quinta-feira

Máscaras na Baixa

Cresci ouvindo dizer: se queres ver máscaras vai à Baixa. Já lá não regressava há meses. A fase de puto era para ir aos Profírios comprar umas Jeans e umas sapatilhas John Smith; a fase do adolescente era para comprar discos/vinil; a fase de adulto era para comprar livros nos alfarrabistas e ver os ares que flúem pelas ruas e a fauna que integra a paisagem humana, sempre tão cosmopolita. Pelo menos na aparência. A fase mais madura - em que julgo encontrar-me - é para ver o Fernando Pessoa - alí sentado, sempre na mesma posição, repleto de câimbras e com o seu portfólio fechado. Como se tivesse já com o seu editorial de atenção encerrado e não aceitasse mais pedidos de autógrafos ou outras cantilenas aos transeuntes desabridos e meio hippies atrasados no tempo cerca de 20 anos - que passam no carrossel do Chiado. Muita ganza, muitos pedintes, muitos cães com sarna, muitos pseudo-artistas e muitas lojas de cor e som. A Baixa hoje fez-me lembrar esse microcosmos luminoso mas ao mesmo tempo decadente. Se Fernando Pessoa fosse hoje ao psiquiatra, estou certo que este lhe cobraria uns bons 200 euros por cada heterónimo - de entre uma assembleia deles que ele nos legou. O Pessoa foi, de facto, um homem muito plural. Tão plural que hoje nem cabe na Baixa...
  • Dedicated to: Sudjansky por continuar a ser como é.