quinta-feira

Irresponsabilidade organizada

Os discursos da nossa classe política distribuem-se entre dois pólos em torno dos quais se agrupam lugares-comuns e entre os quais parece também não haver espaço para uma razoável responsabilidade. Portanto, o terreno político está minado pelos extremos: o Governo, maior responsável, empurra com a barriga para a frente, e as oposições, com maior ou menor consciência e criatividade, não são assim tão diferentes do governo que leve as massas e os eleitorados a preferir alternativas à gestão do poder em funções.
No quadro desta apagada e vil realidade os portugueses sentem-se hoje como verdadeiros delinquentes, com uns copinhos a mais e com as chaves do carro dos pais no bolso, dispostos a cometer um crime a qualquer momento.
A esta luz não fará muito sentido os portugueses continuarem a conferir responsabilidade para partidos, instituições e governos que, depois, falham as promessas e colocam as populações em elevadaos níveis de ansiedade e desespero, tamanha a impotência dos sistemas de governação que temos.
Aquilo a que assistimos hoje é uma generalização da dramatização moral, política, intelectual e técnica - que baralha ainda mais as populações - no âmbito daqueles extremos a que chegámos.
Ou seja, as finanças públicas estBlockquoteão quase em regime de bancarrota, dados os erros de gestão financeira cometidos nestes últimos anos, mas os níveis de responsabilidade política ficam imunes a essa gestão ruinosa das finanças públicas do Estado, e este é o gap que revela bem o fosso entre as promessas integradas nos programas políticos comunicados à sociedade e os efeitos nas estruturas sociais e económicas da sociedade.
É a esta distância galopante que aqui denominamos de irresponsabilidade organizada - que ocorre dentro e fora do aparelho de Estado.
Perante este fosso entre o anunciado e o realizado é que quase 11 milhões de pessoas andam em busca duma compensação.

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