quinta-feira

Manuel Alegre: o máximo divisor comum no PS e no País

Guerra aberta no PS por Alegre por HUGO FILIPE COELHO, dn
A notícia de que Sócrates prometeu apoio foi precipitada. E mostrou que o PS vai dividido às presidenciais.
Devia ter sido um aviso apenas, mas fez começar a guerra. A notícia de que José Sócrates já tinha prometido a Francisco Assis apoiar Manuel Alegre caiu como uma bomba no PS. Soaristas e mesmo alguns próximos do líder socialista reagiram irados e ameaçam ir contra a posição do partido.
O primeiro-ministro tentou, ao fim do dia, travar a contenda. À entrada para um jantar promovido pela Fundação Mário Soares, afirmou que "este não é o tempo" do PS para discutir as eleições presidenciais. "Vamos aprovar o Plano de Estabilidade e Crescimento e depois temos de nos concentrar na Governação," disse. Mas nem Sócrates parece ser mais capaz de fechar a ferida aberta no partido.
A verdade é que a tensão no PS estava em crescendo nos últimos dias. Ontem mesmo, depois de Alegre ter garantido que avançará mesmo sem o PS, foram vários os fiéis de Sócrates a reclamar alternativas. Mas ao fim da manhã, uma notícia fez explodir o barril de pólvora. De acordo com a agência Lusa, Assis e Sócrates concordaram, durante um almoço terça-feira, que o PS declararia o apoio depois do poeta formalizar a candidatura, o que deverá acontecer em Maio no regresso de uma viagem a Itália.
E a crise precipitou-se. José Lello, um dos mais acérrimos críticos de Alegre, afirmou à TSF que "por uma questão de decência não irá participar nas iniciativas de campanha". E Vitalino Canas, ex-porta-voz do PS, tido como próximo do primeiro-ministro, reclamou o "direito" a tomar uma posição sua.
Ao DN, à mesma hora, o soarista Vítor Ramalho afirmou que o PS tem regras e acusou os dirigentes que "declaram o apoio a alguém que não é candidato sem ouvir o partido" de não serem "responsáveis". O presidente da distrital de Setúbal lembrou que o único candidato é Fernando Nobre e prometeu falar em "total liberdade" depois do PS tomar uma opção.
Nessa altura, falando em nome do PS, a pedido de Sócrates, André Figueiredo tentou controlar os danos, apressando-se a desmentir: "O PS não tem qualquer reunião perspectivada nem tem a intenção de a marcar sobre o tema das eleições presidenciais".
Francisco Assis falou por cima: "Se porventura essa proposta [de apoio a Alegre] surgir, naturalmente que o PS aderirá a ela." O líder da bancada elogio mesmo Alegre, que minutos antes estendera a mão aos socialistas: "A minha candidatura é supra-partidária, mas a minha casa política é o PS."
A intenção de Assis, explicou fonte da bancada socialista, era enviar um recado para a bancada, que dava sinais de estar dividida e impaciente. "Assis tem o pé no acelerador. Quando criticam Alegre, ele carrega no pedal. Quando Alegre exagera, levanta o pé para se distanciar."
Mas é já claro que a união em torno de Alegre, a existir o apoio, é impossível. A par de Lello, Vitalino ou Ramalho, também Capoulas Santos já criticou Alegre por aparecer como o candidato do Bloco de Esquerda. E Renato Sampaio, presidente da distrital do Porto, fez o mesmo: "Acho difícil o PS apoiar um candidato que traz um bloco às costas." O seu adversário na distrital, José Luis Carneiro, não perdoou: condenou atitudes que podem "prejudicar gravemente" a opção do partido.
Obs: Não surpreende que seja esta a divisão que o poeta Alegre provoque no seio do PS, o que me preocupa é o que seria um presidente destes em Belém... Como congregaria ele os portugueses para os desafios que o país tem pela frente!? E como seria a sua relação com o Governo em funções? De facto, o PS tem, cada vez mais, um problema, ou melhor dois problemas: um é Alegre, o outro é saber como sair dele.

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