terça-feira

A desvalorização da intelligence

Mesmo que não o admitam, a pequena intelligence lusa, vê-se hoje na necessidade de tomar Prozac para fazer face à ausência declarada de inimigo visível. Aquilo que ao tempo da Guerra Fria funcionava como catalizador comum contra quem o bloco Ocidental se agrupava, caíu em desgraça desde a queda do Muro em 89, e o que vemos, da política aos media, é um argumentário mediático sem fundamentação teórica, epistemológica, falho de fundamentos, intelectualmente pobre, transformando desejos, preconceitos e ajustes de contas politico-partidários em realidades certas que devem ser agendadas nas revistas e jornais de papel. A dona Ana Gomes representa hoje este paradigma invertido que um dia ainda fará explodir uma bomba no CCB ou no C.C. Colombo... Ora, é óbvio que este tipo de políticos, este tipo de jornalistas, este modelo de empresários que dava cobertura abroad a agentes infiltrados é, hoje, um anacronismo. Mas infelizmente é ele, ainda que modestamente, que funciona como sucedâneo do mundo soviético concentracionário, o mundo dos planos quinquenais, da fixação dos preços por via administrativa e da governação dos assuntos de Estado através do KGB. É evidente que o mundo mudou, hoje é a superpotência norte-americana feita República Imperial - como lhe chamou Raymond Aron - que comanda atabalhoadamente os destinos do mundo, mas cá dentro, dentro do vidro das democracias, pululam pequenos mamecos que olham para história como quem vê quadros na Gulbenkian em passada de ganso. É óbvio que esta gente, que no lugar dos olhos tem vidros bassos e no lugar do cérebro tem farelos, só pode interpretar o (seu) mundinho misturando alhos com bugalhos, segurança com vedetismo, protagonismo com discrição, pressão com savoir-faire. Por vezes, os principais inimigos da democracia, que não passa dum ventre mole, estão dentro dela. É como dormir com o inimigo. O que é lamentável...