sexta-feira

Esquerda, direita - volver. Como evitar os enjôos...

Get It Together - by Seal... se formos para esquerda não nos esqueçamos da direita, so the people can relate...
  • Nota prévia: DIREITA-ESQUERDA - VOLVER

- Uma semana de promessas, uns dias de ameaços e nunca mais se discutia a esquerda e a direita. Pois bem: aqui poderemos ver um fragmento interessante dessa discussão que, em rigor, não é fácil de fazer. Por ser etérea, ideológicamente esvaziada, e, essencialmente, porque hoje não é uma crise económica nornal aquela que vivemos, nem em termos de indicadores, nem em termos de protagonistas. Aqueles não revelam apenas o desvio em relação à linha de equilíbrio, é também o pretexto para que continue a sua ocultação; estes - os dirigentes políticos, sindicais, empresariais também beneficiam dessa ocultação (embora hipotecando o País).

- Les uns et les autres adensam a crise económica. Mas atenção!!! A montante dessa crise económica terá de haver uma origem mais profunda que lhe seja anterior, doutro modo não se explicaria a natureza da crise - (ou quase recessão, apesar de dona Constança vir a terreiro "abrir as pernas" e fazer números de circo naquele linguajar de economês balofo transformando o Banco de Portugal no Chapitô ou no circo Mariano de Palhavã para assim segurar a cadeira das hemorróidas das finanças públicas onde habitualmente se sente) - que evolui duma situação anormal para um patamar sem controlo - ainda que digam que não, mas aqui o que conta são os comportamentos individuais das pessoas/consumidores - cujas dinâmicas cumulativas são cada vez mais insustentáveis.

- A crise portuguesa já há muito que não é uma crise política, económica ou institucional normal. Porque em todos esses subsitemas ou níveis de relações se registaram crises reprimidas, que não seguiram o seu curso normal, foram encobertas. E foi isso, precisamente, essa mentira/ocultação sistemática - por acção e por omissão - que causou o seu efeito destruidor e acumulou e ampliou os riscos e os problemas. Neste colete de forças - pensar à esquerda (mais distribuição, como alegadamente faria (O Jumento) ou pensar à direita (mais produção, como alegadamente faria o (Tomar Partido) não toca no núcleo da questão.

- Portanto, cremos que o que define esses dois espaços sociológicos é o caminho progressivo que estão fazendo para a convergência ideológica e pragmática: vide o discurso e a acção de Barroso e Sócrates - o que os distingue? Nada. Ambos querem que as coisas corram bem, porque o seu sucesso depende disso. E M. Mendes faria ele um Pacto sobre a Justiça com Socas se, porventura, este estivesse na oposição e aquele fosse PM? Talvez..., com medo das coisas se agravarem. O que está a suceder às ideologias politico-partidárias é um pouco que aconteceu à ex-URSS e aos EUA nas décadas de 60/70 - em que Daniel Bell, Raymond Aron e outros titãs do pensamento político compreenderam que a teoria da convergência estava em curso à sombra do capitalismo que tudo unifica.

- Estaremos aqui a discutir uma coisa sem conteúdo? Um nome sem designação? Um objecto oco? Direita vs esquerda..., afinal o que é que isso conta para o quadro competitivo da Europa sobre Portugal e da nossa capacidade para resistir a estratégias externas de subordinação? Então, se o potencial competitivo de Portugal diminuir, a recuperação das condições da expansão ficam limitadas, cada vez mais dependentes - não tanto já em resultado da conflitualidade interna (clássica - direita vs esquerda), mas porque, entretanto, as plataformas de decisão estratégica sobre as relações económicas (logo, de produção e de distribuição) foram deslocalizadas para outros centros que também não estão interessados em recriar uma discussão que já fez carreira na Europa há umas boas décadas atrás.

- Nestas condições novas é o próprio objecto da conflitualidade interna (esquerda vs direita) que desaparece. Assim sendo, se não houver distribuição é por não há expansão. Se não distribuem as talhadas do bolo é porque não houve condições para o confeccionar. E neste caso a conclusão é lógica: se não há esquerda também é porque não há direita - hoje em Portugal. O que há, meus amigos, são lideranças mais ou menos eficientes, estilos mais ou menos persuasivos e penteados muitos lustrosos a fazer lembrar o George Clooney à portuguesa.. E já há quem diga que isso dá um toque de direita à esquerda que nunca o foi. Sócrates até foi do PsD antes de...

- E eu continuo firmemente persuadido de que ter estas discussões à meia noite com Cláudia, Cindy, Helena e Sofia Loren (Sharon Stone e Gina Ló-ló - supletivamente) recortariam uma discussão bem mais estimulante. Estimulante porque produtiva. Produtiva porque... Bom, vocês sabem!!! Quiça, a única maneira de evitar os enjôos...

  • Vamos agora ao que interessa:
Tomar Partido - sem que isto pareça uma república de citações - discorrem sobre a temática:
Vai buscar uma citação de um tal Romano Prodi que deixou mais saudades em Itália do que em Bruxelas para atribuir à esquerda os valores que a direita pretende que ela tenha: «E não passamos daqui. A marca da esquerda continua a ser a distribuição e não a produção, o igualitarismo e não a liberdade, e pela via fiscal, visto que há que alimentar a máquina. Prodi dixit. À atenção do Palheiro.» O Tomarpartido errou, não sou nada a favor do igualitarismo pela via fiscal, e ainda que não tenha a certeza de que a produção chegue a todos e ainda menos a uma boa parte dos que produzem não estou convencido das vantagens da distribuição e não faço ideia a que maquina se refere. Aliás tenho uma visão pouco dogmática do que é ser esquerda ou direita e nem sequer vejo as opiniões ideológicas nua perspectiva religiosa, como se o meu caminho para o Céu fosse mais curto do que o da direita. Mas estou convencido de que a economia de mercado não tem nenhuma força invisível que a transforme no espelho dos modelos marginalistas, aliás, a economia portuguesa é um bom exemplo de uma economia que se alimenta e gera pobreza, quando cresce distribui pouco e quando entra em crise supera-a à custa da pobreza. Neste aspecto vou dizer uma heresia, defendo a introdução de mecanismos de concorrência para assegurar uma melhor distribuição e nesses mecanismos de concorrência está incluído o combate à evasão fiscal. A concorrência é um óptimo mecanismo de redistribuição, não levará ao igualitarismo com que não sonho, mas certamente levará à redução das assimetrias tão apreciadas por uma boa parte dos opinion makers da nossa direita.