domingo

O hermafrodita em contexto de globalização competitiva

Hoje é dia de acção. Uma acção que conduz a um voto em consciência. Mas o tema desta breve reflexão é sobre a economia da globalização e o impacto social que ela tem em nós. Por regra, dizemos que quando algo corre mal em Portugal a culpada é a meretriz da globalização: é a deslocalização das multinacionais de risco, o consequente desemprego, a precarização dos laços laborais, a comparabilidade das competitividades das economias nacionais, etc. Tudo serve para chegarmos à nefasta conclusão de que somos piores em tudo, até na natalidade, estamos na cada-da-cauda da Europa, e qualquer dia somos um isco-colonial mais apetecível para os chinos que já telecomandam o continente africano de influência tradicional lusa, para nosso despeito e frustração. Como se a história se repetisse, mas agora em contra-ciclo, só por vendetta dos deuses do Oriente e do Império do Meio...
Enfim, um novo neoimperialismo está em curso, provém do Oriente e não trás armas de fogo, mas mão-de-obra baratucha e ausência de direitos sociais, além da fraca qualidade de tudo quanto é produzido e/ou montado na China. Deve ter sido neste caldo de cultura geo-económica que Manel Pinho colheu as suas influências teóricas, morais e políticas que hoje ditam os seus discursos disparatados. A dita meretriz da globalização - de par com Pinho é, assim, um monstro sem regra nem regulador, qual autocarro cheio de gente numa descida sem travões a caminho duma ravina...
Ela promove injustiças sociais a todos os níveis (sexo/género, religião, minorias, grupos etários) - intra e extra-muros, tudo a coberto do tal neoliberalismo reinante - que mandou às urtigas o "welfarismo" do Estado-social (ou providência). E é esta asserção dos mercados livres, que só obedecem ao tal neoliberalismo sem travões ditada na década de 90 pelo Consenso de Washington, que hoje potencia aquelas desigualdades sociais, que tendo como preocupação a produtividade e a competitividade das economias levam os homens e as mulheres deste País (e da Europa em geral) - a recear terem filhos neste ambiente de chuva ácida em que nos movemos.
De certa forma, hoje, quando votarmos tomaremos também isso em linha de conta, e diremos, como Clinton - It's de economy stupid!!! É que apesar de hoje sermos todos filhos desse neoliberalismo desenfreado dos "mercados livres" esse monstro sem regra, paradoxalmente, parece que nos esterilizou a todos com as consequências que isso tem na economia e na natalidade em Portugal e na Europa. O que faz de nós pessoas mais idosas quando comparados com a composição etária das pessoas noutras regiões do mundo, e isto paga-se caro na economia e na cosmovisão com que passamos a ler o mundo.
Ainda viramos hermafroditas...
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O movimento unipessoal [in Jumento, fragmento da Semanada]

Neste referendo foi criada uma nova fórmula de movimento político, depois dos partidos e dos movimentos de cidadãos temos o movimento unipessoal, a fórmula criada por Marcelo rebelo de Sousa. E nem precisou de apresentar assinaturas para participar e ter direito a tempo de antena, pois a estação pública dá-lhe um em prime time, empresta-lhe uma mesa, duas cadeiras e uma jornalista para decorar o cenário, e como se tudo isso não bastasse ainda lhe paga com o dinheiro dos contribuintes.