Le psicodrame de l' enfant terrible
A responsabilidade do analista não pode ser adivinhar o futuro, mas deve ser a selecção de alguns factos utilizáveis na produção de interpretações de futuros possíveis. Sendo certo que a leitura desses factos acaba por implicar a sua reformulação quando eles ocorrem isoladamente. Por isso não é de estranhar que quando o analista identifica o campo de futuros possíveis, tem de recorrer à ironia retrospectiva, ao olharmos para o que pode ser o futuro somos obrigados a ver o passado no “espelho retrovisor” da história, embora num prisma novo.
Quando se reconstruir o mapa político de 2004, cujo poder foi “monárquicamente” legado por D. Barroso a S. Lopes e P. Portas, vemos duas coisas: um grupo de playboys a ensaiar política(s) no laboratório de Portugal; e um conjunto de factos desastrosos para o País. A colocação de professores; a tentativa de introdução da taxa “variável” no Serviço Nacional de Saúde; a tentativa de criação de um secretariado de propaganda (central de comunicação); as descaradas pressões e neocensura exercidas sobre comentadores e media (DN, RTP), são a impressão digital deste pseudo-governo que, aliás, também na área de produção de metáforas (“bébe-incubadora-estaladas”) revelou uma profunda indigência cultural. Ademais, patrões, sindicatos, burocracia todos, salvo os ditos “play-boys”, convergiram no diagnóstico da mediocridade política e governamental tardiamente chumbada pelo PR.
Além da gritante impreparação técnica e cultural, o País viu os seus projectos adiados por causa do excesso de emotividade do seu líder. Uma emotividade que sobrevive à custa de um conjunto de relações emocionais, buscando aí (seguindo a técnica de conquista das bases nos congressos) a espontaneidade aliado ao mistério. Daqui resulta o método político de PSL: usar o psicodrama para atingir a vitimização e, assim, criar artificiais cumplicidades no eleitorado que, alienado, acaba por ceder. Atingindo o grau zero da política, atente-se na trajectória de l’enfant terrible após a humilhação da demissão da AR pelo PR.
Deste psicodrama (de J. Moreno, explorando a verdade por dramatismos) consta uma pentarquia de factores: um actor/paciente (PSL); a cena (crise política nacional); o director (P. Portas), o corpo de auxiliares (ministros-figurantes) e o público que paga com impostos esta miserável sociedade do espectáculo (G. Debord). É na cena que o actor alija responsabilidades e tensões, confundindo (como D. Quixote) a realidade com a fantasia, encarnando ilusões e alucinações que o País real (nunca viu) nem quer comprar. É aí que o actor procurará a genuína espontaneidade, recriando a habitual encenação de congresso, representando o seu próprio microcosmos. Liberto da vigia de Belém, o actor não deverá sacrificar a sua persona, sob pena do psicodrama perder o seu valor. Terá de ser autêntico e criativo.
O “caudilho”, as mentiras do PR e a encenação de demissão do governo são traços da dramatização lopista. Que invocará factos do passado, problemas do presente e questões do futuro. Envolver o eleitorado nisto é vital, sob pena do psicodrama morrer. O director de cena, “Paulinho das feiras”, dramatizará os restos fornecidos pelo actor. Como terapeuta pode (re)criar sugestões que beneficiem ambos e completar a performance circense. Os egos-auxiliares dão cor e enchem o drama visual. O público, alienado (com o futebol, as celebridades, a crise e a lentidão do PR), fornece o carburante para o drama, presente na cena política portuguesa.
Eis os 5 elementos do psicodrama que permite a catarse política, possibilitando ao actor/paciente libertar-se dos seus fantasmas e demónios íntimos. Um psicodrama representado graficamente sob a forma de mapas cujas linhas representam forças de atracção e de repulsão. Linhas desenhadas pelo povo português a 20 de Fevereiro de 2005.
PS: o método do psicodrama pode também ser aplicado a colégios, autarquias, clubes de futebol, boîtes e outros estabelecimentos comerciais com o objectivo de descobrir líderes. E que líderes. P. Portas é um sonâmbulo cujo êxito resulta da sua cegueira; se pudesse ver, enlouqueceria acabando por cegar o País – que (ainda) não é uma coutada..
Publicado dia 22 de Dezembro de 2004 na revista TEMPO
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