terça-feira

Pedro Passos Coelho ainda está mais entalado que o Governo. Paroxismo do tempo

PPCoelho diz que votaria uma moção de censura ao Governo caso as eleições presidenciais não estivessem à porta. Di-lo porque, no seu íntimo, o governo não presta, mas também porque em sede de discussão de OE para 2011 irá fazer o contrário, i.é, deixar passar a sua aprovação no Parlamento. Imperativos nacionais falam mais alto.
Todavia, Coelho irá ouvir os órgãos internos do partido, Comissão política permanente, Conselho Nacional, mas as decisões já estão tomadas na cabeça do actual líder do PSD. O objectivo dessa audição é, tão só, vincular os militantes e representantes dos órgãos internos a ficarem vinculados à sua decisão, ainda que a face pública dessa vontade se incline mais para o chumbo do OE. Neste caso, far-se-á exactamente o contrário daquilo que se pensa.
Toda esta metodologia significa que PPCoelho interpreta bem o que é uma democracia pluralista, os seus métodos e processos, pois ela também vive deste teatro de audições múltiplas, ainda que se saiba, antecipadamente, qual será a decisão do líder. Desta feita, PPCoelho procura atingir um duplo objectivo: conter os danos colaterais no seio do seu próprio partido, ao viabilizar o OE para 2011; por outro lado, prevenir que alguns deputados mais afoitos - como Pacheco Pereira, Ferreira Leite - ambos deputados sentados na última fila do hemiciclo da AR - que sempre contestaram a liderança de PPCoelho, apresentem números de circo que escapem à disciplina de voto que nestas votações existem. No fundo, a questão é simples e, por paradoxal que pareça, vira-se sempre contra PPCoelho e o actual PSD: a não aprovação do OE será sempre pior para o país real do que a sua passagem. O PSD é, neste momento, quem tem o revólver na mão apontado contra o Governo e contra o país, portanto espera-se que ele guarde o revólver e o utilize numa próxima oportunidade, desde que o OE passe e o país não vá para eleições nesta conjuntura recessiva que anteciparia, seguramente, as condições de colapso financeiro no Estado, na banca, nas empresas, nas famílias e nas pessoas.
Talvez nunca na história da democracia desta nossa bela III República o país tenha ficado tão dependente da definição do seu destino colectivo como o está hoje com toda esta situação criada em matéria de finanças públicas, de desemprego e de todos os indicadores micro e macro-económicos na economia nacional, a que o PSD é, sejamos sérios, alheio.
Perante esta camisa de sete-varas que aprisiona PPCoelho e o PSD - há que pensar da seguinte forma: o povo português precisa deste OE, e se PPCoelho o viabilizar será esse mesmo povo que irá compensá-lo mais tarde, quando se colocar o timing das eleições para S. Bento, e aí o actual líder do PSD será visto como alguém que se sacrificou pessoalmente pelo futuro do seu país, alguém que soube por de lado orgulhos pessoais em prol da sustentabilidade da sua própria economia. De resto, foi isso que fez na linha do acordo com o PEC II, embora o Governo não tenha cumprido o que acordou, designadamente em matéria tributária, e os resultados estão à vista.
Na prática, gente influente no PSD está contra a linha do appeasement, como Morais Sarmento ou até mesmo Rui Rio, a Norte, mas os tempos também não estão para a guerra, porque as consequências desta são ainda mais devastadores.
PPCoelho tem de saber segurar o partido mais recalcitrante e, ao mesmo tempo, deixar passar este OE dando a entender ao país que, noutras circunstâncias, o chumbaria. Se não o fizer será cruxificado na praça pública, e passará a ser um líder a prazo. Se, ao invés, o viabilizar somará uns créditos à sua conta bancária no mercado político, sendo que, a qualquer momento, como revela a história do partido, poderá sempre aparecer um candidato a líder - que esteja em gestação - capaz de engolir o líder vigente.
E quando este cenário se coloca, lembro-me sempre de António Nogueira Leite, ainda que este deteste a cacicagem que vegeta em torno dos partidos e da gente idiota e desqualificada que por lá se encontra, ainda que passem todos por serem quadros qualificados na vida dos partidos em Portugal.

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