segunda-feira

Os lares de Terceira Idade no III milénio

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A 4ª IDADE DANÇA AO SOM DE JAMIROQUAI EM 2040: COSMIC GIRL E VIRTUAL INSANITY EMPRESTAM O MOTE SONORO...
UM EXERCÍCIO INTELECTUAL PROSPECTIVO DE NATUREZA FALÍVEL. MAS A VIDA TAMBÉM É UM ERRO...
O que serão os lares de Terceira Idade daqui por 20-30 anos? Esta é a pergunta que tentarei responder nesta simples reflexão, em boa parte induzida por reflexão anterior e também por sugestão da amiga "Hemy" que também valora o assunto numa perspectiva de médio e longo prazo. E a médio e longo prazos, como diria o economista John M. Keynes, estaremos todos mortos. Se não estivermos, a outra certeza é que cá andaremos a pagar impostos ao Estado que os esbulha legalmente, o que não deixa de ser estranho.
Mas logo que equacionei que ideia ou conceito assumiriam os lares de Terceira Idade (TI) em 2030/40, lembrei-me do argumento do filme Voando sobre um ninho de cucos - majistralmente interpretado por Jack Nicholson. Um bem disposto ladrão de segunda que é internado num hospital mental do Estado, e com um estado de espírito rebelde contagioso vai rapidamente desestabilizar a rotina da sua enfermaria.
Daí ter equacionado esta reflexão: como serão os lares de TI nas pessoas da minha geração. Lares que mais se parecerão com autenticas discotecas ambulantes, com Dj´s pirados, velhos malucos e enfermeiras ainda mais loucas. Tudo num ambiente polar e algo esquizofrénico em que os utentes descobrem que, afinal, estar dentro do lar é mais seguro que ficar em casa dos filhos que também já não os querem ter ou os rejeitaram de forma desprezível, denotando o que o capitalismo neoliberal lhes fez ao longo da vida.
Mas isto será - previsivelmente - assim porquê? Bem sabemos como são desastrosas as relações pessoais hoje em dia. Relações rápidas, fogosas, hiper-interesseiras, de desgaste intensivo animadas por um amor gasoso sem projecto nem consistência. O seu prazo de validade é curto a avaliar pela esperança média de vida dos casamentos - que redundam em divórcios, muitos deles litigiosos e que já vêm de segundas e terceiras vidas, todas elas maradas.
É natural que estes trajectos pessoais e familiares destruam a identidade das pessoas, as mesmas que depois se convertem em "lixo humano", uma espécie de fast food com um refugado que passa a ser cozinhado 30 anos depois nos tais novos lares de TI - e que só podem atingir um elevado poder de explosão social. E o problema é que tudo isto, também mercê da evolução da medicina e das profilaxias, irá rebentar nos novos lares daqui por 20/30 anos.
Os lares exctasy, cheios de pedrada e animados por novos conceitos de modernidade social - em que por o companheiro ideal não existir a traição, a sacanagem, a vingança, a fúria interpessoal marcará a tónica do dia nesses novos (velhos) espaços societais que configurarão uma versão mais virulenta do filme Voando sobre um ninho de cucos - quando os actores descobrem que, afinal, a vida lá fora oferece mais riscos e ameaças do que dentro do hospital psiquiátrico.
Ou seja, antevejo que a vida nesses novos lares seja uma perdição diária, uma vivência altamente incerta, precária, assustadora em certos casos - com os idosos a consumirem drogas emergentes e a dar cabo das instalações, deixando o pessoal da enfermaria e da segurança social - e o restante que apoia nessas infra-estruturas sociais - à beira dum ataque de nervos. Porque os ritmos de exigência serão mais intensos, a longevidade dos novos idosos será maior em 2030/40 - e ou todos alinham com todos nessa nova fúria colectiva, ou acabará tudo à pancaada com os comprimidos Viagra a voarem pelos ares dos jardins desses novos espaços de acolhimento que, na altura, terão certamente um novo conceito de arquitectura. E alguns continuaram a ser construídos dentro das cidades, como os aeroportos, assim serão mais caros e barulhentos, para ajudar à loucura geral que se pretende..
Porque essas pessoas vieram de casamentos fragmentados, levaram experiências de vida estilhaçadas, muitos deles não tiveram um emprego certo e viveram até aos 40 anos em casa dos pais - e por eles eram controlados a dar a queca nos seus quartos visto que eram surpreendidos pelos progenitores nessas idades, alguns tiveram problemas de consumo de drogas e de alcoolismo - o quadro global dos relacionamentos torna-se, portanto, frágil e o sacrifício, amor, carinho e compreensão que era suposto ter-se pelo parceiro da relação é completamente posto de lado em nome dum narcisismo feroz.
