terça-feira

Prós & Contras, Circo, Ténis e o Cunhal. O grande Eugéno de Andrade. A raquete mais rápida que a lux

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Ruisinho :
  • No programa Prós e Contras de ontem, a Fátima Campos Ferreira, tal como no Circo, ao som dos rufos, anunciou o número mais difícil da equipa dos trapezistas. Aquele em que o atleta se lança em voo, executa dois mortais e se agarra, in extremis, encaixando as mãos nas do seu colega que o espera balouçando no trapézio em frente, também ela, dizia eu, avançava sobre os seus entrevistados e disparava: e agora, meus senhores, a última pergunta, digam-me se Álvaro Cunhal foi um vencedor ou perdedor?
  • A pergunta era óbvia para quem foi apresentado, durante toda a vida, como o líder dos combtentes anti-fascistas. Mas se a pergunta era óbvia as respostas nem tanto. Para uns só vitórias, para outros, vitórias e derrotas alternaram, ou então de derrota em derrota até à vitória final - quando o mundo assistir à implantação da sociedade sem classes. Mas, verdadeiramente vitorioso, será Eugénio de Andrade, cuja poesia será lida com deleite daqui por 500 anos quando Álvaro Cunhal estiver arrumado para um canto da história, como aconteceu com Luís de Camões…alma minha gentil que te partistes tão cedo desta vida descontente…
  • Mas, se em vez de Álvaro Cunhal, estivéssemos a homenagear o falecido Prof. Agostinho da Silva, seria que a pergunta óbvia, era igualmente, se ele teria sido um vencedor ou um perdedor?. Para mim não era e, no entanto, o Prof. Agostinho da Silva também foi um lutador, mas no caso dele eu preferia perguntar se achavam ter ele sido um homem feliz.
  • O prof. Agostinho da Silva detestava o poder e não queria nada com a autoridade. Na aparência era mais um pacifista que um lutador. As suas armas não eram as do combate político directo e, contudo, tenho para mim, que ele era um revolucionário. Uma revolução no interior do homem….”quero restaurar a criança que há em nós, e em nós coroá-la Imperador…de um Império em que o primeiro passo está sempre no espírito do homem… Não são, com certeza, palavras de ordem para a conquista do poder, mas fazem-nos pensar, e pensar pode ser o princípio de uma nova atitude que tenha a ver com uma nova pessoa e quem sabe um novo mundo.
Xau. Boa Noite. Tio Quim
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  • P.S.- Tenho comigo um livro de ténis que o Miguel me deu . Da próxima vez vais levá-lo para estudar. A bolha que arranjaste na mão foi o resultado de uma pega deficiente. A raquete é o prolongamento do braço e não um objecto que se manipule com a mão. Como na política, também no ténis os erros se pagam.
____________________________________________________________________ Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us Meu bom Tio,
  • Começo pelo ténis para dizer o seguinte: além de me envergonhares no "quarte" de ténis, fazendo-me bailar como a Fatinha Campos Ferreiras - que parece uma perua fora de estação ali nos jardins de Belém à procura de uma macho com genes vigorosos, rebentaste-me a mão, e, agora, ainda tens a lata de me querer emprestar um livro da arte para ler... Por favor!!! Quanto ao Cunhal que descanse em Paz. Agora, pelo menos, as utopias dele já não perturbam ninguém... Mas o que apreciava nele não era a dialéctica, nem a argumentação, nem a cassete anacrónica, nem os métodos pidescos que intestinamente utilizava para manter a maralha na linha, nem o mais que remete para as utopias que ninguém hoje leva a sério. O comunismo é uma farsa. É uma religião pior que todas as religiões. É uma ditadura sem produção nem riqueza, nem desenvolvimento. O que apreciava nele eram apenas duas coisas: aquela bela cabeleira branca; e o facto de ter sido espancado quase até à morte e ter resistido, além da evasão da cadeia. Aqui tou com ele. No resto, coitado, era um sonhador que nunca soube reconhecer os ventos da história. O comunismo dele - made in Moscovo - fez mais desgraças numa década que o "Botas" do Salazar em (quase) 40 anos. Mas, enfim, o homem já estava cego à altura da queda do Muro de Berlim, por isso não viu a onda de democratização que varreu o mundo. Salazar não faria pior... Não viu ou não quis ver!!! Refugiou-se naqueles romances e na bonecada que retrata o povo com fome e o Alentejo em agitação, sob um sol quente que hoje já ninguém sente. Portugal sem ele teria ficado mais pobre, certamente!! Ainda bem que existiu, doutro modo como é que Mário Soares brilharia???
