segunda-feira

As ilusões cúmplices do Sr. Delgado a Santana Lopes

Jornalista 1. A alternância entre o PS e o PSD, que tem mais de 30 anos, poderá estar à beira do fim e, se isso acontecer, não há mal para o "mundo". Outros países, com partidos mais fortes e consolidados, viram as suas bases desaparecer, e nada impedirá que o mesmo aconteça em Portugal, onde os partidos tradicionais, pelo menos os que têm vocação de poder, ainda vivem e fazem política como se o País e os portugueses não tivessem mudado nos últimos dez ou 15 anos.
As lideranças alternam entre si, não deixam espaço para grandes rupturas, e essa imobilidade tenderá a "matar" a renovação interna nos partidos.
Isso explica, naturalmente, o desejo e a vontade que se nota no centro-direita de ressurgimento de novas formações políticas. São essenciais e marcam o desejo inato nacional de renovar um sistema partidário que nada tem de imutável.
Muita da credibilidade da política em Portugal passa, também, pela coragem de se criar novos partidos políticos, ou reformar profundamente os existentes. As duas vias são aceitáveis.
2. Por outro lado, é preciso acabar com o tabu nacional de que outras formações políticas não têm espaço no espectro nacional. Quem disse isso?
Tal como em qualquer outro sector da vida nacional, o espaço existe desde que seja credivelmente conquistado.
É uma luta titânica, feita a pulso, mas que tem a vantagem de poder começar sem vícios, nem bloqueios, e muito menos com grupinhos. Algumas tentativas na direita e no centro falharam, no nosso país, mas outros eram os protagonistas e diferente era o tempo.
A situação está a ficar madura para que a paisagem política se alargue para além dos tradicionais partidos fundadores da democracia, sem que isso seja trágico ou impossível de conceber.
Se o desencanto existe, e aumenta, alguma coisa está mal. E pode não ter a ver com os que já existem, e dominam a nossa vida, mas tão simplesmente com o desejo, crescente, de que novas realidades se apresentem a um eleitorado cansado de ver sempre os mesmos, a dizer as mesmas coisas, ao mesmo tempo.
3. Finalmente, os pessimistas dirão que em Portugal tudo acabará como o PRD, ou o Partido dos Reformados, ou à imagem da escassa existência do partido de Manuel Monteiro. Será? Há uma diferença fundamental: o tempo e os protagonistas. Ninguém espera por um D. Sebastião cheio de exigências e lições de moral, mas apenas por políticos com provas dadas, pragmáticos, que conhecem as aspirações nacionais e já viveram o melhor e o pior de máquinas partidárias envelhecidas, onde o mérito não é aconselhável.
Refazer um partido ou criar um novo é um desafio excepcional, no nosso quadro político, com uma curta margem para erros, mas é assim, e nessas circunstâncias adversas, que se afirmam líderes fortes e com futuro. De facilidades está o País farto.
Obs: É admirável o esforço intelectual feito por Luís delgado para agradar e ajudar a dupla Paulo e Santana a criarem novos partidos ou a refundarem os que existem. No entanto, aquele seu esforço padece de alguns vícios. A saber:
1. Delgado esquece-se que Lopes e Portas só foram um ministro e o outro Primeiro-Ministro (pasme-se!!!) devido a disfuncionalidades graves no sistema político originadas por um excesso de ambição de Durão Barroso, doutro modo nem Santana teria passado pela vergonha que passou, envergonhando também o País; nem Portas teria chegado a ministro, mantendo-se como líder do partido do táxi. Delgado falha o alvo;
2. Por outro lado, são, com efeito, as lideranças do PS e do PSD quem disputa o centrão, apesar de actualmente o psd não existir, logo a oposição ao PS terá de vir do seu próprio seio, a fim de manter a pressão reformista modernizadora do País de que a iniciativa política Novas Fronteiras é um instrumento; mas também vemos oposição em Louçã no Parlamento, especialmente em matéria económica e financeira;
3. Gostaríamos de perguntar ao Sr. Delgado que é tão objectivo e imparcial como eu sei falar chinês ou percebo de lagares de azeite, se ele considera renovação de quadros, elites, etc, o seu amiguinho Santana Lopes - que o cunhou para a PT como administrador de qualquer coisa.. É claro que o sr. Delgado, como pessoa grata que é, agradece a Santana. Mas, sinceramente, custa-me a crer que esse seu patrono ou padrinho seja um exemplo de competência, rigor ou sequer de dinamismo com capacidade reformista para liderar um partido, quanto mais um País. No País vimos bem a figura triste e deprimente que Lopes fez no Palácio da Ajuda... Mas isto deve ter passado ao lado das loucas lentes do sr. Luís Delgado.
4. De facto, nem tudo pode ir morrer à praia como o partido de Ramalho eanes, o PRD, mas será bem mais fácil santana seguir essa trajectória decadente - "amanhã" dentro do psd ou mesmo arrastando-se à frente doutro grupúsculo partidário (emergente?!), enquanto, à contrário, o Bloco de Esquerda pode ver o seu score eleitoral crescer mais 3 ou 5 pontos percentuais aos que já tem. Hoje, ontem, no passado recente tivemos bem a noção do que é o cds, um partido pequeno mas com muitos hooligans, como dizia hoje António Vitorino no seu Notas Soltas.
5. Por último, queríamos dizer daqui ao sr. Delgado, cujos artigos nos habituámos a filtrar porque, em regra, trazem água no bico, para ele não se deprimir, apesar de andar sempre longe da realidade, porque em breve ainda verá Santana LOpes a fazer figuras bem mais tristes do que aquelas que fez na sua investidura para PM - ao estilo monárquico e a toque de Lexotan à procura dos papéis e sem a mínima preparação (sectorial ou global) para a governação. Com um bocado de sorte ainda veremos Delgado nas listas ou nos órgãos desses partidos - a criar - de que ele hoje aqui fez a apologia.
Contudo, uma questão, por demasiado intrigante, me assalta o espírito - e que está plasmada na última linha do seu irrealista texto: a que líderes de futuro ele, Delgado, se estará a referir??? A lógica política não é bem a lógica empresarial, apesar de sabermos que alguns figurantes da política à portuguesa que andam por aí a arrastar as pernas, procurem empresarializar a política a seu contento...
Ou me engano muito ou Delgado fez este artigo partindo dum tremendo erro de perspectiva, ou então... Temos de o ler sempre com muito cuidado, porque trás sempre água no bico. Sempre!!! Infelizmente, as páginas do DN já mereciam contar com prestações analíticas mais interessantes e menos comprometidas - de tão previsíveis que são...