domingo

Querem matar a Filosofia = matemática com letras

A Filosofia para o Macroscópio é uma especie de matemática em letras...
  • Contra tudo o que é estrangeiro, podemos encontrar segurança, mas a morte faz que todos nós, homens, habitemos uma cidade sem defesa.
Epicuro
Nota prévia:
  • Matar a Filosofia (deveria ser considerado crime contra a Humanidade), é ainda acelerar mais essa vulnerabilidade que já temos, é antecipar a morte do nosso já débil pensamento sobre a estruturação do mundo digital que nos subtrai à realidade e que acaba por nos esmagar. Especialmente, num mundo que se complicou desde o fim da Guerra Fria - em que tudo se tornou mais imprevisível, contingente, errático e até trágicamente perigoso. Na vida das relações internacionais, na vida económica, na vida social e até na esfera das interrelações pessoais - hoje mais conflituantes do que noutras conjunturas sociais e económicas de maior crescimento, estabilidade e desenvolvimento.
  • De modo que entendemos que é à Filosofia que cabe a mais nobre tarefa de pensar a contemporâneidade. Não apenas para a recuperar para o domínio das Ciências Sociais donde anda arredada quase desde que nasceu, mas porque ela é, em nosso entender, a "rainha" das ciências por estar investida da história do pensamento milenar que nos ajudará a descobrir a melhor via para, a cada momento, na gestão do Estado, da sociedade e até da economia - sairmos do lodo civilizacional em que mergulhámos. E porque estamos alienados mal conseguimos pensar. Sem a Filosofia e as cosmovisões que ela nos proporciona não saímos do perímetro do nosso umbigo. Isto será fatal como o destino.
  • Sei que isto é chato para um Domingo..., dia de missa para alguns, de festança para outros. Mas tenham alguma paciência!!! Com a Filosofia não se brinca, até devemos todos, caso necessário, penhorar o ouro que temos em casa só para não a deixar (formalmente) morrer a Filosofia, como decorre da vontade atabalhoada desta ministra da Educação - que deve ser pouco versada em ideias nobres... Aliás, faço aqui notar que já há dias - numa daquelas Notas Soltas de António Vitorino, e bem - ele deixou explícito (lamentando) as linhas e a estratégia que este ministério da Educação estava a trilhar. E agora, quanto a nós, com esta decisão - verdadeiramente lamentável - de o ministério da Educação e a Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior - notificar as faculdades para que deixassem de considerar obrigatório o exame de Filosofia representa um verdadeiro atentado à massa cinzenta do país - que assim se inibe ou se asfixia. Se ela já não era muita.., então agora..
  • Na prática, as faculdades com licenciatura em Filosofia vão ficar impedidas de exigir o exame à disciplina de Filosofia como prova de acesso aos respectivos cursos. É um pouco como ir a Roma e não ver o Estado do Vaticano, mesmo com este Papa - que é demasiado inteligente mas pouco sensível. Doravante, os cursos de Direito, História e outros no domínio das Ciências Sociais - dispensam a Filosofia para efeito de ingresso na universidade. E são cerca de 357 licenciaturas no país que até agora requeriam esta prova de Filosofia - que ora desaparece.
A senhora ministra da Educação, coitada, faz o que pode. Mas sempre que a vejo lembro-me sempre da minha avó na cozinha, de lenço roxo na cabeça e sorriso largo, sempre mui rochunxudinha, quando na década de 70 fazia um excelente doce de tomate. Depois, quando íamos à caça dar cabo da Natureza - cozinhava os passarinhos fritos - hoje uma heresia (até é crime..), por isso não lhe levo a mal. Mas creio que a senhora Maria João Rodrigues poderia ser aproveitada pelo Estado noutras funções que não as que actualmente desempenha. E dizer o que ela disse também é lamentável: "as faculdades terão a liberdade para realizar provas próprias".
  • É curto e incentiva ao "assassino" (por omissão e negligência) da Filosofia que, a médio e longo prazo, implicará a existência de homens com menor capacidade crítica acerca de tudo e de nada. E para isso já os há aos magotes na Assembleia da República - em todos os quadrantes do espectro politico-partidário e até na sociedade em geral. Portanto, achamos verdadeiramente lamentável esta opção do sistema Educativo nacional, a ser verdade.
  • A Filosofia sempre me ajudou a ver um pouco mais além. Nem sempre com sucesso, é certo... Pois já contei que o doce de tomate e os passarinhos fritos cozinhados pela minha Q. avó Raquel evocam-me hoje, volvidos 30 anos, a presença e a conduta da senhora ministra da Educação, mas - caramba!!! a Filosofia jamais deverá ser o parente pobre e desprezado do sistema. A Filosofia jamais deverá ser uma espécie de doce de tomate ou de passarinhos fritos - que depois de ingeriods nunca mais ninguém pensa neles. Precisamente porque ela é intrínseca à própria actividade de existirmos, de pensarmos de termos consciência de algo - até da nossa própria triste figura diante um espelho gigantesco que é hoje a 5 de Outubro.
  • Sempre entendi que a Filosofia é uma espécie de matemática em letras, dela depende a formulação dos grandes enunciados gerais que nos habilitam a compreender os problemas, equacionar os desafios do nosso mundo, em suma, ajudam-nos a pensar - coisa que nos distingue da generalidade dos animais.
