sexta-feira

O Inferno são os Outros...

... Como diria Sartre, um filósofo por quem nunca tive grande reconhecimento, pois grande parte do que pensou, disse ou escreveu já a psicologia o tinha explicitado. Mas talvez seja erro de percepção da nossa parte e pelo facto de Sartre ter falhado todos os diagnósticos relativamente às dinâmicas do póst-II Guerra Mundial, em que Raymond Aron acertou em quase tudo.. Entre um e outro existe um mundo de racionalidade, rigor e sistematização que Sartre nunca teve. Mas isso agora pouco releva para evidenciar o que pretendo. E o que pretendo é salientar a hiperconflitualidade que a sociedade portuguesa irá registar doravante. Tal não decorre apenas por causa das condições sociais e económicas, mas sobretudo por causa das tensões políticas que já se registam pela vizinhança da troika de actos eleitorais. E aí talvez a percepção de Sartre ganhe actualidade, por um lado não podemos viver sem o outro, por outro viver com o outro redunda inevitavelmente em conflito. E é nesses encontros com o outro que a consciência se manifesta, embora resista a ser colocada como o objecto por parte da outra consciência. No fundo, os contextos eleitorais são galáxias de consciências em conflito permanente entre si. E é esta a natureza fundamental das relações humanas, que se agravam quando se revestem de dimensão política. Iremos, pois, viver e reviver esse Inferno que são os outros, desdobramentos de nós próprios - em que as consciências de um lado tentam derrotar as consciências que estão no outro lado da barricada.
Como diria um amigo, entre Sartre e Kafka venha o Diabo e escolha...