domingo

Breve balanço do referendo ao Aborto em Portugal

Breves notas ao referendo ao Aborto:
1. Os resultados do referendo ao Aborto, não obstante a ainda enorme percentagem da abstenção, não nos surpreendem: cerca de 60% (ou mais) pelo Sim e 40% pelo Não. Uma maioria expressiva para o lado do Sim, revelando que a sociedade portuguesa mudou muito desde o último referendo em 1998.
2. António Vitorino resumiu bem a questão. Os portugueses votaram como votaram para mudar duas coisas: a) alterar a lei penal para evitar meter mulheres na cadeia por causa duma gravidez indesejada: b) para combater o aborto clandestino e a perseguição às mulheres, como fazia a Igreja aqui há uns séculos relativamente aos judeus e a outras minorias.
3. Também gostei muito de ver o douto Marcelo revelo de Sousa a repetir num espaço de tempo inferior a 20 segundos o seguinte: "como dizia o dr. António Vitorino, como dizia o António Vitorino e como dizia o António Vitorino". Coitado do Marcelo, nunca passou de secretário de Estado, ao invés de António Vitorino que além de ministro teve a Europa rendida a seus pés pelo mérito e pela competência evidenciadas no domínio dos dossiers europeus, e não por cunhas de g.w. Bush e de Blair - formalizada na Cimeira dos Azores - que fez de durão o actual mordomo da Europa, para desgraça de todos nós. Marcelo esteve mal nos vídeos que encomendou no YouTube e na rtp paga com o nosso dinheiro onde fez uma campanha medíocre pelo Não heterodoxo que ninguém sabe o que é. Se Marcelo pensou ver Belém de binóculos com essa sua campanha egocêntrica terá de se conformar com os factos, que apontam para se limitar a ver Belém por um canudo. Restam-lhes as aulas e pregação domingueira que os mais cultos e sagazes desmontam em dois, além daqueles que nem sequer já têm paciência para o ver e ouvir.
4. Esteve bem António Vitorino quando, do lado da vitória do Sim evocou a necessidade de criar um clima inclusivo e não comparar este referendo com o anterior, o que só abre clivagens entre os portugueses. Marcelo esteve mal também no plano partidário, porque sendo do PSD ele, mesmo não o querendo, acabou por vincular o partido e arrastá-lo para esta desgraça eleitoral, atafolhando ainda mais o paupérrimo MMendes - que hoje é visto como o manipulador de Carmona na autarquia de Lisboa, a quem pede diáriamente cunhas para meter os seus amigos pessoais em cargos directa ou indirectamente ligados à Câmara Municipal de Lisboa.
5. Marcelo propôs a criação dum Observatório pelo Não - a fim de que estes movimentos não percam a face e, assim, fingirem que vão acompanhando medidas de apoio à natalidade e à família em Portugal. Vim a saber, minutos depois, noutro canal, que antes de Marcelo já uma senhora cujo nome não fixei foi a verdadeira autora/promotora dessa ideia de criação dum Observatório. Pobre Marcelo, além de se revelar um beato empedernido também se revelou um pequeno plagiador de ideias e projectos que, verdadeiramente, foram concebidos e pensados por outras pessoas. Quer ele vir a ser PR... Só se for no séc. XXV...
Destas breves asserções decorrem algumas evidências:
  • O aborto deixa de tratar as mulheres com o fantasma da Justiça e da cadeia para passar a ser feito com base no apoio do Estado oferecendo este melhores condições de saúde e outras valências médicamente assistidas;
  • A maturidade da sociedade civil foi uma realidade incontornável e não um jogo de meras intenções;
  • A democracia vinculou o Parlamento a mandar a lei vigente às urtigas e a regulamentar os pressupostos da nova lei - mais amiga da mulher;
  • Os católicos e, de certo modo a Igreja, estão de parabéns, porque a maioria dos portugueses - sendo católicos - votaram pelo SIM, o que deve frustrar a chaminé fumante que é o D. José Policarpo - que há dias deu uma entrevista na rtp cheia de lugares comuns e, ao mesmo tempo, cínica e hipócrita.

Em face do exposto, que não é surpresa para o Macro, devo dizer que a vitória das vitórias seria, doravante, e com estes folgados resultados, que ocorressem duas coisas em paralelo na sociedade portuguesa: 1) que o número de abortos diminuisse substancialmente; 2) que a economia crescesse a 2 ou a 3% por cento ao ano, gerando assim mais riqueza, mais investimento, mais emprego e mais rendimentos e consumo privado (sustentável).

Estes dois efeitos combinados teriam como consequência imediata um nível de desenvolvimento sustentável que há muito Portugal deseja, e, por sinal, um aumento da nossa taxa de natalidade de forma a inverter a pirâmide etária hoje cada vez mais idosa na composição da população em Portugal.

Confesso que fiquei satisfeito com estes resultados, embora saiba que o desafio pelo crescimento, pela modernidade e pelo desenvolvimento sustentável só agora arrancam, sem Marcelo...

  • PS: O Macroscópio dedica esta modesta reflexão a todas as mulheres portugueses, às que já tiveram de fazer um aborto, sabe Deus em que condições e sob que clima e tensão psicológicas, mas também aquelas que nunca o tendo meditem nas melhores formas de o prevenir sem, contudo, pensar como o "outro": só se deve ter relações sexuais para procriar...
    Com esta falsa moralidade da padralhada em Portugal podemos todos nós muito bem. Muitos deles saem do seminário cheio de defeitos e depois acabam nas sacristias das igrejas acusados de pedófilos por pais de crianças abusadas. Infelizmente, este pernicioso caldo de cultura - já denunciado pelo Eça no séc. XIX, não acontece só em Portugal...