Deus quê...
Quando se pergunta para onde foi ou vai Deus ficamos atafulhados de dúvidas, parecemos uma criança crescida com mentalidade de recém-nascido pensando naquilo que desconhecemos em absoluto, senão em crença e muita, muita fezada. Daí a razão só funcionar de forma mui segmentada, apenas serve para dizermos: não sei, não se sabe, não se entende. Esse também é o mistério da vida, e não é agora uma criança, milhões delas, que vai (ou vão) desvendar esse mistério que irá, certamente, connosco para a cova 7 palmos abaixo da terra. Se tivermos algum dinheiro ficamos no camarote do jazigo, entre osgas, baratas e teias de aranha num silêncio absoluto próprio da paz dos cemitérios. O diálogo com Deus é assim: desigual, injusto, intrépido, lixadamente monologado banhado por toneladas de espera.
Um Deus que respondesse aqui e agora - desarmar-nos-ia, pois há milhares de anos que nos habituámos a falar com Ele sem o ver, se agora nos deparássemos com Ele - de carne e osso e vox modelar à Barry White - seria um Deus tarado, um Deus sensação que até às crianças assustaria.
Somos nós que damos sentido a Deus, e não Ele a nós. 5% do nosso cérebro tende a crer que algo existe e paira por aí, acima das nossas razões; os 90% remanescentes é uma brutal realidade que nos faz crer que Deus está no trabalho diário, na poluição, nas refeições, nas pedras da calçada, no vento que sopra nas folhas das árvores, nos encontros e recontros da vida e o mais de rotinas que a vida tem. E os outros 5% ficaram esquecidos na cesta das esmolas dos milagres. Se ela, a esmola, for grande, talvez Deus apareça (isto é uma heresia); se a esmola for magra - pura e simplesmente - riscam-nos o carro.
Se calhar, o melhor mesmo é apanhar o táxi... Ironias aparte: só o homem dá sentido a Deus; se o homem não tivesse existido no acaso em que existiu, Deus seria um idiota a brincar com a criação. Deus também deixará de ter sentido quando morremos. De modo que morremos sem saber nada. Morremos envoltos no mistério. E é (também) este mistérioque acaba por nos matar em vida. Talvez por isso alguns de nós sejam uns mortos-vivos... PC
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