quarta-feira

O debate do psd na sic

Creio que o debate, que vi intermitentemente entre a cozinha e o wc, correu muito bem: os contendores não se ofenderam, não se esbofetearam, não jogaram o copo d´água um à cara do outro, apesar dos esgares, dos olhares lancinantes, dos ataques mortíferos que aqueles 4 olhos entre si cruzavam numa contenção assinalável.

Portanto, quanto à forma os candidatos à liderança do psd estiveram bem. Julgo até que esse sucesso se deveu a uma reprimenda prévia que eventualmente Francisco Balsemão terá feito aos dois antes de entrarem no estúdio:

- Ao MMendes deverá ter-lhe dito: "ó rapazinho vê lá se te portas à altura porque como sócio nº 1 do psd não quero aquele nortista arruaceiro a dirigir o meu partido";

- E ao Menezes deve ter dito qualquer coisa do género: "se fores grosseiro com a Ana nunca mais a direcção da sic te convida a cá pores os pés e ficas sem pio".

E ambos anuiram cordatamente naquela ménage à trois com a Ana cada vez mais interessante, tanto que até poderia ser ela a líder do PsD, porventura arrecadaria mais votos, chamaria mais militantes à causa, muitos mais otários pagariam as quotas e, talvez assim, o Psd entrasse nos carris, e depois só faltaria a Ana convidar a Bárbara Guimarães e a Catarina Furtado para gorvernarem a partir da Lapa. Assim, até eu me faria militante...

Mas haverá verdadeiras diferenças entre eles? MMendes tem mais experiência política, é mais sólido, disciplinado e consegue engolir mais sapos para logo depois os regorgitar: Durão, santana, foram os "aperitivos" de Mendes... Não é populista nem demagogo. Tem, por isso, um low profile que, a médio prazo, se poderá transformar numa ideia credível.

Meneses é um revanchista, alguém ainda a contas com o passado, apesar de visivelmente contido neste debate. Vive diante o drama da afirmação para além do espaço do seu burgo, promete tudo e mais alguma coisa, é um guerrilheiro no seu próprio partido, etc.

Mas quando se procurava elencar diferenças estratégicas o que emergia era uma simetria de imagens lamentável: ambos eram desleais às respectivas lideranças, ambos faltavam às reuniões dos orgãos nacionais do partido; ambos foram uns cata-ventos relativamente à Ota, ambos conspiraram contra os então respectivos líderes, mormente o ganda Nóia em relação a Durão - que depois o convidou pelas mesmas razões que décadas antes Cavaco convidou Santana Lopes para secretário de Estado da Cultura. É que era preferível que esses players fizessem xi-xi dentro da tenda (da governação) do que fazê-lo de fora para dentro, o que faria mais moça. Daí a razão por que Cavaco e Durão convidaram, respectivamente, Santana e MMendes para os seus governos - espaçados no tempo.

No final, não me surpreendeu ver, ou melhor, confirmar aquilo que 10 milhões de pessoas pensam de LFMeneses. Acusando António Vitorino de tentar escolher a opção política que no psd deverá vingar nestas directas.. Assim, pela boca de Meneses ficámos todos a saber que o AV deixou o PS, também vai votar nas directas, tem as quotas do psd em dia e opõe-se a Meneses porque objectivamente é um aliado de Mendes. Será que AV também defende a Ota e o seu contrário como Menezes e Mendes?!

Creio que se perguntarem ao Jerónimo, ao Louçã, ao Portas quem deveria liderar o psd todos eles, por mero cinismo e oportunismo político, fariam recair a sua opinião no líder mais fraco, Meneses no caso vertente. Ora o facto de António Vitorino ter referido que entre a opção pela credibilidade (alegadamente MMendes) e a opção pela demagogia e pelo populismo (evidentemente Meneses) - ele não o fez em resultado de valorações politico-partidárias mas na sequência de considerações nacionais, i.é, de relevo para Portugal.

Pois até ele, mesmo sendo do PS tem a noção que se a vida for dificultada a Sócrates pela oposição crescente de Mendes, será o País e os portugueses que ganharão, e não os juizinhos partidários de Meneses que sairão triunfantes.