terça-feira

A internet: ritmos de mudança, padrões de relacionamento e busca de felicidade

Pela natureza das coisas a Net está sempre na agenda do saber-fazer dos portugueses: seja para fazer trabalhos na escola, comunicar entre os amigos, partilha de dados, consulta de sites informativos e/ou formativos - tudo isso representa já um capital-simbólico e fáctico indispensável no dia-a-dia dos portugueses. É óbvio que aqui colocam-se ameaças e perigos, que vão desde a pedofilia, ao roubo de dados, violência psicológica mediante apresentação de imagens chocantes, insultos, difamações, etc. No fundo, um espelho na vida real, que encontramos na sociedade de carne e osso. Mas o lado das vantagens da Net, se utilizada em segurança e com prudência na partilha dos dados, é francamente positivo.
Aliás a linha telefónica gratuita agora criada - (ver post infra) - é uma ideia interessante para limitar danos e assim que houver suspeitas pelo utilizador são logo comunicadas às autoridades, mas primeiro este projecto terá de ser aprovado pela União Europeia, para no 2º semestre deste ano já estar disponível e a funcionar.
É óbvio que nesta imensa Rede podemos encontrar pessoas que não interessam, muitas delas com problemas de desequilíbrio psicológico e emocional consideráveis que até se tornam obsessivos, enviando mails, contando a sua vida pessoal e familiar a terceiros - que nunca viram, e que depois pedem algo em troca: atenção, respostas, disponibilidade, conselhos, etc. Mas quando essas interacções simbólicas não se fazem de acordo com as expectativas de uma das partes geram-se malentendidos e até conflitos que devem ser evitados.
E é aqui que reside a novidade desta nossa sociedade virtual, rizomática em que as coisas só se tornam reais depois de serem virtuais, uma mudança considerável relativamente ao padrão de relação social da sociedade industrial. Aqui os níveis de comunicação eram relativamente estáticos, dado que se limitavam à satisfação das necessidades habituais. Com o "capital-linkismo", com o turbo-capitalismo a inovação torna-se constante e os meios tecnológicos de produção e de comunicção tendem a acompanhar esse processo.
Isto significa que nem sempre os utilizadores conseguem coordenar o ritmo de desenvolvimento tecnológico dos dispositvos com um padrão de relação social sustentável que evite clivagens ou fracturas na sociedade e entre gerações. Mais uma vez os jovens de hoje conhecem desafios diferentes dos nossos ou do dos nossos pais, em que as tecnologias eram diferentes e os ritmos de comunicação menos fluídos, o que não significa necessáriamente que agora as pessoas sejam mais felizes.
Com isto procuro significar o seguinte: o impacto da C & T é hoje enorme no modo como vivemos, ele é até determinado por factores económicos, embora não se limite a essa esfera. Já que os seus efeitos influenciam directamente a nossas percepções, maneiras de ver o mundo, construir as imagens da sociedade e da política, enfim, ajudam-nos a criar as metáforas-guia que nos orientam pela vida fora. Para o melhor e para o pior, fazendo amigos mas também encontrando pessoas com personalidade fora do molde, como diria Umberto Eco - reportando-se ao Ornitorrinco.
Mas se estes são os riscos que temos de pagar por usufruir duma tecnologia desta natureza, que é uma galáxia em permanente expansão, então direi que vale bem a pena encontrarmos algumas pessoas desequilibradas pelo caminho que, em rigor, são uns infelizes e apenas precisam de atenção, amor e carinho. É claro que aqui não incluo os piratas informáticos, o "amor e carinho" desses é bem diferente e remete-nos mais para as suas práticas fraudulentas e de roubo de dados pessoais para esbulhar dinheiro de contas bancárias de pessoas singulares e de empresas ou cometer outro tipo de crimes.
Esta é, apesar de tudo, uma viagem nova: pela dimensão e escala (planetária), pela velocidade que o transporte da informação assume (que viaja à cadência da luz), e em que tudo nos transcende ficando pouco espaço para a reflexão, pelo inesperado com que nos deparamos nesse trajecto virtual-real e por um sem número de coisas ainda de dificil apuramento, porque tudo ainda está em gestação.
O que poderei testemunhar, com a minha modesta experiência de dois anos de blogger, é que o Rizoma - deste novo gengibre relacional - dá-nos uma tremenda oportunidade de comunicação global, a tal ponto de ser através da Net que passamos a estruturar o nosso mundo, a conceber as nossas percepções, a afinar as metáforas que nos guiam nas opiniões, nas teorias, na formulação de conhecimento que, a par com a tv, a rádio e a imprensa - torna toda esta galáxia numa poderosa ferramenta de informação, comunicação e análise globais.
Com mais vantagens do que nó-górdios, sendo certo que estamos a falar também da tecnologia que revolucionou a maneira como trabalhamos, pensamos, produzimos e distribuimos o que produzimos. Afinal, toda esta galáxia é de extrema importância porque ela se reporta à forma como concebemos o mundo à nossa volta, e até já os conceitos de vida e de morte sofrem reinterpretações consoante a forma e a importância que depositamos na utilização desta mega-tecnologia.
Ela é já o caminho... O caminho da felicidade provável no melhor dos mundos possível.
  • PS: Dedicamos esta reflexão a todos os utilizadores da Net, mormente áqueles que dela têm feito um mau uso. Aqui terão uma oportunidade de conversão e de reflexão e de entrar em paz consigo próprios.
Afinal, não se pode ser sacana toda a vida...