quinta-feira

EUA enviam 'destroyer' para o mar Negro


EUA enviam 'destroyer' para o mar Negro

por AFP, traduzido e editado por Patrícia Viegas, dn
'Destroyer' norte-americano USS Truxtun enviado para manobras no mar Negro. Marinha dos EUA fala em exercícios de rotina. Mas estes surgem em pleno clima de tensão com a Rússia por causa da Ucrânia
'Destroyer' norte-americano USS Truxtun enviado para manobras no mar Negro. Marinha dos EUA fala em exercícios de rotina. Mas estes surgem em pleno clima de tensão com a Rússia por causa da UcrâniaFotografia © Reuters

Em plena tensão com a Rússia por causa da instabilidade na Ucrânia, os EUA fizeram hoje dois anúncios com alguma importância: o primeiro é o de que o decidiram impor restrições de vistos para algumas pessoas e que estão a ponderar o congelamento de bens de outras tantas; o segundo é o de que enviaram um 'destroyer' para o mar Negro.


"As operações do ['destoyer' americano lança-mísseis] USS Truxtun estavam previstas muito antes da sua partida dos EUA", indicou a Marinha dos EUA num comunicado citado pela AFP. No mesmo documento, explica-se que o 'destroyer' partiu da base grega de Souda Bay esta manhã "para exercícios conjuntos no mar Negro com as forças navais romenas e búlgaras". As operações são classificadas como "de rotina".
No entanto, nota a AFP, apesar de o USS Truxtun ter partido dos EUA muito antes do início da crise ucraniana e da intervenção das forças russas na península da Crimeia, a presença de um navio deste género na região pode ser interpretada como uma mensagem a Moscovo. A embarcação tem 300 tripulantes e é um dos 'destroyers' mais recentes. Está equipado, nomeadamente, com várias dezenas de mísseis Tomahawks, mísseis anti-aéreos e de luta anti-submarina.
Na segunda-feira o Pentágono suspendera toda a cooperação militar com a Rússia, depois de Moscovo ter autorizado uma intervenção russa na Crimeia. Na quarta-feira, o secretário da Defesa dos EUA, Chuck Hagel, anunciara já que os norte-americanos reforçaram os exercícios aéreos conjuntos com a Polónia e aumentaram a sua participação na missão de vigilância aérea da NATO nos países bálticos, subindo de quatro para dez o número de caças F-15 que estão a assegurar a proteção do espaço aéreo da Lituânia, Letónia e Estónia.
Hoje ainda, Washington anunciou a aplicação de restrições a vistos para algumas pessoas, sem especificar quais, ameaçando ainda congelar os bens dessas e outras pessoas, no contexto da crise entre a Ucrânia e a Rússia."O departamento de Estado pôs hoje em prática restrições aos vistos de um certo número de responsáveis e indivíduos, reflectindo assim uma decisão política" que consiste em recusar vistos àqueles que ameaçam a soberania da Ucrânia. A Casa Branca não deu, para já detalhes, sobre quem são os visados pela restrição de vistos, mas fonte anónima citada pela AFP diz que serão tanto responsáveis ucranianos como russos.
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Obs: Há no ar uma certa nostálgia do ambiente da Guerra Fria agora recuperado com a crise da Crimeia. Cada superpotência revela o tamanho e a potência da sua virilidade sem que, no desenrolar das operações, nenhuma efectivamente aplique a força militar. Ela serve para ser mostrada, para dissuadir o outro de ultrapassar um certo limite que ambos se impõem. 
- Em certo sentido, é o regresso da história, mas com a nuance de que o peso da memória evoca os mortos do passado que, doravante, nenhum dos intervenientes quer replicar neste novo contexto em que a autocracia russa invade um país vizinho - a Ucrânia - que apenas procura o caminho da Liberdade, da Democracia, da Paz e da Prosperidade. Um caminho espinhoso interceptado pela oligarquia corrupta de Putin que, por sua vez, financia pequenos oligarcas corruptos na sua esfera de influência, de que Yanukovitch era mais resíduo histórico. 
- Na era da chamada pós-Guerra Fria ninguém impunha nada ao outro, ou melhor, as nações estão desejosas de aderir ao império cooperativo personificado pela União Europeia, de que Durão Barroso deu ontem um triste espectáculo, ao apresentar um pacote de apoio financeiro já com a Ucrânia ocupada, em vez de o ter feito mais cedo, sem ser num ambiente de pré-conflito.
- Estas forças e contra-forças do pós-Guerra Fria revelam, por outro lado, que embora as nações desejassem aderir àqueles valores (democracia, paz, liberdade, prosperidade) confrontam-se com sinais de divergência global, assentes em tradições culturais, civilizacionais, religiosas e nacionalistas que resistem e se atravessam e questionam o "império cooperativo" da UE que, em rigor, e sob a gestão de Barroso tem enfraquecido o poder, o prestígio e o status da Europa - subjugada que está ao directório germânico. 
- A crise da Crimeia veio revelar, por último, que as convicções nucleares do pós-Guerra Fria entraram em colapso tão rapidamente como foram erguidos os seus ideais. 
- A Ucrânia compreenderá isso mesmo quando, um dia, aderir à UE e constatar como funciona esse bloco regional hoje profundamente enfraquecido, desvitalizado, sem projecto e sem esperança. 
- Eis a Europa de Barroso. Eis o seu miserável legado. 

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