quinta-feira

A amizade (em política)

O Aristóteles foi das pessoas que melhor equacionou a questão da amizade e das várias formas que ela assume entre pessoas diferentes, que não são iguais: entre um rico e um pobre, entre uma pessoa culta e uma pessoa inculta, entre um adulto e uma criança, entre um quadro superior e um "almeida" da autarquia de Lisboa, que só hoje caíu formalmente. Estava a ver que era necessário ocorrer um outro terramoto e mandarmos vir um novo Marquês de Pombal, ou então ajudar aquele que existe a descer cá a baixo para resolver o problema. Contudo, a tendência é verificar que aquelas desigualdades tornam as amizades impossíveis, porque muitas desigualdades deixam de ser superáveis se os amigos colocarem parênteses. Mas o ponto é este, aquele que tem uma superioridade e um poder qualquer deve pô-los ao serviço do amigo. O outro, pelo contrário, não os deve utilizar, se possível não lhes sentir a sua necessidade como também notou um mestre menor, Alberoni. Então a amizade é possível porque não se fundamenta na desigualdade nem na necessidade, mas sobre aquilo que cada um dos amigos é para si próprio.
Por vezes penso que é por os eleitorados compreenderem tão bem isto que votam nuns primeiro, e noutros depois. No fundo, no domínio dos grandes agregados e da vida macro-societária não podemos pensar como ao nível micro-societário (aqui as coisas já são o que são..). Talvez seja por isso que todos nós conheçamos muitos políticos mas nenhum deles será, porventura, nosso amigo.