.
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