De modo que a vida nos lares de TI daqui por uns anos será, em nosso entender, uma autêntica selva, um desgoverno na cidade e na província cujos berros se ouvirão nos céus, porque as contradições (interpessoais, então amplificadas) serão mais gritantes, ainda que a dor esteja diluída em pequenas doses de indiferença suavizada por speeds que na altura a indústria farmacêutica - que sempre soube ganhar dinheiro à custa dos otários - irá colocar no mercado em quantidades industriais prometendo o paraíso na terra.
Como consequência deste quadro previsível de fragilidade social iremos ter - dentro do lares de TI - tantos relacionamentos como os que tivemos no passado, alguns ainda mais virulentos e estéreis, os telemóveis (na altura mais pequenos, leves mas também mais cortantes) continuarão a voar sobre algumas cabeças, outros acertarão na testa dos visados. Tudo num ambiente em que nenhum dos parceiros fará concessões ao outro, o amor também já é uma palavra vã - porque demasiado tarde para acontecer - um projecto desanimador porque os corpos também já não respondem com o fulgor de outros tempos.
Consequências de toda esta falência humana? Potenciação do egoísmo, do narcisismo, maior amargura entre as pessoas, maior sensação de futilidade social, intensificação do risco, da ameaça e do medo, virtualização geral das relações - mesmo quando as pessoas se tocam físicamente. Isto para além, como constato na qualidade de observador social atento, de um aumento da homosexualidade - especialmente entre as mulheres - emboram o façam de forma não declarada porque sabem ser uma prática ainda socialmente rejeitada.
Últimamente, tenho registado isso em pequenas mas densas doses de "desvio social" (este termo deverá ser relativizado ante o novo quadro de modernidade social, ao qual eu não adiro, mas respeito) que terá como efeito, objectivamente, uma diminuição da apetência para a natalidade. E o mais grave aqui é que essa (crescente) homosexualidade feminina (seja no meio urbano seja nas cidades de província e do interior mais profundo) não deriva duma soi-disant presdisposição genética para tal, mas decorre duma frustração acumulada de casamentos que as faz pensar que o problema reside mesmo no homem, sendo que a escapatória culmina numa fufice desenfreada e num jogo de esquemas múltiplo a que recorrem sob a capa de aparência de normalidade. E assim vão vivendo, enganando os pais e a comunidade/sociedade, pensando que iludem (alguns) amigos, enganando-se também a elas próprias. Pobres criaturas... deste novo experimentalismo social de laboratório de vão-de-escada.
Será tudo isto, em meu entender, que balizará o quadro de relações dos velhos que o serão daqui por 20/30 anos, sendo certo que as suas histórias contadas aos seus netos serão povoadas de narrativas desastradas, de pormenores de sobrevivência, de indicações de marginalidade e de marginalização, em suma, de uma mega-narrativa capaz de deixar doente qualquer netinho que à soleira da porta ouça aquelas passagens dos seus avós loucos que viveram a geração da globalização infeliz passada no final do séc. XX e transitada para o III milénio - balizado pelo tal lixo humano, pelo dinheiro, pelas pessoas vistas como meras mercadorias - comprometendo com isto o futuro do próprio Homem e da Humanidade.
Sem nos apercebermos, pelo modelo de relacionamento social que estamos cabotinamente a cultivar entre nós, estamos já - hoje - a contribuir de forma determinante para esse descalabro social. E 2030/40 fica já alí, ao virar da esquina.
Porque hoje a fisiologia das percepções e do Tempo que passa, a natureza veloz das tecnologias e o estilo de vida obriga-nos a viver mais depressa, e isso faz com que também "o tempo perca o esplendor e o ritmo cadenciado doutros tempos" e se afigure hoje como um Ferrari decadente que nos leva para a porta do cemitério bem mais depressa.
PS: Esta reflexão é dedicada à geração dos homens e das mulheres que nos anos 2030/40 serão os novos velhos de Portugal. Os mesmos que irão "partir" os lares de 4ª Idade nesse tempo: um tempo novo, mas mais sofrível.
PS1: Quanto à música que então se ouvirá creio que será muito Jamiroquai: Cosmic girl e virtual insanity. Aqui as colocaremos logo que seja possível.

Jamiroquai, Cosmic Girl

Jamiroquai - Virtual Insanity MV