Alberto João Jardim: o grande escriba
Este artigo esteve para se titular o Condicionamento intelectual, por analogia ao condicionamento industrial ao tempo do velho ditador, mas ficou assim: Alberto, o grande escriba. Vejamos a notícias para depois tecer alguns comentários.
Jardim justifica apoios ao “Jornal da Madeira” (link)
Atribuição de quase cinco milhões de euros suscitou dúvidas ao Tribunal de Contas
"Os apoios ao “Jornal da Madeira” são para manter o pluralismo na comunicação social, justificou o presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, reagindo ao relatório do Tribunal de Contas intitulado "Fluxos Financeiros entre a Administração Pública Regional e entidades de comunicação social". O relatório, noticiado hoje pelo “Público”, afirma que o Governo Regional concedeu, em 2005, mais de 4,6 milhões de euros ao “Jornal da Madeira” sob a forma de suprimentos e compra de publicidade.
O montante representa quase 75 por cento do total de apoios concedidos naquele ano pela administração pública regional a órgãos de comunicação social, escreve o jornal com base no relatório.
O “Jornal da Madeira” é detido maioritariamente pelo executivo regional apesar do estatuto editorial ser da diocese do Funchal. Alberto João Jardim assina uma página de opinião, quase diariamente.
"Luta contra o sistema imposto".
"O Jornal da Madeira é, hoje, uma guerra de regime, não alinha pelo pensamento único e pela falta de pluralismo que está vigente em Portugal", reagiu Alberto João Jardim.
Para o governante madeirense, "Portugal é, hoje, uma democracia de opereta em que não há pluralismo ideológico, nem pluralismo na comunicação social" e, por isso, considera o "Jornal da Madeira [como] um marco dessa luta".
"Custe o que custar [o Jornal da Madeira] tem de ser mantido para continuar a desenvolver uma luta contra o sistema imposto", acrescentou. (...)
Obs: Há muitos, muitos anos que a generalidade das pessoas com dois dedos de testa não levam este pequeno ditadordisfarçado de democrata a sério: no plano formal, onde age e reage como um pequeno ditador regional que manda na região como quem dispõe do quintal para necessidades fisiológicas, e no plano substancial - dado que dispõe de verbas públicas, como ora escandalosamente se vê, para subsidiar amigos, amigalhaços, acólitos, aliados de circunstância, apoios permanentes, e é aqui que se inscreve o apoio desproporcional de quase 5 milhões de euros ao pasquim do Jornal da ilha onde aquele parece escrever todos os dias. Isto até numa ditadura seria uma vergonha profundamente censurável. Numa democracia é execrável, denuncia bem o modus operandi de Al berto , que se justifica com o combate ao pensamento único do "contnente" e, quiça, com a circunstância de nenhuma direcção de jornal diário ou semanário - o convidar a fazer uma perninha. Resta-lhe o Diabo que ninguém lê, apesar de já ter tido no passado, ao tempo de Vera Lagoa, algum prestígio. Hoje, é um resíduo, uma não existência jornalística.
E como ninguém convida Alberto joão ele convida-se a si próprio injectando 5 milhões de euros dos dinheiros públicos, de todos e de cada um dos portugueses, para subsidiar os jornalistas amigos no jornal onde o dito Alberto também escreve todos os dias. Até porque ele não governa, escreve, e como tem uma necessidade de escrever diáriamente, porque até já foi jornalista, só lhe resta injectar dinheiro no jornal onde trabalha. É, assim mal comparado, como se se convidasse a si próprio para escrever no jornal que financia e, indirectamente, acaba por dirigir. Isto é a vergonha das vergonhas, inaceitável em qualquer democracia pluralista. É o pior do modelo do Leste ao tempo da Guerra Fria que tanto criticou...
Confesso que comungo de algumas críticas segundo as quais a imprensa lusa não é das mais pluralistas nem das melhores ou melhor informada ou criativa, por todo o lado vemos os mesmos velhos do Restelo, as mesmas trocas de favores, os mesmos fretes, etc. Mas isto não desculpa ou absolve Jardim, que agora no seu backyard faz ainda pior. A cair numa situação que redunda, de facto, numa manipulação informativa e opinativa lesiva da liberdade de opinião na Região e matando cerce a liberdade de oportunidades e da afirmação do direito à diferença. O PS, O BE e outros partidos da oposição serão cilindrados pelos amigos de campo de Alberto, que assim silenciam vozes diferentes na interpretação dos interesses dos madeirenses. Na prática, o apoio que Alberto dá ao seu jornal é equivalente ao lápis azul e à censura do velho Botas. É aqui que emerge a democracia ditaturial à la Alberto, um estudo de caso para as humanidades e as ciências políticas em especial.
