Ler jornais ou saber? Política, história ou filosofia...
Tenho-me perguntado o que certos historiadores dirão dos políticos do nosso tempo. Dos de cá e dos de lá, que fazem as desgraças económicas e sociais desta Europa a 25, lenta que nem um caracol. Que pouco ou nada vale, espuma muito, larva outro tanto mas é pouco competitiva, solidária e oferece pouca garantia e atractibilidade aos europeus para continuarem a crer de que o Velho Continente vale a pena.
Quando se olha para a Europa vê-se um deserto, e a memória mais recente que ficou foi o legado impulsionador de Jacques Delors, em que se lançaram os grandes pilares daquilo que depois veio a ser a União Económica e Monetária hoje com um cheirinho político (e completamente falho em termos militares).Mas ao historiador, que se deve abstrair de si próprio e das ideias do seu tempo, que sinais de neutralidade mostrará?
Sabe-se que a história é o resultado de um pensamento e da sua personalidade na elaboração do conhecimento histórico. Mas quando hoje se olha para a Europa de barroso nada mais se vê senão umas declarações em francês e em inglês completamente falhas de visão e de liderança política, daí o presente morrer às mãos do passado, daí este barroso ser uma virtualidade engolido pelo legado Delors. O que se lhe sucedeu, um tal J. Santer, também foi um logro.
Afinal, o que falta ao político? Será que compete ao filósofo guiar o político, na linha de Platão? Será que os males que hoje afectam os políticos decorrem de eles apenas pensarem na sua sobrevivência política e não na arquitectura a médio e longo prazo das cidades e dos países que governam? Será que essa tal raça de filósofos puros faz falta para ensinarem os politicos a pensarem, a filosofarem?
Isto partindo do pressuposto que não se julga existirem homens de primeira e homens de segunda para governar o Estado. Ou será que há? Mas a montante desta questão - e tomando por referência a multiplicidade de imagens gratuitas que nos assaltam via tv, imagens essas sem qualquer conteúdo, gestos vazios, expressões indizíveis, actos tão simbólicos como não matar uma barata em Darfur, é essa infinidade de imagens que nos deve interpelar: não será melhor estar calado nesta ou naquela ocasião? Não será melhor não aparecer na tv nesta ou naquela ocasião? É que por vezes, como dizia L. Wittgenstein é mesmo preciso estar calado, porque essa ainda é a única forma de ser dizer presente. E relativamente aquilo que não se pode dizer, deve-se escrever, como sugeria Derrida. Portanto, temos já aqui uma receita de mestres: nuns casos não falar, noutros escrever. E noutros ainda jamais aparecer, muito menos com sacas de farinha às costas. Daí o fascínio pela política que comporta tantas variáveis humanas, técnicas e outras que se torna difícil ajuizar do melhor equilíbrio para temperar aquelas regras da comunicação. E bem sabemos como a Comunicação é hoje o núcleo da governação. E também aqui existe uma bifurcação que urge repensar:
Será preciso ler jornais, porque eles são a oração da manhã do homem moderno, conforme indicava Hegel? Ou, à contrário, devemos mandar Hegel às malvas e seguir orientação diversa, que consite em não abrir mais jornais, ouvir rádio ou tv ou sequer estar atento a qualquer outro meio de comunicação via net. A escolha aqui é tão importante quanto problemática para o homem público, para o decisor. Pois não raro ele é penalizado por ter lido A, B e C. Vai daí a escolha revela-se disjuntiva exclusiva: ou informar-se (lendo jornalada) ou procurar saber (por outros meios)? Aqui o nosso amigo Guilherme Shakespeare tenta dizer algo, embora ele soubesse o que dizer, quando e como e, segundo reza a história, nunca andou de saco de batatas às costas para vender o seu peixe, nem pendurado na monarquia ou enfeudado à igreja anglicana para ver o seu trabalho reconhecido. E neste caso o trabalho do dramaturgo foi assinalável, ao invés doutros personagens de filme de 3º escalão...
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