A Liberdade, Boris Vian e a fatalidade do Ser. O fim é sempre trágico ainda que a vida seja doce
Hoje um amigo referiu-se a uma sensação de Liberdade que, lido do outro lado do espelho numa escadaria infinita, representa uma sensação de aprisionamento, qual morte adiada, em vários tempos, racionalizada em várias camadas de angústia, destrutor de tudo e de nada neste tempo que às vezes (não) passa. Esta percepção de Liberdade, enjaulada em 4 paredes, misto de dor e sperança envolta numa morte adiada, fez-me lembrar a autobiografia do próprio Boris Vian. Centro-me apenas na forma como o próprio descreveu o seu nascimento e depois na descrição que outros fizeram da circunstância que rodeou a sua morte: Nasci por acaso a 10 de Março de 1920, à porta de uma maternidade fechada por uma greve com ocupação. Grávida das obras de Paul Claudel (desde aí é que o não gramo), a minha mãe já ia no 13.º mês e não podia esperar mais pela Concordata. [...] Em força de juízo cresci, mas sempre feio apesar de enfeitado com um sistema piloso descontínuo, embora muito farto. No que respeita à cara, era igual à da Vitória de Samotrácia. De repente, porém, a minha fisionomia transformou-se e comecei a parecer-me com o Boris Vian. Daí o meu nome.Vamos agora à circunstância da sua morte:"Eu não queria morrer..." Mas Boris Vian morre a 23 de Junho de 1959, quando assiste à projecção privada de J´irai Cracher su Vos Tombes, adap. cinematográfica da novela de V. Sullivan que ele detesta...No dia do enterro há uma greve que paralisa o pessoal das agências funerárias. O seu caixão tem de ser transportado pelos amigos.
As Formigas; by Boris Vian, O Imaginário vol. 7, Assírio & Alvim, Lisboa, 1985
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