terça-feira

António Costa: Sempre achei difícil ter maioria absoluta

Fonte: Jornal de Notícias António Costa: Sempre achei difícil ter maioria absoluta
António Costa acredita que foi a abertura e a pluralidade da lista do PS que fizeram com que os lisboetas concentrassem votos na candidatura. Dá recados ao PCP e ao BE e elege a reabilitação urbana como prioridade
Só a meio da tarde de ontem, segunda-feira, ao bater das 17 horas, o reeleito presidente entrou na Câmara Municipal de Lisboa, pela porta lateral, como faz habitualmente.
Descontraído, António Costa chegou sozinho, a pé, depois de uma viagem de metro, transporte que garante utilizar sempre que vai directo de casa, na Avenida João XXI, para os Paços do Concelho. Não contava, mas à sua espera, no primeiro andar, tinha uma recepção de apoio de dezenas de funcionários, que o brindaram com uma prolongada salva de palmas, cumprimentos calorosos e "vivas" a Lisboa. No gabinete, em mangas de camisa, aceitou dar, ao JN, a primeira entrevista.
Ter maioria absoluta de vereadores na Câmara foi uma surpresa?
Sempre achei que era um resultado quase impossível. O PS, sem coligação, só tinha ganho em 1976 e nas condições excepcionais de 2007, em que o PSD se dividiu em duas listas. Portanto, ganhar já era um grande feito e sempre achei a maioria absoluta muito difícil. Nem em 2001 o drº Santana Lopes a teve, nem o professor Carmona tinha tido em 2005. Maioria absoluta sem coligação é a primeira vez que acontece. Bem sei que esta lista, sendo do PS, era uma lista que ia para além do PS, porque abriu à Helena Roseta, ao José Sá Fernandes, e isso criou uma dinâmica que permitiu uma grande concentração de votos nesta lista, sem a qual este resultado teria sido obviamente impossível. Nas legislativas, o PSD e o CDS somados tiveram mais 20 mil votos do que o PS sozinho no concelho de Lisboa, portanto, isto implicou uma inversão: recuperar não só o atraso, como acrescentar-lhe uma vantagem.
O que é que contribuiu mais para o resultado de domingo: a abertura a esses dois movimentos ou o seu apelo ao voto útil?
Funcionou tudo. A abertura deu confiança às pessoas. Muita gente hoje tem medo das maiorias absolutas, mas as pessoas também perceberam que esta era uma lista que tinha pluralidade suficiente, em que se podia ter confiança que a maioria absoluta não significaria abuso absoluto. Acho que o PCP e o BE cometeram um erro de análise grande, ao acharem que a estratégia da divisão os compensaria. Não compensou: o Bloco teve uma grande derrota, não elegeu ninguém para a Câmara, perdeu mandatos na Assembleia Municipal; o PCP perdeu mesmo duas juntas de freguesia importantes, uma delas histórica, Alcântara, com um grande presidente.
O PS também conquistou várias juntas de freguesia ao PSD…
Sim, imensas. O PS tinha 11, passou para 22, duplicou o número de juntas de Freguesia. A CDU perdeu três, ficou com cinco.
Acha que é agora que o PCP se convence do que vale em Lisboa? Não sei… Já há dois anos fiz o apelo a que todos se unissem em nome de Lisboa. Houve quem percebesse a importância disso e houve quem não percebesse. Acho que, depois dos resultados, todos terão oportunidade de reflectir e repensar o que é que hão-de fazer no futuro.
Vai oferecer um pelouro a Ruben de Carvalho, vereador da CDU?
Eu tenho sempre a porta aberta. Se quiserem aproveitar, óptimo. Só tenho a agradecer, porque é preciso mais gente a participar na gestão do município. Nove elementos são poucos. Sempre disse que este município, para ser bem gerido, precisa de, pelo menos, 11 pessoas a full-time.
Mas são só nove…
Está bem. Não há milagres (risos).
Na noite eleitoral, Santana Lopes falou num "acordo" entre o PS e a CDU, pelo facto de ter havido muitos lisboetas que votaram CDU para as juntas de Freguesia e PS para a Câmara…
Não houve acordo nenhum. O que isso demonstra é que os partidos não são proprietários dos eleitores. E houve muitos eleitores da CDU que perceberam bem que para a Câmara queriam votar na lista do PS.
Foi uma noite longa para alcançar este resultado.
Sim, para alcançar a maioria absoluta foi. Mas valeu a pena a espera.
Sofreu?
Sim, sofri, além do mais porque era difícil gerir a Câmara sem maioria e, em particular, sem ter eleito a vereadora responsável pelas Finanças, que estava precisamente em nono lugar da lista.
Qual vai ser a sua primeira prioridade?
Já disse qual será a primeira medida: voltar a levar a reunião de Câmara o programa de investimento prioritário de apoio à reabilitação urbana (o PIPARU), que o PSD chumbou na actual Assembleia Municipal e que vamos levar novamente para permitir desbloquear as obras em Alfama, no Castelo, na Rua da Madalena, executar o programa "Viver Marvila". É um total de 345 empreitadas que estão a aguardar aprovação pela Assembleia Municipal, cujo financiamento está assegurado pelo Banco Europeu de Investimento em óptimas condições financeiras. Será a primeira proposta a apresentar à reunião de Câmara.
Esse problema da assembleia municipal agora está ultrapassado…
Bem, não sei se está, é preciso que a assembleia municipal o aprove, mas acho que sim (risos).