Cidade de Lisboa no 1º quartel do séc. XXI
Creio que uma das principais preocupações para gerir as cidades actualmente, sobretudo em contexto de grande aperto financeiro pela crise estrutural que afecta a Europa e Portugal em especial, é o de visualizar as cidades como centros de produção para as indústrias de informação de ponta da nossa era e, ao mesmo tempo, recuperar a infraestrutura de actividades, de empresas e postos de trabalho necessários ao funcionamento da economia corporativa moderna. Isto implica assegurar uma característica do nosso tempo de globalização competitiva: a hipermobilidade das pessoas, da produção, da especialização e da globalidade dos processos produtivos e do nível dos quadros superiores que, certamente, queremos atrair e manter para Lisboa. Só assim se construirá uma economia dinâmica, e aqui pode e deve-se "copiar" muito do que Oeiras fez no decurso dos últimos 16 anos. Ora, em inúmeros aspectos Lisboa ainda é ferro e ferrugem num jogo de batentes do séc. XIX evocando a Revolução Indústrial (um séc. antes), ainda é Administração do Porto de Lisboa (APL) que tem atravancado a modernização e o desenvolvimento saudável da zona ribeirinha e a sua ligação ao resto da cidade. António Costa a partir de 15 de Julho terá de meter esta situação na ordem e corrigir aquela situação que só lesa o desenvolvimento sustentável da cidade e da sua ligação aos outros espaços que reclamam mais e melhor interacção. Onde pretendo chegar? Lisboa tem de ser uma cidade global, que vive da economia global e uma e outra - por estarem inextricavelmente ligadas - devem recriar uma nova geografia de centralidade queimando, nesse processo, as vagas de marginalidade que ainda povoam a Capital e nos interpelam a consciência sempre que passamos por um homeless e nada fazemos ou viramos a cara ao lado. Quando António Costa no seu programa defende o saneamento financeiro da autarquia, reformar a máquina administrativa municipal, simplificar procedimentos para facilitar a vida aos munícipes, resolver as trapalhadas herdadas de Carmona e do psd-interferente de MMendes, relançar o Plano Director Municipal (PDM) a fim de preparar Lisboa para 2020, devolver rigor à gestão urbanística e atrair novos investidores..., tal significa, salvo melhor opinião, que António Costa além de ter um projecto tem também a vontade de o concretizar, com ou sem governo (de preferência - COM - ). Isto não significa ligar as grandes geografias de centralidade ao comércio e à finança global - como sucede com Nova York, Londres, Tóquio, Paris, Zurique, Frankfurt, Amsterdão, LA, Hong Kong ou Sidney. Isto significa somente que Lisboa, à sua escala e dimensão, pode ser ao mesmo tempo um centro económico onde se fazem investimentos, ser um grande mercado financeiro, um pólo de prestação de serviços e também um sítio de lazer, solidário ("matando" as periferias e integrando as pessoas mais pobres e desfavorecidas - que vão entrando naquela economia regional cada vez mais globalizada). Oxalá a cidade portuária reconheça que tem um elefante branco entre mãos que não sabe potenciar, sendo que essa zona portuária da cidade - com os resultados do estudo que o governo encomendou a Ernâni Lopes - muitas actividades ligadas ao cluster do mar podem constituir verdadeira iniciativa de investimento que não dinamiza apenas a região de Lisboa mas Portugal no seu conjunto. Para tal urge desterritorializar o Porto de Lisboa para o voltar territorializar, ou seja, colocá-lo no centro do investimento e do lazer de todos os lisboetas, coisa que lamentavelmente não tem sucedido. E aqui, confesso, estou curioso para conhecer a estratégia de António Costa quando em 15 de Julho perceber que é isso mesmo que terá de fazer. Mas não sem resistências...
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