sábado

Refundação da República. A receita é: um "bom" escândalo + mediacracia

"O futebolista do Benfica Marco Ferreira, antigo jogador do FC Porto, foi dos poucos que teve a coragem de se manter ao lado da ex-companheira de Pinto da Costa. Nem todos os alegados amigos daqueles que com ela privaram ao longo de seis anos, em luxuosos jantares e outras ocasiões sempre animadas por Pinto da Costa, apagaram repentinamente Carolina Salgado da memória. A maioria fugiu, por certo mais inclinada a agradar ao presidente do FC Porto, mas houve também quem resistisse. Entre esses, especiais para Carolina, está o amigo de todas as horas, o futebolista profissional Marco Ferreira." (...)
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Notas macroscópicas

Por norma esta categoria de escandaleiras não nos interessa. Sucede, porém, que este caso está na zona de intersecção daquilo que aqui temos designado por corrupção na esfera da "futebolítica", pântano para onde convergem várias vertentes da condição humana: os políticos que querem poleiro porque vêem no "palco" dos estádios o reconhecimento das massas eleitorais para ascenderem políticamente, nem que seja para uma autarquia. Fernando seara é um sub-produto deste esquema de trampolim da futebolítica, embora não seja dos piores; os empresários também lá batem, para contratar novas empreitadas ou pagar as luvas pelos contratos em curso; os juízes, as classes liberais - médicos - a sociedade inteira que busca um reconhecimento extra - procura naquele "pote de mel" um caminho (mais facilitado) para o sucesso.

Agora as comadres zangaram-se as verdade vieram à tona, e a srª Carolina resolveu encontrar por via editorial essa vendetta à portuguesa. Meteu a boca no trombone, mesmo sabendo que a sua própria vida encerram muitas vidas já vividas - cujos aspectos a fragilizam. O que é facto, é que o Portugal-mediático, aquele que é pensado e projectado a partir das estações de tv, rádios e imprensa escrita em geral - resolveu assumir este facto como uma questão da República - dando-lhe um eco como se uns novos Descobrimentos, uma nova Expo se tratasse. É óbvio que isto sucede por duas motivações:

    • As broncas continuam a vende$$$$ em Portugal, e os portugueses (o chamado homem-médio e uniformizado que corre para o lado que o vento sopre - sem capacidade crítica, privado de fazer o seu próprio agenda-setting) "comem" tudo aquilo que lhes dão, inclusive as palavras num português-macaco ditas por um jornalista da tvi que deveria fazer primeiro a 4ª classe antes de abrir a boca. E parece que já é hábito dizer tanta calinada ao mesmo tempo;
    • Em 2º lugar, os media nacionais - no plano mental e cultural ainda estão pouco sensibilizados para questões inscritas no plano ético, moral - a escapatória é mergulhar no lodo, chafurdar no esterco que certo tipo de relações implicam, e é por isso que Portugal inteiro vegeta neste pântano.

Mas talvez o mais interessante será ver como é que evoluirá a relação dos media com a Justiça, desta com os alegados corruptos e indiciados pela prática de crimes vários em todos estes "apitos dourados" do Portugal da Bola que tem penalizado a imagem externa do país.

Sendo que o mais frustante talvez seja reconhecer que em Portugal é preciso registar uma morte (por violação) dum bebé para se cuidar das crianças, é necessário queimar pneus no meio da estrada em contexto de greve para se observarem os interesses dos agricultores, e, agora, como se constata, é preciso vir uma senhora (que tem o "passado idóneo" que tem - o que não a priva de exercer os seus direitos, note-se) para "obrigar" as instituições da justiça a funcionar e a apresentar resultados.

Aparte as questões ligadas às pulsões mais primitivas numa situação conjugal deste calibre - em que a soberba, a avareza, a luxúria, a ira, a gula, a inveja estão latentes - não deixa de ser frustrante reconhecer que o "Portugal-judiciário" - só funciona a toque-de-caixa. Neste caso uma "caixa" com esperma, suor, práticas mafiosas e muita saliva. Parece que é disto que os tugas continuam a gostar, aposto até que os jornais venderam mais papel (mas não à minha custa!!), e o aparelho de Justiça - com novos responsáveis nomeados - também já prometeram que agora é que fará Justiça. É triste constatar isto...

Este caso, (e esta será outra lição que a mediacracia instalada deverá extrair da porcaria em que nos mete, banhando Portugal de lodo), reflecte bem a natureza da relação entre ela (os media) e a sociedade, espelha bem a sua própria cosmovisão que no plano normativo (i.é, na ordem do "dever ser") nos transmite, além das sua próprias considerações ideológicas, que não deixam de reflectir, naturalmente, os seus critérios na selecção, recolha e tratamento de informação, no valor atribuído às suas imagens, aos seus alinhamentos editoriais, à hierarquia das notícias, e, por todos, ao conceito de Liberdade, Identidade e Justiça que tem nas "causas" que defende através da informação que fornece ao povo - sempre sedento por mais sangue.

Com uma mediacracia assim, não admiraria que no final deste caso as direcções da tsf, tvi, rtp, sic e conexos convidassem dona Carolina para chefiar uma delegação de informação das respectivas estações na África Negra, afinal não muito diferente do mau cheiro proveniente das Antas...a que esta nossa q. mediacracia tanto tempo de antena concede.

Diante tanta anormalidade e mediocridade institucional - especialmente pela nossa mediacracia instalada nas direcções de informação (repito) - até apetece dizer que mais vale ser p... por um dia do que rainha toda a vida.