  • Por último, e porque gostava muito da minha Avó, desejaria aqui deixar uma nota mais à srª ministra da Educação: o encanto da Filosofia - que é uma ciência - (espero que assim a considere, embore duvide..) é o de encontrar uma maneira inteligente de lidar com o futuro, o desconhecido, o abismo, aquilo em que não conseguimos penetrar. Ora vendo as atitudes da ministra Maria João Rodrigues já nos convencemos que ela não é muito boa a penetrar nas questões e problemas que afectam o ensino em Portugal. Mas desancar assim na Filosofia é algo que remete Portugal para as ruas da amargura, é um facto que nos mantém afastados das principais correntes de pensamento e de modernização que fluem por esse mundo fora. É, em último caso, enfiarem-nos um garruço negro na cornadura e ordenarem-nos: vá, agora marchem sobre esta ponte estreita e em ruínas povoada por serpentes, lâminas e alcool, muito alcool...
  • Filosofar é como viver acima dos cemitérios, é viver acima do edifício da 5 de Outubro. Até porque quem tem altas (médias ou mesmo baixas) responsabilidades públicas deveria saber que é muito mais simples construir um universo do que explicar como é que um homem se aguenta sem cair, assente apenas pelos seus pés. Como diria Paul Valéry, perguntem isso a Aristóteles, a René Descartes, a Leibniz e a tantos outros, mas, pfv, não endossem esta questão à srª Maria João Rodrigues senão.... Bom senão, lá terei de ir ao tacho do doce de tomate feito pela minha Q. avozinha há 30 anos atrás..
Agora vamos ao que interessa com base no:
  • ...Parecer sobre a Extinção da Filosofia no 12º. Ano Embora o Ministério da Educação, pretenda manter a disciplina de Filosofia como disciplina obrigatória em todos os cursos no 10.º e 11.º anos, no 12º. Ano, propõe que a mesma deixe de constar entre as disciplinas opcionais. Esta proposta é claramente incompreensível, nomeadamente pelas seguintes razões: 1. A redução do campo de formação filosófica tende a contribuir para uma menor competência crítica e uma inferior formação humanística dos estudantes, facto que diversos textos do próprio Ministério da Educação são unânimes em reconhecer a sua necessidade, nomeadamente quando se afirma que: "A pressão das visões utilitárias da formação para o mercado de trabalho não poderá conduzir a uma especialização precoce dos conteúdos e do desenho curricular, em claro sacrifício da formação de base, de carácter humanista, aberta ao conhecimento, à inovação e à mudança, à diversidade cultural e à afirmação de valores de civilidade e do personalismo", In, Reforma do Ensino Secundário-Linhas Orientadoras da Revisão Curricular,21/11/2002, p.5 2. A exclusão da disciplina de Filosofia no ano terminal do Ensino Secundário vai contra recomendações internacionais, como as da UNESCO. 3. O actual programa do 12º ano tem demonstrado ser adequado à aquisição de competências indispensáveis à formação pessoal e académica" dos estudantes, nomeadamente desenvolvendo as suas capacidades interpretativas, discursivas, argumentativas e de posicionamento axiológico nas suas várias vertentes éticas, políticas ou outras. 4. Os planos curriculares dos dois primeiros anos (10º. e 11º. ano) estão elaborados como Introdução à Filosofia, segundo uma lógica que encontra a consolidação efectiva dos conteúdos no 12.º ano, quando os estudantes abordam obras integrais de diferentes épocas. Ora, a exclusão da disciplina de filosofia do 12º. Ano, não deixará de se repercutir negativamente, nomeadamente nos cursos de cientifico-hamanísticos 5. A sua extinção é também manifestamente contraditória, com a vocação dos alunos que pretendem seguir o programa na sua coerência lectiva: a) os cursos de Ciências Sócio-Económicas, Ciências Sociais e Humanas, Línguas, Literaturas e artes. É do mais elementar bom senso científico-pedagógico que a mesma seja mantida como opção nestes cursos. b) No ensino superior público a Filosofia do 12º ano cuja prova constitui disciplina obrigatória para o ingresso nos cursos de Direito das universidades de Coimbra, Minho e Nova de Lisboa e disciplina de opção nas universidades de Lisboa e Porto. c) Também é opcional nos cursos de Psicologia das universidades do Algarve, Beira Interior, Coimbra, Évora e Minho, bem como no único curso de Ciência Política, o da Universidade Técnica de Lisboa. d) Na maioria das dez licenciaturas de Filosofia existentes constitui disciplina obrigatória para o ingresso. Pergunta-se: como resolverão estas universidades este problema, sendo certo que a nova disciplina dos 10º e 11º anos não pode substituir a actual do 12º ano?. 6. Finalmente, a introdução de um exame nacional na nova disciplina no 11º ano, embora não seja despropositada, mostra contudo alguma falta de sentido face aos objectivos e pressupostos que constam nos programas já homologados. Não está também claro em que cursos serão estes exames realizados. No caso de apenas abranger uns cursos e não outros, não é igualmente apresentada nenhuma razão para esta medida. Janeiro de 2003 Carlos Fontes Navegando na Educação
  • (o sublinhado é do Macroscópio)

