quarta-feira

Filosofia de polichinelo no tripé dos tempos: xixi-cócó-xilindró. Lost e baixa Europa

A dificuldade em resgatar um tema para reflectir é problemático, pois os factos e as imagens que nos chegam do mundo são desgraçados, convidam ao silêncio ou à reserva - como a catástrofe natural que se abateu sobre Itália, o resto é o que se sabe: retracção ao consumo, desemprego, freeportmania, juízes doentes e loucos, media ávidos, sindicalistas caceteiros, promessas dum mundo melhor via decisões do G20 e o mais em que quisermos acreditar.
Já nada surpreende, nada inova, nada nem ninguém acrescenta algo ao que está.
Maneira(s) que a vida converte-se numa vidinha, e esta, consabidamente, é a merdinha de sempre: xixi, cócó, xilindró. Comer, beber, trabalhar, fingir que se trabalha, sonhar, sonhar que se sonha, projectar o projecto que nunca chega a projectar-se, e agora até há um novo movimento, o mms – "Movimento Mérito e Sociedade" (nome presunçoso!!!, fazendo supor que o resto da sociedade é um bando de mentecaptos) que irá fazer uma digressão pelo País na esperança de que o país o veja, ou nele identifique uma única ideia original e com interesse.
O que não sucedeu até ao momento, apenas umas caras novas (a minha rua, curiosamente, está repleta de caras novas) dizendo banalidades, mas com um ar de novo e sério, as usual. Banalidade nova, portanto. Sempre é um veículo para se fazerem uns contactos, organizar umas jantaradas, promover uns esquemas e procurar encontrar causa para um projecto. Até lá é um projecto sem causa, um pouco como a vida cheia de rebeldia de James Dean... Há muita rebeldia, mas não se encontra causa.
Aqui chegados, atingimos aquela fase ritualizada da vidinha: xixi, cóco, xelindró... Amanhã há mais. Mas se formos um pouco menos levianos nesta análise de polichinelo, a que pedimos desculpa à verdadeira Filosofia, fácilmente concluiremos que são duas variáveis que condicionam a vida humana: necessidade e "ódio".
E muitas das nossas condutas derivam simplesmente desse paradoxo, segundo o qual odiamos aquilo que precisamos (dinheiro, por exemplo). As coisas essenciais são-nos dadas, embora a água já esteja para o carote, e muita tem bactérias...
Relativamente ao mais tememos que os bens escasseiem.
No que diz respeito à realidade que temos por certa é mais do mesmo: xixi, cócó, xilindró, PGR, comunicados, pressões dos sindicalistas e dos majistrados, organização de mais umas greves manhosas, o cristão comunista Mário Nogueira aparou o bigode, Louçã farpeia a corrupção e deseja um enterro de luxo para as offshores, enfim, é o teatro neste imenso palco da vidinha que somos chamados a viver. Por dentro, por fora, de lado...
Aqui chegados, percebemos mais uma coisa banal no curso dos tempos. Não podemos controlar a realidade, mas podemos uma coisa: controlar as nossas fantasias. Só que as nossas fantasias não existem. Então, estaremos condenados a nada poder controlar.
Nada, senão uma coisa: a ilusão desse mesmo controlo.
É, precisamente, a ilusão desse controlo que se torna tranquilizador, oleando a máquina do tal ritual diário do xixi-cócó-xilindró...
Mas é da previsibilidade desse tripé que pode nascer algo inimaginável.
Talvez, amanhã o Sr. PGR faça algum comunicado ou Cavaco fale dos jovens ou ainda algum juíz, como em tempos fez uma ex-professora de Francês que tive no Liceu M.ª Amália, justifique o seu atraso porque um eléctrico lhe provocou um acidente com sérios danos no carro.
É este tipo de factóides que torna a vida verdadeiramente inimaginável, e, ao mesmo tempo, tão miserável quanto ilusória.
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Pergunto-me quanto ganhará um opinion-maker que fez carreira nos jornais e na mediacracia; quanto ganhará um director dum pasquim fiel servidor dum grupo empresarial que viu uma OPA chumbada à PT; quanto ganhará um gestor de empresas da Goldman Sacks & bitaites; quanto ganhará uma jornalista louca que tem que vender a alma ao diabo para arranjar - quando não forjar - uma historieta de lana-caprina, algumas delas até tiveram de dormir com o capitão Robi para lhe conhecer o diâmetro do.. umbigo; quanto ganhará um reformado do bCp que acumula reformas...

Todos ganharão certamente bem mais do que os simplórios mil contecos que o Sócrates leva para casa ao fim do mês. Qualquer assessorzeco de meia tijela com perfil e vocação caciqueira ganha perto disso. Mas atentas as responsabilidades de les uns et les autres a injustiça relativa dessas remunerações em Portugal é gritante. Por isso, se deveria remunerar mais e melhor a classe política em Portugal, que também poderia criar uma apetência para atrair os melhores. Mas aqui o ponto é, ligeiramente, outro.

Explicito: na imagem supra vemos um conjunto de pessoas, que ganham todas, ou quase todas, bem mais do que o PM, e que têm todas um laço cor-de-rosa em comum: detestatm Sócrates, razão por que o pretendem ardentemente aniquilar políticamente, algumas é pura e simplesmente aniquilar. É a velha máxima da política de que vita mea, morts tua - de que falava Philippe Schmitter, salvo erro.

Mas naquele "ninho de abutres urbanizados e envernizados", há um pensamento (supostamente) mais elevado a fazer que ora ensaíamos: em oposição à lógica kantiana de que as pessoas nunca deverão ser usadas como meros meios para um fim, coisa a que certos jornalistas recorrem sistemáticamente, a posição utilitarista justifica que se tratem as pessoas como meios para o maior bem de conseguir benefícios para a maioria.

E a maioria neste caso, está representado no retrato supra. Uma maioria de ressabiados do Sócrates: uns porque desejariam ser PM em seu lugar, outros porque gostariam de ter a pinta do homem, Santana, eventualmente, porque desejaria ter outra estrutura capilar, etc... Os gostos e as motivações variam consoante os personagens.

Mas o que o grupo de retratados pensa é que para se salvarem a eles próprios (e não ao País) se for necessário dar cabo do Sócrates à saída de S. Bento - esse "malfeitor" que até ganha 1000 contecos/mês - deve executar o plano e fulminar o homem, segundo os fundamentos do velho utilitarismo, não já de John Stuart Mill, mas segundo aquela galeria de personagens.

Eis o que significa a filosofia under LOST.

SÓCRATES DEVE APOIAR A CANDIDATURA DE DURÃO BARROSO, in Jumento

"Sim, deve fazê-lo em público enquanto em privado deve patrocinar um candidato concorrente, foi assim que fez Durão Barroso com a candidatura de António Vitorino. Deve tratar o cão com o pêlo do próprio cão".

  • Obs: Infelizmente as alternativas ao cargo administrativo da Comissão Europeia são tão más que a Europa perde menos se for Durão o co-optado (desta vez sem Cimeira dos Azores). Além de que se assim não fosse o seu regresso a Lisboa iria provocar mais guerra civil no psd, e a Manela, idosa como é, ainda poderia ter um AVC ou Parkinson no departamento do economato da Lapa donde dirige o partido - e imputar essa responsabilidade ao Sócrates pelo sucedido. Cujo seguro depois teria de pagar novo o que era velho...
    Em suma: Durão é hoje um mal menor duma Europa que ele conseguiu apoucar no seu projecto, estatuto, poder e influência no mundo.
    Agora só reporta ao novo dono: Obama.