Analogias perigosas: consensos e divergências em Política
Não deixa de ser extraordinário como o PM conservador, David Cameron, deu as mãos ao líder trabalhista, Jeremy Corbyn, para sublinhar os valores democráticos e prestar um devido tributo à deputada trabalhista barbaramente assassinada por um fanático nazi, que lhe deu um tiro e umas facadas. Até onde pode ir o fanatismo na "política" - ou em nome dela (ou dum suposto projecto europeu ou anti-europeu)!!
É óbvio que este crime nenhuma relação tem com a política, remete apenas para a violência gratuita e a onda de criminalidade fanática que demandou a polís do nosso tempo. Tendo ela uma motivação ligada ao fanatismo religioso, racista ou de mera política conjuntural.
Em Portugal não há situações-limite deste calibre, temos um regicídio no take of do séc. XX que não mais se repetiu ao longo da história, ainda que o salazarismo - ou a PIDE por seu intermédio ou com a sua cumplicidade meia dúzia de décadas depois - tenha planeado a morte de Humberto Delgado que, a partir de 1957, passou a fazer sombra à manutenção de Salazar no poder.
Sem querer comparar os casos, até porque não são comparáveis, Portugal ainda tem muito que aprender em matéria de tolerância política, especialmente quando estão em causa situações, processos ou instituições verdadeiramente infra-estruturantes da economia nacional que, pela natureza das coisas, exigiria um consenso entre os principais partidos e líderes partidários, e não a invenção duma guerra artificial que só aproveita o inimigo externo representado no directório europeu, obediente a uma visão financista do projecto comunitário estilhaçado, onde está ausente qualquer tipo de solidariedade.
Sem querer exceder-me na plasticidade do exemplo, veja-se o que Passos Coelho pensa e diz do caso da CGD por oposição ao Governo em funções, que pretende recapitalizar a instituição a fim de a por ao serviço da economia portuguesa e das suas PMEs e, assim, acelerar e aumentar o financiamento à actividade empresarial para tornar mais competitivo o seu tecido económico e social, hoje ainda muito estagnado em resultado do embate de 4 anos de austeridade troikista e duma brutal subida de impostos ditada pelo consulado Passos-Portas-Vitor Gaspar-e-Mª-Luís Albuquerque de raiz neoliberal.
Numa palavra, e sem querer forçar os termos da analogia, naquilo que os partidos e os respectivos líderes têm em por-se de acordo, não valerá a pena fingir pretensas divergências para arrecadar meros ganhos políticos a curto e médio prazos na secretaria dos aparelhos partidários, como parece decorrer da oposição artificial que o PSD de Passos deposita na CGD (instrumentalizando-a como arma de arremesso político-partidário) - sem querer ver nela o papel que ela verdadeiramente deve ter na alavancagem da economia portuguesa.
Ao invés, contrariar o óbvio e incendiar guerras de alecrim e da manjerona serve apenas a ânsia trauliteira e dirigista de Bruxelas, de pretender condicionar ainda mais a já escassa liberdade de acção política portuguesa acerca dos destinos que as instituições políticas nacionais (ia para dizer soberanas!!!) procuram imprimir à sua lógica e racionalidade de desenvolvimento em vista ao bem comum que falava Aristóteles.
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