terça-feira

Balancete do Jumento neste Verão de 2007. Uma fonte de informação para a historiografia post-contemporânea

Ponto prévio: será o Jumento um blog verdadeiramente anónimo?! É claro que não é, já que muitos agentes na alta administração, na política e na sociedade mais esclarecida sabem quem é o seu autor, desde ministros mais letrados e infoincluídos (que são poucos, infelizmente, apesar do tão badalado Plano Tecnológico que avança como os comboios a carvão da Revol. Industrial do séc. XIX), a boa parte dos directores-gerais, subdirectores-gerais e o mais que conta, decide e risca no sistema de decisão na esfera pública.
E mesmo atacando racional e construtivamente essas políticas públicas o Jumento não tem sido objecto de processos ou críticas ferozes, pergunto-me porquê... A nossa hipótese de resposta é simples: além de presumir que o seu autor não tem vontade ou ambição de ultrapassar o seu estatuto de anónimo, procura fazer um jornalismo político e de ideias sólido, sério, vigoroso e hiper-criativo - entrando mesmo na esfera da criatogénese de que, por exemplo, aquela sua rúbrica a mentira do Jumento - constitui um bom exemplo. Contando uma história que não aconteceu mas que poderia ter acontecido, com aqueles actores e naqueles lugares. Mostrando-nos, assim, o outro lado da realidade que aguarda vez, como diria Vergílio Ferreira.
Dito isto, como diria o Marcelo ("dito isto, dito isto, dito isto" - dantes era a fórmula: "é assim"), que balanço nós aqui fazemos daquele que é indiscutivelmente o melhor blog de análise social, política e económica em Portugal? Ainda por cima com variantes culturais e artísticas verdadeiramente excepcionais, e sérias porque cita sempre as fontes dando, assim, oportunidade aos outros de "beberem" na origem da informação. E isto é relevante porque nem todos os blogs são transparentes e sérios na citação de tais fontes. Infelizmente, o meio académico está cheio de vigaristas que não respeitam essas regras básicas e simples da produção de ideias. Mas adiante...
E o balanço é tão simples quanto objectivo: o Jumento já despachou dois directores-gerais, o último dos quais com o apoio da Opus Dei, do BCP e de muito boa gente. Gente influente, entenda-se...
Neste quadro psico-político pergunto-me se o autor do Jumento teria a perder ou a ganhar em "sair da cavalariça" e revelar ao mundo a sua verdadeira identidade?!
Provavelmente, teria mais a ganhar do que a perder, mas creio que pela persistência "do animal" ele preferirá assim, até porque os "burros" - aqueles mais talentosos, naturalmente, são animais de cativeiro altamente persistentes, orgulhosos que vão desgastando os outros pela sua calma e preserverança, pois até de férias asseguram a manutenção do jornal diário, se bem que em doses moderadas.
Em suma: o balanço que aqui fazemos desta importante experiência intelectual, política e (já) histórica (dada a regularidade, intensidade e actualidade da edição diária que assegura e cobrindo um vasto leque de assuntos, problemáticas e interesses) é, além de manter uma teia de conexões relevante na sociedade portuguesa, o Jumento integra já uma fonte preciosa para a historiografia contemporânea.
Amanhã quem quiser perceber a dinâmica dos fenómenos sociais com peso político nesta última meia dúzia de anos, encontrará na melhor blogosfera nacional a fonte e o diamante mais precioso que reflecte a luz daqueles que buscam na informação, na análise e na reflexão um sentido para vida e uma explicação - ainda que subjectiva e precária - do miserável mundo em que vivemos.
Miserável mas também virtuoso, pois um dos desafios da vida, não obstante os problemas que ela coloca, é sermos capazes de, a cada momento, integrarmos o campo das soluções para esses mesmos problemas e não apagar fogos com gasolina de avião - cujos aparelhos agora acidentam-se mais no solo do que no ar, o que também é uma novidade com um passivo terrível...
O mundo, como diria o outro, está perigoso.