Tributo a Jean Baudrillard
O simulacro nunca é o que oculta a verdade
- é a verdade que oculta que não existe.
O Simulacro é verdadeiro.
O Eclesiastes
Lembram-se da fábula de Luís Borges em que os cartógrafos do Império desenham um mapa tão detalhado que acaba por cobrir exactamente o território do Império..., que acabou por apodrecer como uma carcaça velha enterrada no solo, de certo modo como o duplo acaba por confundir-se com o real ao envelhecer. Esta fábula tem apenas o discreto encanto dos simulacros. Hoje que Baudrillard morreu - eu não acredito que ele morreu - sinto-me enganado no meu próprio juízo acerca da existência, no meu próprio mapa, no meu duplo, no meu espelho, nos meus miseráveis conceitos. Quero dizer: a minha simulação de um homem que morreu não é a simulação de um homem, de um referencial. É antes a geração de modelos de conhecimento de um real sem origem na realidade, mas na cabeça pensante de Jean Baudrillard que morreu hoje. Baudrillard, sem o querer, converteu-se na sua própria hiper-realidade, parece que quis engendrar mais vida mas enganou-se e acabou por morrer. Quero crer que a morte é o pior dos simulacros. A morte é um mapa comum a todos nós, um dia chegará de mansinho, ele precede o mapa e também já não liga ao território - cujos fragmentos apodrecem aqui e alí sobre a extensão do mapa. Um mapa povoado de vestígios, dos nossos desertos que já não integram nenhum Império. O Império agora é o nosso próprio deserto, a nossa própria morte...Tenho para mim que em Jean Baudrillard os seus simulacros eram mais reais do que a própria realidade. No jogo do imaginário com a representação, por vezes acabamos por morrer sem saber em que tabuleiro pisamos. A vida é f*****. Parece que a morte também. Que descanse em pax.
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