A sociedade de corte emergente. Recuperação de Norbert Elias
Há episódios na sociedade portuguesa que me evocam a sociedade de corte do séc. XVII, uma configuração de teias e de relações desenvolvidas de uma certa forma a fim de se perpetuarem certos comportamentos e reacções por parte dos agentes sociais, políticos, económicos e culturais. Foi um tema majistralmente desenvolvido por Norbert Elias, um mestre do pensamento e da sociologia contemporânea que retratou a corte francesa de Luís XIV, o Rei-Sol, em que todos eram perfilados por uma poderosa teia de interdependências e de subserviências. Uma configuração em que as elites estavam sob forte pressão para competir em busca de prestígio social que só podia ser sustentado pelo monarca que administrava o seu poder manipulando essas rivalidades. Por momentos, revisitei o nosso dia 10 de Junho através das lentes epistemológicas de N. Elias, um mestre do pensamento que aqui recupero. Uma revisitação que tem uma outra virtualidade: a de nos mostrar que, afinal, a sociedade de corte não é uma constelação socio-histórica datada no tempo, refém de monarquias de outros tempos em que o Estado moderno ainda se estava a formatar, o capitalismo ainda não tinha projectado todo o seu poder, influência, actividade e utilidade na vida das nações da época moderna. Autor da célebre frase - L´État cést moi, Luís XIV de Bourbon, o monarca absolutista cuja centralização em França ainda hoje perdura, organizou a vida cortesão através de um modelo que os súbditos tinham de seguir à risca. Ante isto, pergunto-me se a sociedade de corte é, de facto, uma curiosidade histórica, ou representa algo mais que demanda o presente neste nosso "Palácio dos Inválidos" que construímos?!
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