sexta-feira

Vamos ao Teatro!!! Breve "estória" do Orçamento de Estado para 2011!!

A vida pública está tão extremada em Portugal que os seus actores são obrigados, mais do que nunca dado o momento de excepção em que vivemos, a recorrer às técnicas das tragédias representadas no teatro enquanto obras de ficção. Obras concebidas para que os espectadores fiquem a ver aquelas representações e, se possível, aprendam algumas lições.
Significa isto, e até porque temos a discussão do OE pela frente, o documento fundamental para todos e para cada um de nós, que os actores que representam os protagonismos dentro e fora do hemiciclo do Paralamento conhecem bem toda a sequência de takes e de actos que têm de representar, conhecem até o próprio desfecho da peça, desde a primeira fala e dominam na perfeição qual a mensagem que vão fazer passar.
Sócrates, muito curiosamente, já começou a encostar PPCoelho ao burladero desafiando este a cessar o "tábu", um conceito inerente à praxis política de Cavaco; PPCoelho, por seu turno, já teve necessidade semântica em evocar Francisco Sá Carneiro para, por um lado, mobilizar o partido e, por outro, dizer que apoia Cavaco nas presidenciais mas não se filia nele a sua matriz política.
Voilá, un petit exemple deste teatro!!!
Depois temos o coro de ambos os lados, que funciona como simétrico da assistência, a sua função é dizer aquilo que os espectadores não sabem, assim oferecem comentários que apimentam a contenda política. Uma espécie de "estória" aos quadradinhos que supreende a plebe que assiste a mais uma ficção.
No fim, os protagonistas e o coro removem as suas máscaras, vão almoçar e regressam ao seu estatuto de simples cidadãos, ainda que uns sejam mais iguais do que outros, como lembrou George Orwell no seu Triunfo dos Porcos.
O Zé Povinho, que pagou o bilhete para assistir ao espectáculo, regressa a casa convencido de que terá de pagar ainda mais impostos para poder continuar a ver aquelas representações dos protagonistas políticos, e aqueles cidadãos que não se consideram o típico zé povinho, porque são mais ilustrados, acreditam piamente que a política é um teatro pegado, e já começam a repousar até à próxima representação, numa Sala de teatro bem perto de si.
E você nem hesitará em pagar o seu bilhete.
O problema (há sempre um problema nestas coisas!!) é quando a evolução política a que assistimos pode conduzir a uma verdadeira tragédia, algo que não é ficcionado nem encenado. E aí a coisa torna-se verdadeiramente problemática, visto que já não podemos fazer como o autor da peça ou o encenador que nos bastidores tem a faculdade de interromper a representação para corrigir os takes, porque algo correu mal no seu desenvolvimento.
Malgré tout, devo confessar que prefiro as tragédias ficcionadas, pois as tragédias reais apresentam sempre aqueles protagonistas que são capazes de extirpar as populações dando a ideia de que continuam a representar, como nas tragédias ficcionadas.
Bem sei que nas tragédias reais cada um segue o seu próprio guião, tem liberdade de escolha para atalhar o seu próprio caminho, mas até isso Bruxelas nos tirou à sombra do conceito operacional de soberania partilhada que hoje todos temos de obedecer se queremos continuar a receber a solidariedade da UE - que actualmente também é uma sombra do que foi, já que nunca como hoje a Europa perdeu poder, influência, autoridade e status que tinha ao tempo de Delors.
Seguramente que isso não decorre só do facto de ser Durão Barroso o actual chefe de economato da UE, e o mensageiro das más notícias...
Há certas coisas que ele bem poderia delegar no tal Olli Rehn, Comissário para os Assuntos Económicos & Financeiros, que fala um inglês tão péssimo que jamais conseguiria representar uma peça numa sala de teatro nacional.
Só mesmo na Europa!!!

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