Crimes silenciosos numa praia perto de si...
Um dos objectivos do crim(inoso) é esconder a mão que o praticou, assim confunde as autoridades policiais e o seu autor (material e moral) vê também aumentada a sua chance de escapar impune ao braço da lei e ser mais um criminoso à solta por aí.. São os crimes silenciosos, hoje cada vez mais frequentes, tal deve-se à perícia dos criminosos, que se especializaram nessa arte da dissimulação, e, por outro lado, à incapacidade - não obstante a vantagem da tecnologia - das forças de investigação policiais em descobrir pistas plausíveis em tempo útil capazes de introduzir relacionalidade e racionalidade na teia que precede o crime e, desse modo, proceder à sua reconstituição como se estivessemos a assistir ao crime em directo de pantufas no sofá de nossas casas.
Como português era isto que eu desejaria ver realizado por parte da Polícia Judiciária. Não apenas no caso Madeleine mas a todos - sublinho a todos - os demais casos com perfil idêntico ou derivado que têm ocorrido em Portugal e fragmentado inúmeras famílias, de que o caso Rui Pedro é um paradigma invertido do funcionamento, capacidade e filosofia da PJ, por muito que ela se tenha actualizado e modernizado desde o caso do desaparecimento do Rui, hoje com 20 anos.
Paralelamente, hoje os noticiários usam e abusam dessas matérias, exploram todos os ângulos, fazem reportagens verdadeiramente gratuitas em relação ao essencial, mostrando que a sua acção, afinal, ainda é pior do que a da Polícia Judiciária em certos aspectos, mas nem tudo é mau. Para mau já nos basta a própria realidade e aquilo que os homens fazem dela. Mas adiante...
No tráfico de droga, tal como no de crianças, não existe bem uma vítima imediata e objectiva, ou seja, existe uma troika de actores que alimenta a engrenagem do drama: 1) o traficante; 2) o consumidor (da droga ou o pedófilo, tratando-se de abusador de crianças); 3) e o outro energúmeno que é o chamado agente de controlo social - que disciplina a desgraça.
Entre os dois primeiros a dinâmica releva mais da ordem da transação económica do que do confronto psicológico, pois vêem a droga ou a criança apenas como uma mercadoria e dela querem tirar o maior lucro possível no espaço de tempo mais curto.
Como nas redes de relações empresariais ou políticas complexas, também aqui - na zona do crime - as redes funcionam assimetricamente, mas cada personagem é uma peça que serve as outras no jogo global, dá réplica e oculta as outras, visa neutralizar ameaças das autoridades, dissuadir leituras alternativas, como agora estão fazendo os pais de Madeleine - ao oporem-se determinantemente à opção da morte, como que denunciando um mal estar visível (e nervosismo que não augura nada de bom!!!) em toda a sua linguagem gestual que, por sua vez, tende a ocultar um conjunto de detalhes verdadeiramente comprometedor - que até Artur Varatojo ou Alfred Hitchcok - onde quer que estejam, desconfiariam.
Em suma: se eu fosse investigador criminal ou tivesse responsabilidades nessa investigação centrarme-ia nos papás da menina e nos amigos dos papás da menina (e até nos pacientes ingleses dos papás da menina, dado tratar-se de um casal de médicos), pois destas influências entrecruzadas poderia resultar uma dialéctica que determinaria um desenvolvimento previsivelmente surpreendente que nos levaria ao estimado desfecho desta tragédia, mesmo que o corpo da menina nunca mais aparecesse nesta teia de crimes (já não silenciosos).
A situação afigura-se-me de tal forma bizarra que não posso concluir esta miserável reflexão criminológica senão desta forma igualmente absurda: desde que vi um porco andar de bicicleta já acredito em tudo... O common sense do Zé Povinho acaba por ter (sempre) razão... PS: Já agora se algum criminoso (pedófilo ou doutra espécie intragável, como de resto são todos os criminosos) estiver a ler isto não se esqueça de que mais cedo ou mais tarde será agarrado nas malhas do destino, mas até lá seja homem pelo menos uma vez na vida e informe as autoridades do paradeiro dos muitos - Rui Pedro - que esse bando já raptou para satisfação de taras. Dedicamos esta pequena reflexão à memória de Artur Varatojo e a todos aqueles que viram nele um exemplo a seguir.
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