Um retrato político do Portugal contemporâneo
Hà dias a SIC entrevistou o 3º astro presidencial: o eterno Manuel João Vieira (MJV), o célebre dr. Lello Minsk dos Ena Pá 2000, consagrado vocalista dos Irmãos Catita. Além da pose excêntrica, pouco disse. Por isso, recupero prestações suas anteriores extraídas da Cosmopolitan (Ano 9, nº 104, Dez. 2000, p. 87) cedida pela ex-colega e amiga Sofia Reis.
Diz MJV: acho a política um prazer, mas caríssimo. Tive de comprar um fato no conde Barão, um par de sapatos e troquei o Ferrari por um Lamborgini Miura, mas ainda estou a pagar as prestações. Depois, assevera: estava a pensar pôr o meu carro a gás. Questionado sobre a medida mais popular em Belém, diz: os nascimentos devem ser subsidiados e a licença pós-parto prolongar-se por 1 a dois anos. Não é uma medida demagógica, porque se os nascimentos não aumentarem a Segurança Social entra em colapso. E quero subsidiar a lingerie feminina a 100% e os perfumes de marca francesa a 150%. E todos os portugueses devem ter um Ferrari.
E qual a medida mais impopular? Vender o Porto à Inglaterra. Assunto que ainda está na corda bamba, penso que o melhor é fazer um referendo. Em que lugar gostaria de se encontrar com Guterres para discutir problemas nacionais? Que tal perto de um precipício? Por ex., um pic-nic na Boca do Inferno. E quem será a 1ª dama? Apostamos numa eleição via Internet.
O Batatoon e o professor Neca serão os meus estilistas. E quanto espera ganhar? Os portugueses deviam todos ganhar o mesmo. É importante democratizar a democracia e retomar a política de saneamentos, por sorteio ou rifa, para não dizerem que favorecemos algumas pessoas. Pensa ainda celebrizar um dia com o seu próprio nome: o Dia Vieira.
Tudo isto se desenrolou em frente ao Planetário, em Belém, num evento onde estava uma multidão de cerca de 50 pessoas. Todas assinaram (sem ser empurradas) o respectivo apoio presidencial a MJV. E todas ouviram o discurso do candidato, que chegou atrasado, a esbracejar, num Mercedes SLK alugado, donde partiu acenando para os pastéis de Belém.
Será isto uma parte da caricatura de Portugal (similar à narrada por Eça no séc. XIX)? Que relação têm estas ressonâncias hilariantes com a classe política que nos (des)governa? Ou o “uivo” e a lucidez de Saramago? Haverá algum traço de modernidade nos “Acácios” actuais? Ou será que tudo isto não passa duma brutalidade cómica, actualizada com a crise económica e moral do 3º milénio?! Como 3º astro presidencial, interrogo-me o que dirá, hoje, MJV aos seus dois mais dilectos competidores: Guterres e Santana Lopes…
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