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Nota final:

  • Como se vê o Macroscópio não anda desatento e procura sempre que possível lutar por causas válidas, e estas são todas aquelas que valorizam e beneficiam o homem em sociedade. Nem que seja pela melhoria da qualidade do seu pensar. Nós aqui é que já não sabemos o que havemos de pensar desta ministra da Educação, e isto também coloca um micro-problema filosófico: pois nesta esfera é sempre útil dar nome àquilo que o não tem, àquilo que não é nem objectivável nem subjectivável. É pura e simplesmente amorfo, o contrário do que deve ser a Educação em qualquer País.. Afinal de contas é também essa uma das funções dos filósofos e da filsofia: nomear. Pena é que nesta hora da verdade um senhor chamado Manuel Mª Carrilho - que se diz filósofo - não se saiba bem onde está ou se está algures o que está fazendo a este propósito. Provavelmente, encontra-se numa daquelas estantes de livros, entalados na borda de alguma lombada, e como nada tem para dizer ao mundo está calado. É pena, pois isto comprova que ele só teria vontade de falar se tivesse sido o eleito para a C.M. de Lisboa. Infelizmente, foi para lá outro ainda bem pior que nem falar sabe. Mas a corrupção é muita, como se sabe, e agora transbordou da Epul..
  • Conclusão: estamos perdidos!!! Só a Filosofia nos poderá salvar...
  • Post dedicado a todos os amantes e cultores da Filosofia. A todos aqueles que entendem que a Filsofia não está abaixo da teologia ou da política, mas é um bloco de pensamento simultaneamente autónomo e ligado à polis global. E mais: com a ajuda do nosso amigo Schopenhauer (S.) - entendemos que o papel da Filosofia nestes tempos de globalização predatória e de grande compressão do tempo e do espaço é o de assumir-se como veículo da melhor e mais vigorosa literatura de denúncia das injustiças do nosso mundo, i.é, assumindo o papel de watch-dog, como diria S., única forma de o sistema filosófico se demarcar da religião, da política, assim como um cão da sua trela. Se não conseguirmos isto, então adeus liberdade..., passaremos todos a pensar junto à relva como os srs. Carrapatosos do Compromisso Portugal; i.é, passaremos mesmo a ser uns cãesinhos atrelados porque guiados pelos pensamentos dos outros - que acabam depois por apontar as principais ideias nos domínios da ciência, da cultura, da sociedade e até da política. Afinal, a Filosofia está em todo o lado, e às vezes ela tem mesmo de digerir a sua própria negação, sobretudo quando vê/ou ouve as bujardas da actual ministra da Educação. Há mesmo quem diga que a senhora tem um estômago de avestruz, já que consegue recuperar aquilo que a contradiz...

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