quarta-feira

A universidade lusa (e as macacadas da greve da fenprof)

Nota prévia: a macacada da greve agendada pela Fenprof (que meparece mais uma marca de medicamento para a asia) não passa disso mesmo. Entre uma visita ao Jardim Zoológico e aquela greve vai dar ao mesmo. Pior: marcar uma greve encostado a feriados é um acto falhado cujo efeito se traduzirá num ainda maior fosso entre os docentes e a sociedade. Já agora, aquele senhor da Fenprof, Paulo Sucena - já está há quantos anos à frente desse sindicato??? Se calhar há quase tantos como Carvalho da Selva à frente da CGTP-in.. Que bonito! Que rotação democrática assumem os nossos belos sindicatos - enfeudados que estão ao pcp e conexos. Depois criticam os políticos e os deputados. Diz o roto ao nú... Estes líders sindicais parece que ainda vegetam no rescaldo do Verão quente de 74, e por vezes até penso que o sr. Sucena vai aparecer na 5 de Outubro com um lenço à Boavista - tipo Arafat - na testa - com paus numa das mãos e pedras na outra esperando que a ministra da Educação - Mª de Lurdes - saía da toca para ser apedrejada e paulada. Pfv.. Agendar esta greve antes dum feriado que na Capital ocorre entre dois feriados - só pode contribuir - perversamente - para agravar a já funesta imagem que os docentes dão de si à sociedade portuguesa. Será caso para dizer que com sindicalistas assim os políticos já não precisam de comprar espelho -: miram-se uns aos outros pela mesma bitola. O reflexo da imagem que ambos vêm só pode ser muito negativo. E ao espelho não se pode dar ordens de manipulação estética..., por enquanto!!
  • Agora segue a reflexão..., porque já não escrevo nada sério há dias. Isto assim não pode ser, ainda dizem que sou pior do que esse tal paulo Sucena...

A universidade, o coelho e o leão - Quando penso na Universidade portuguesa recordo a tese do coelho que faz o doutoramento e tem boas condições para o concluir, por contraste com as condições de trabalho dos investigadores portugueses. O papel da universidade é, hoje, parecido ao da Igreja ou ao das Forças Armadas, instituições que já tiveram a sua relevância na articulação do simbólico com o imaginário dos portugueses. Sendo factores detonadores de modernização e mudança política, reforçando a coesão e a identidade nacionais, hoje em crise.

- Nas actuais condições, a universidade já não pode exercer aquele papel estruturante na história nacional. Hoje tudo se complexificou, a sociedade portuguesa é mais conflitual e está ameaçada por desequilíbrios que deixou acumular e não têm fim à vista. Só muito pontualmente, a universidade é vista como um centro de racionalização estratégico e de produção de conhecimento com capacidade autónoma e homens qualificados em I&D, quais filtros na avaliação dos quadros de possibilidades do sistema económico, social e cultural.

- A declaração de Bolonha, que visa dar mobilidade e uniformidade ao ensino universitário europeu, também não é garante de qualidade que inverta a situação. Dito isto, conclui-se que a Universidade em Portugal está a regredir na proporção directa do défice de crescimento estudantil, agravado com as universidades-cogumelos que proliferaram na década passada numa manifestação paradoxal do exercício do poder.

- Para os novos investigadores a universidade não é senão uma plataforma de gestão de carreiras universitárias dos seus próprios funcionários; e não um centro de produção e formação de massa crítica para desenvolver o país. Assim, desaparece a sua clássica função de responsabilidade pelo conhecimento produzido, dissolvendo-se também a sua missão de vigilância crítica sobre a evolução da sociedade, que hoje só existe como pressão corporativa dos interesses organizados e das conveniências do momento, integrados nos órgãos académicos que vivem da endogamia, da cooptação e do tradicional fechamento ao exterior num esquema de auto-referenciação paroquiano.

- Privada da função de vigilância crítica sobre a trajectória da mudança, a universidade perde identidade e deixa de poder avaliar o quadro de possibilidades para o futuro. O país fica limitado nos seus centros de racionalidade e inovação, colaborando silenciosamente na ocultação dos seus problemas que atiram Portugal para uma crise de viabilidade, sustentabilidade e até de governabilidade por ausência de elites políticas.

- Esta paz podre, feita de encobrimento e ocultação egoístico-corporativa dos problemas, existe na academia. De que até são co-responsáveis os próprios media, centros produtores de informação e difusão de notícias para as multidões. Seleccionando só aqueles acontecimentos que oferecem um maior potencial mediático em termos de receita publicitária, só garantindo coberturas quando há conflitos entre as Associações e a tutela numa lógica populista para gáudio das audiências.

- Recordo a fábula do coelho que um dia dá de caras com uma raposa (que saliva) e lhe pergunta o que ele faz ali! O coelho responde que faz a sua tese de doutoramento. A raposa inquire qual é o tema, e o coelho-doutorando diz que é sobre uma teoria que prova serem eles os verdadeiros predadores e não as raposas. Indignada a raposa achou a ideia ridícula chamando a si essa função de regulação da cadeia alimentar. Então, o coelho levou-a à sua toca, local da prova experimental. Após estranhos ruídos, segue-se um silêncio assustador e o coelho sai da toca para retomar a redacção da sua tese.

- A história repete-se com o lobo (esfomeado), que o coelho conduz à toca para igual prova. Após ruídos e uivos, o coelho sai da toca como entrou. Só que dentro da toca, tal como no interior da Universidade, vêem-se duas enormes pilhas de ossos ensanguentados: uma de ex-raposas e outra de restos mortais de lobos. E ao centro vê-se um leão satisfeito e bem nutrido a palitar os dentes.

- Quando se olha para a Universidade portuguesa não importa o tema ou a qualidade da tese, o que importa é quem é o leão (God father) que cada um tem no seu interior..

- "Enfã", como dizem as.... portuguesas

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