quinta-feira

Primavera - por David Mourão-Ferreira -

Primavera
Poema: David Mourão-Ferreira
Todo o amor que nos prendera
Como se fora de cera

Se quebrava e desfazia

Ai funesta Primavera

Quem me dera, quem nos dera Ter morrido nesse dia

Ai funesta Primavera

Quem me dera, quem nos dera

Ter morrido nesse dia

E condenaram-me a tanto

Viver comigo meu pranto

Viver, viver e sem ti

Vivendo sem no entanto

Eu me esquecer desse encanto
Que nesse dia perdi

Vivendo sem no entanto

Eu me esquecer desse encanto

Que nesse dia perdi

Pão duro da solidão

É somente o que nos dão

O que nos dão a comer

Que importa que o coração Diga que sim ou que não Se continua a viver

Todo o amor que nos prendera

Se quebrara e desfizera

Em pavor se convertia

Ninguém fale em Primavera

Quem me dera, quem nos dera

Ter morrido nesse dia

Ninguém fale em Primavera

Quem me dera, quem nos dera

Ter morrido nesse dia
PS: Dedicado à memória e à genialidade poética de David Mourão-Ferreira que, certamente, conquistou o céu e, dentro dele, o Paraíso.