quinta-feira

Institucionalização da mentira política em Portugal


 
Ocorre o mecanismo da mentira política quando, numa relação de duas ou mais partes, uma delas decide de forma deliberada falsear os dados da equação para daí colher proventos políticos, económicos, financeiros, de estatuto ou outros ligados à promoção pessoal, funcional ou institucional por parte de quem promove esse tipo de relações políticas. Pode até coabitar nesse concurso de razões uma outra, ligada a fenómenos patológicos, seja do lado de quem persegue como do lado de quem é perseguido.
 
Este fenómeno é altamente assimétrico porque pressupõe diferentes capacidades no acesso à informação privilegiada que serve de apoio à decisão. Mas o que despoletou este desvio em Portugal foi, entre outros factores, um determinado modelo de jornalismo pirata e difamatório levado a cabo por certos jornalistas.  
 
Todavia, nada disto é novidade, assim parece banal inscrever esta teoria nas preocupações do nosso quotidiano, mas o facto é que, por um lado, as generalização das TIC promoveram uma mudança de escala na forma de funcionamento nos media e nas audiências, a que são muito sensíveis os agentes políticos, pois acham-se interferidos por elas que, directa ou indirectamente, influem no processo e nos resultados eleitorais.
 
Daí a novidade ante este mar de banalidades acerca da mentira política, cujos media, mecanismos políticos (formais e informais) e instituições e organismos da sociedade civil, tornam possível a passagem das mentirinhas artesanais do tempo da “outra senhora” para uma escala e dimensão em que a mentira política ganha, ou pode ganhar, foros de cidade no seio da textura emergente da nova sociedade em que todos vivemos.
 
Se notarmos, e os telejornais disso dão conta, Portugal à boleia desse quadro de possibilidades, ilusões e simulações passou a alimentar-se disso (talvez por isso temos um crescimento anual inferior à media dos países da Europa), sedimentado por um conjunto de factóides políticos, nutridos pelas agendas noticiosas, realimentados pelos cidadãos que, do lado das oposições visa o abate político do poder em funções; do lado do poder em funções, visa diluir o mais possível esses pseudo-acontecimentos que, por não se terem concretizado, não prefiguram crime económico, ainda que fronteirem o crime moral e ético num regime democrático e republicano.
 
Neste momento, as oposições em bloco buscam uma coisa: identificar um culpado que aceite a mentira, porque se assim for todos os demais ficam inocentados, como se todos eles não tivessem sido cúmplices de decisões que envolvem milhões em submarinos, por exemplo.
 
A pior das mentiras está na aparente verdade com que alguns daqueles deputados julgam falar verdade. E quando levantam o dedo indicador numa postura inquisitorial estão, sem dar conta, ocultando mais do que revelando.
 
 
Comezinhos exemplos em como a aparente verdade revela a pior das mentiras... E sob a capa das virtudes públicas se esconde o pior dos vícios e das intenções.
 
Até porque de boas intenções está o inferno cheio.

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