É óbvio que 80% da ilha cala-se, acabrunha-se porque está comprometida, não respira, não tem liberdade nem autonomia de pensar o que quer que seja. Todos, directa ou indirectamente, lhe devem um emprego para o filho, para a mulher, para o sobrinho, para o avô, a avó, o gato, o papagaio, o piriquito. Todos lhe devem favores, isto denota bem a natureza daquela democracia regional. Estão todos de mãos e pés atados e de adesivos colados na boca. É uma sociedade doente aquela que foi alí criada, coabitando com muito betão, muita rede viária, muito hotel que só serve o turismo estrangeiro, não os desejos nem as bolsas das gentes locais.
Esta pressão inaceitável assume ainda outros contornos que só podem emanar duma personalidade histriónica e borderline. É que o "ditador regional" não se preocupa com os indivíduos, nem com os problemas de A, B ou C, a sua atenção dirige-se mais as alavancas que determinam a acção dos indivíduos, ou seja, através dos media locais para assim influenciar a sociedade, a economia e a política locais. Mas a que custo é isto feito???
Assim Alberto exerce descaradamente, como ele assume, aliás, uma pressão constante nas percepções das pessoas, nas suas acções e interesses da colectividade. Este poder coercivo sobre as pessoas que não se revêm neste escabroso financiamento, deveria ser imediatamente impedido por qualquer via legal da República à ilha da Madeira.
Alberto, com esta medida de duvidosa constitucionalidade, afirma-se como um chefe de uma tribo que mobiliza os seus recursos e estratégias para silenciar vozes discordantes, e assim reinar sem contestação no seu doce quintal. Por um lado, reforça laços de subserviência (já com 30 anos) - dando ainda pior fama à classe dos "jornalistas vendidos" (como se diz na região), por outro cava uma maior linha de fractura entre os madeirenses - que nem o podem ver. Apercebi-me disso na Universidade, quando um colega madeirensse, amante de futebol e bom benfiquista (que daqui cumprimento), começava a espumar pela boca só de ouvir falar do nome - Alberto J.Jardim. Agora talvez perceba melhor as razões fisiológicas daqueles "espumanso", como fazem os cavalos.
Por último, e não conhecendo nenhum daqueles soit-disant jornalistas - que dependem financeiramente dos empregos que Alberto arranja para os amigalhaços, devo dizer que me surpreende deveras que aquela classe não tome uma posição de reserva e de autonomia relativamente a esta total subserviência da informação ao poder político local. Em rigor, aquilo que distingue uma democracia pluralista é a existência duma imprensa livre do poder político e dos grupos económicos, mas com esta medida de força comete-se um erro crasso que empurra os jornalistas locais - mesmo aqueles que são sérios e honestos - para um beco sem saída, visto que, doravante, a possibilidade de se cometerem excessos diparou exponencialmente.
A regra da prudência do jornalista fica assim ferida ferida de morte, e o respeito pela independência, pela imparcialidade, pela isenção e pelo interesse público passam a ser uma grande ilusão. Confesso que quando vi Alberto hoje aparecer na caixa negra (a que tiro sempre o som para não poluir o jantar) pensei que ele estivesse a debitar balelas sobre o aborto, sobre o suicídio político, sobre a vontade de enforcar Sócrates e Teixeira dos Santos duma só penada ou até sobre as suas novas funções de presidente do sindicato dos jornalistas da Madeira enfeudados no pasquim onde escreve.
De todas estas possibilidades constato agora que acertei na última. Até dá vontade de dar os parabéns a Alberto, cada vez mais se parece com o ex-ministro da Informação de Saddam, sendo que doravante a desinformação e os limites da informação passam a representar um vector essencial na sua acção política e na sua intensa propaganda - a que Sócrates terá de alguma maneira saber responder.
PS: já agora quem é que lê Alberto no jornal onde escreve.. Temo bem que além do redactor que lhe deve rever os erros e de mais dúzia de amigos, mais ninguém o lê. Basta ouvi-lo...
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