  • Falando agora de coisas maiores - ié, das que ficam no tempo e no espaço: o Eugénio... O homem era mesmo grande. Era um metal vertido em palavras. Simples como água. Água pura, energia vital que mostrava à turba como fazer um poema: de depuração em depuração até ao poema final. Um pouco como limpar a baba aos caracóis. Depois é preciso comê-los.. Ler os poemas dele é brincar com os elementos da Natureza, é regressar à fonte e olhar em redor e contemplar a Mãe Natureza; é voltar a ser criança - mas já com os olhos de adulto. E o esforço que ele fazia para ser poeta... Um inspector dos serviços sociais durante 40 anos... Depois virou poeta!! E a malta nem sequer se apercebeu que o Homem fora poeta toda a Vida. O António Botto (da Concavada) deve ter-lhe dado muito afecto, muita palmadinha, muito colo, muito poema por ele acima. E ambos devem ter estreitado muita coisa. Percebi isso ontem nos olhos dele quando via o documentário sobre Eugéneo... Que te parece?! Seja como for, o Eugéneo fica.
  • Com ou sem o colo do Botto, desse cancioneiro e amante das canções e do estético e do belo que o Pessoa longamente prefaciou. Por ele, comprarei mais uns livros. O Cunhal que descanse em paz - com as utopias e a alienação que gerou nuns milhares de portugueses que agora choram esse fado que finda, findando também uma parte do Portugal da outra senhora. É curioso que a morte do Cunhal me faz lembrar a vida do Salazar. Provavelmente, quando o Adriano Múreia, o Veiga Beirão da "Cobilhã" e mais uns restolhos ouvirem o chamamento de Deus - lembrar-me-ei de Che Guevara, Fidel, Trotski, Lenine, Mao, Durão e o mais... Não sei.. A memória é uma caixa de pandora. Milhares delas que se abrem em direcções difusas. Do Restelo mirando o rio Tejo. Do Cristo Rei mirando o Restelo e os restolhos, formiguinhas vegetando nos arrebaldes do Estádio do Belenenses.
  • Quanto ao Agostinho da Silva disseste mais umas boas verdades. E perante elas que mais direi, senão aplaudir. O Agostinho da Silva - é como o Mário Quintana - é um diamante em movimento, pedindo colo, pedindo festas, festinhas e muitas cogitações à mistura. Viva o Agostinho da Silva. Viva Fernando Pessoa. Viva Portugal! Viva o Ténis. Vivam as bolhas d'água que depois rebentam e voltam a querer pegar de novo no cabo da raquete em busca de bola - que nem sempre é redonda!!
Um abraço com a Prince Power Line (raquete) Rui
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Nota Bene: Acho que me ganhaste porque já és um veterano na arte. Mas há razões mais profundas que justificam a "tareia" que me deste. A saber: a raquete... Sim, a raquete que me emprestaste estava marada; depois também não tive tempo para fazer aquecimento. Para a próxima, já sabes: levo raquete e faço aquecimento prévio. Ou melhor, levo-o já feito aqui de Lisboa - e quando chegar a Santarém é só debitá-lo.
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Já estou em treino caseiro... Uma espécie de tiro aos pratos, só que com bolas de de ténis e em regime doméstico, que também fica mais económico.
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Esta é a nova raquete que irei comprar. É já uma radiografia de um protótipo que ainda não existe; é uma raquete que panca à velocidade da luz. E é do Benfica...
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