sexta-feira

António Vitorino avalia o terrorismo

AQUI TÃO PERTO! (link)
António Vitorino
jurista
A prender a dominar os medos e os fantasmas faz parte integrante do processo de crescimento. As sociedades seguem também processos de aprendizagem que são um misto de controlo das psicoses colectivas e de prevenção de ameaças.
No século XX aprendemos a esconjurar o medo do holocausto nuclear, segundo o princípio da destruição recíproca global que constituía um forte factor de dissuasão. Era o "equilíbrio do terror", como alguns lhe chamaram!
As ameaças com que estamos, hoje, confrontados são de natureza diversa e a aprendizagem das formas de as esconjurar apresenta-se como menos evidente.
O terrorismo suicidário aparece no topo da lista e a sua contenção prefigura-se como particularmente difícil e complexa. No essencial, nas sociedades abertas em que queremos continuar a viver, sabemos que a prevenção constitui o principal instrumento de luta contra a ameaça terrorista mas, ao mesmo tempo, porque sabemos também que a motivação dos agressores tem um fundamento que, no nosso senso colectivo, se afigura como irracional, a "previsão dos movimentos do inimigo", que constitui peça essencial dessa prevenção, sai vulnerabilizada e até profundamente enfraquecida.
Contudo, a estratégia do terror indiscriminado, se usa meios de uma irracionalidade sanguinária, apresenta-se como muito racional na definição da sua mensagem política, na utilização dos meios de comunicação modernos como instrumentos propulsores da própria ameaça e na criteriosa definição dos alvos tendo em vista a repercussão pretendida.
Os estudiosos do fenómeno terrorista têm evidenciado os traços dominantes da retórica da Al-Qaeda e suas finalidades quer junto das opiniões públicas ocidentais quer sobretudo junto da denominada "rua árabe", bem como a mestria na utilização das modernas tecnologias de informação e comunicação, desde as grande cadeias de televisão globais até à Internet. Já na escolha dos alvos, tem-se sublinhado a preferência por atingir interesses e pessoas dos países ocidentais, com especial destaque para os norte-americanos e europeus, mesmo quando esses atentados ocorrem fora dos EUA ou da Europa.
Ora, nas duas últimas semanas, os atentados terroristas que golpearam Marrocos e a Argélia vêm lançar uma nova luz na escolha dos alvos. Os atentados perpetrados colocam directamente populações muçulmanas como vítimas da acção terrorista, revelam um interesse muito particular na desestabilização do Magrebe e ocorrem em dois países onde estão em curso reformas de abertura democrática (Marrocos) ou processos de reconciliação nacional (Argélia), tendentes a criar as condições para que o Islão político não enfeudado à lógica terrorista possa integrar-se no sistema político das respectivas sociedades.
É verdade que assimilar os atentados nos dois países pode ser perigoso e até enganador. A sofisticação e a precisão dos atentados na Argélia filia-se no conflito civil que dilacera aquele país desde que, no início da década de 90, a Frente Islâmica de Salvação Nacional foi impedida, pelos militares, de obter uma vitória eleitoral, enquanto os atentados em Marrocos ocorrem no quadro de uma ofensiva das forças policiais contra células terroristas identificadas há bastante tempo. No caso argelino os terroristas reivindicam-se de uma ligação directa à Al-Qaeda enquanto tal conexão, em Marrocos, é menos evidente.
Mas o forte traço de identidade entre ambos os casos resulta, sobretudo, do enorme risco de segurança que representaria, para a Europa em especial e para o mundo ocidental em geral, um Magrebe alinhado com o fundamentalismo islâmico e do efeito de contágio que tal radicalização produziria junto das importantes comunidades desses países presentes em vários países europeus.
A alternativa consiste em aprofundar a integração do Islão político num quadro de referência democrático e pacífico. Esse o objectivo que pode e deve ser apoiado prioritariamente pela futura presidência portuguesa da União Europeia, tanto em relação aos países do Magrebe como quanto em relação ao Médio Oriente.
Obs: O sublinhado é nosso. Mais uma peça de sociologia do conflito ou de polemologia que António Vitorino nos deixa e que merece reflexão atenta. Tanto mais que o Ocidente chegou à vitória final graças ao mercado, à economia, à sua tecnologia - mas, paradoxalmente, é essa mesma globalização (mercado+tecnologia+economia) que se torna no principal alvo daquele radicalismo bombista que acaba por ser o método de fazer política para aquelas células terroristas mais ou menos obedientes à Al Qaeda. Seja como for, agora a coisa fia mais fino, porque - como refere o título do artigo de AV - AQUI TÃO PERTO - diz tudo.
Acresce que até no plano psicológico as pessoas procuram no fundamentalismo a segurança contra a ausência de referências, e como esse mesmo fundamentalismo não dispõe de formas de condução competitiva para desencadear essa compita com o Ocidente "taco-a-taco" - só lhes resta recorrer ao terrorismo para destruir a modernidade que, afinal, eles queriam para eles próprios desde que realizada à sua maneira e sem a influência do Ocidente.
Se pensarmos bem nas motivações desta política de terrorismo selectivo que se está a aproximar das nossas portas verificamos que esse islão fanático não dispõe de risco, de factores de competição nem de factores de dominação ou de capitalização sobre o Ocidente. Não mandam no dinheiro nem nas taxas de juro, o petróleo que têm está "arabizado", logo sob influência directa norte-americana, não têm tecnologia - (importam quase tudo), não são empresarialmente empreendedores/competitivos no mrcado global. O que mais lhes resta senão a política da bomba e a exportação da violência e do terrorismo em rede, cada vez mais desterritorializado/globalizado pelo Rizoma!?
O problema é agora o cerco aperta-se, por isso dizemos, talvez até um pouco egoísticamente: Aqui tão perto...