quarta-feira

Lisboa, uma cidade maravilhosa. Um ovo urbano que tem de dar à luz

Não raro dou comigo a pensar que se fosse um ET de Marte que tivesse aterrado ontem em Lisboa o que pensaria dos vários candidatos e partidos hoje em competição por Lisboa. Comecemos, pois, pelo fim da linha e admitindo que lia os programas e via o background de cada um num ápice:

Telmo Correia esforça-se por não se parecer com PPortas, tem discurso e dialéctica arrumadas mas não tem projecto, visão ou experiência política em gestão de cidades;

R.de Carvalho faz lembrar o velho electricista da festa do Avante, julga-se dono dos votos das pessoas, julga que o PCP é que é bom no poder local, julga-se o amigo mais próximo e defensor dos pobres excluídos mas, na realidade, mistura o plano nacional com o projecto para a cidade. De modo que quando Ruben fala mais não é do que a voz do Jerónimo a fazer câmara de eco para tentar atingir Sócrates - que, para todos os efeitos, jamais terá o papel que MMendes teve ao teleguiar Carmona nestes últimos e lamentáveis dois anos de gestão lisboeta.

Fernando "Pretão" é um recurso de entre mais quatro recursos: seara, Ferreira leite e mais não sei quem. O desespero de MMendes atirou para alí, mas poderia ser ele próprio o candidato, e hoje Negrão faz os possíveis e impossíveis para ombrear com A. Costa - quando, na verdade, o seu maior calcanhar de Aquiles é Carmona - que lhe disputa o mesmo espaço sociológico e, porventura, até terá mais mandatos de veradores do que Negrão.

Depois, ou melhor, primeiro, temos António Costa cujas características são as seguintes: tem experiência política, é competente, consegue federar sensibilidades diferentes, articula com o governo, tem objectivos bem fixados em ordem a que, de 2009 em diante, implemente um verdadeiro projecto de modernização para Lisboa, e, ainda por cima, tem revelado uma humildade rara em política. De modo que não restam grandes dúvidas aos lisboetas. Neste role esquecia-me de H. Roseta - que ontem disse desejar trabalhar com "todos", portanto também com A. Costa - ainda que lhe custe admitir publicamente. Porque se o fizer lá se vai o seu orgulho (besta, como dizem os brasileiros). Lá se vai o seu balão de oxigénio...

Mas como ET que alegadamente sou pergunto-me que "ovo urbano" é hoje Lisboa, cuja casca é difícil de furar. Ou seja, Lisboa hoje é uma cidade acanhada, tímida, com mais riscos do que oportunidades, sem iniciativa e tolhida pelos miseráveis interesses partidários que este PsD dos negócios a votou: corrupção, nepotismo, gestão perdulária com dezenas de assessores que não sabem ler, apenas foram cola-cartazes da equipa do António Preto+Lípari e conexos protegidos pelo MMendes e injectados na autarquia a esse propósito, licenças de construção (ou ausência delas) ilegais, violação de regras de direito administrativo que até levou o Tribunal Administrativo a pedir a destittuição de Carmona, etc, etc. Os problemas BragaParques, a obra na Infanto Santo e muitos outros são conhecidos dos lisboetas e dos portugueses, pena é a Justiça ser o que é em Portugal: laxista, lenta e incompetente, e por vezes temerata. Enfim, um espelho do que Lisboa também se tornou.

Mas será isto que verdadeiramente é visto pelos milhares de lisboetas que andam todos os dias de autocarro? Ou no comboio, ou passam nos cafés, nos corredores e nas artérias da cidade? O que verão eles? O mesmo que este marciano, ou verão coisa diferente nesta cidade de "estranhos familiares"?!

Por outro lado, quando se procura equacionar por que razão algumas pessoas permanecem totalmente afastadas das outras, será por lhes faltar aptidões de comunicação e para o convívio, mas a verdade é que devido à diversidade desses estranhos próximos Lisboa - especialmente pela mão de António Costa, que é quem reúne melhores condições pessoais e políticas, possa ser um "amigo potencial" do outro e da cidade e, desse modo, contribuir para o bem geral da polis que hoje queremos ordenar e construir.

Ou seja, urge que Lisboa e os lisboetas se reconciliem com a cidade e consigo próprios. Como? Furando a tal casca do ovo urbano em que Lisboa se tornou nestes últimos anos, e que hoje é preciso contrariar essa tendência expandindo as suas relações empresariais, étnicas e até no plano internacional e lusófono onde temos responsabilidades históricas unidos por uma língua e história comuns.

Esta poderá ser a teoria geral duma presidência de A.Costa - unir Lisboa e, ao mesmo tempo, fazer dela um pólo aglutinador em que as oportunidades sejam superiores aos riscos, o mérito (das equipas e dos projectos) se sobreponha ao cunhismo e ao oportunismo partidário vigente nestes últimos anos, e as forças positivas da cidade (e da denominada sociedade civil - que alguns confundem com construção civil e "pato-bravaismo") superem as forças constrangedoras que têm bloqueado Lisboa, mormente em matéria de urbanismo (pelos alegados casos de corrupção e de parte em negócio conhecidos e que estão em segredo de justiça) e também pela "ditadura" do Porto de Lisboa que tem aprisionado a Capital a um vazio que a tem submergido e que urge corrigir.

Neste momento, e sob as actuais circunstâncias políticas, António Costa é o agente político melhor colocado para desenvolver um plano (intercalar) para Lisboa, sendo certo que os grandes projectos de modernização virão após 2009.

O futuro a Deus pertence, mesmo para os agnósticos..- que sempre vão dizendo ..: se Ele existir sempre vamos melhor acompanhados. É também o que eu digo relativamente a António Costa.