quinta-feira

Um desejado Além para quem parte: Ao I.S.C., um Amigo

Costumo dizer que quando batemos na faixa dos 40 somos mais testemunhas da desgraça do que da celebração da vida. Os nossos progenitores começam a cair que nem tordos, outros caem mais devagar, mas caem na mesma. Uns caem de pé, outros deitados, outros ainda não sabem porque caem, mas caem. E quem assiste a tudo isso, a essa lei irreversível da vida, diz alguns palavrões, e entre eles estão duas coisas óbvias:
1) A dôr gerada pela ausência de quem parte, desse amigo ou ente querido;
2) E o reconhecimento de que esse "filme", mais cedo ou mais cedo, será rodado na nossa própria casa, com um argumento lido por nós, interpretado por nós, lido em voz alta por nós, tudo por nós.
Ou seja, a dor é inevitável e deve contar-se com ela, mas infelizmente somos treinados para a vida, a escola, a universidade, a sociedade não nos prepara para a morte. Talvez devesse existir uns mestrados e doutoramentos sobre essa preparação para a morte, uma área em que a Filosofia certamente poderia dar um poderoso contributo. Há, aliás, quem defenda, que a Filosofia é, ela própria, um curso geral de preparação para morte ou, pelo menos, um terreno reflexivo que permite reduzir ao mínimo essa dor.
Por regra, muitos reagem a essa dor recorrendo ao alcoolismo, às drogas (duras e leves) pensando, assim, que se amarfanha a dor, mas os efeitos são mais nocivos do que curativos e o resultado de tudo é a destruição do pensamento. Ora, o que importa não é destruir o pensamento, mas sim dar-lhe uma nova direcção, ou afastá-lo do infortúnio que o perturba.
Seja como for, nunca há teoria geral que revele como se encontra um espaço mental tranquilo no momento fatal, não há ideia que explique como se suporta a desgraça quando ela chega, de rompante ou de "pantufas". A morte é mesmo uma grande filha da p...
E como tal só haverá uma escapatória possível de lhe diminuir os efeitos e limitar os estragos: cultivar interesses diversos que nos inspirem associações de ideias e emoções diferentes das que tornam a desgraça dificil de suportar. Em rigor, todas as nossas afeições e gostos estão à mercê do acidente, do risco, da ameaça e da morte, limite de tudo, a escuridão. Ou talvez não!!
Mas enquanto não encontramos explicação para o "talvez não" (QUE DURA HÁ MILHARES DE ANOS..), talvez não fosse má ideia cultivar esses outros interesses dentro da nossa cabeça para, assim, limitar as desgraças da nossa vida à iminência do acidente ou duma morte, sempre indesejada.
Hoje, amanhã e sempre uma pedra de luz chamada Diogo (juntamente com o Pai dele) irá tentar encontrar essa Estrela que partiu para o céu e que amanhã, certamente, terá lugar cativo numa varanda no Estoril donde poderá ser avistada a cada noite, a cada hora, a cada minuto e a cada segundo.
Com a ajuda preciosa do Diogo essa tarefa será realizada, e não tenho dúvida nenhuma que o Pai dele segui-lo-á atenta e minuciosamente na trajectória que essa Estrela irá tomar - que me parece configurar-se em círculos concêntricos sobre aqueles atentos olhares e corações.
No fundo, será uma Estrela companheira que apenas mudou de sítio e agora paira sobre todos os nossos olhares e corações.
ESTA É UMA ESTRELA DIFERENTE: É UMA ESTRELA VERDE...
PS: Estas "miseráveis" notas sobre a precária existência da vida são dedicadas a um Amigo que partiu, I.S.C., ao Vitor e ao Diogo, mestre de tudo e de todos e sobre quem recai agora a responsabilidade de regar a Estrela e de a visar a cada noite, a cada hora, a cada minuto, a cada segundo, a cada instante, a cada...