quinta-feira

Algumas conclusões da Cimeira do G20

Barack Obama, um estreante, chegou e convenceu: disse que ia aprender e no final falou em nome dos powerless, dos povos mudos do mundo que alí não estavam representados. Foi hiper-político, e ainda termina a sua carreira num misto de Mahatma Gandhi Gandhi e Madre Teresa de Calcutá, o que só lhe fica bem. E até Michelle Obama, sua esposa, "trancou" a rainha do RU, e esta, por sua vez, retribuíu o gesto à cintura de Michelle - escavacando décadas de protocolo. Neste sentido, a cimeira foi um tremendo êxito.
O casal Obama (E) visita a rainha Elizabeth II (C) e o príncipe Philip, duque de Edimburgo, no Palácio de Buckingham
Quanto às decisões de fundo importa alinhar algumas conclusões:

A birra de Sarkozy compensou, pelo que a reforma do sistema financeiro ganhou um novo impulso. Para o efeito, manifestou intenção de publicar uma lista de paraísos fiscais significando, com isso, o fim da era do sigilo bancário. Agora, os offshores que se cuidem... Assim como as remunerações dos operadores financeiros. Se a moda pega em Portugal, talvez não fosse má ideia começar pelos vencimentos desmesurados de alguns administradores da banca cujos rendimentos chocam. Alguns, já parecem jogadores de futebol...

Desta forma, os paraísos fiscais listados pela OCDE que não aceitem cooperar e adoptar normas de transparência internacionais, arriscam-se a medidas e a sanções. O que, a prazo, será uma forte cacetada na fuga e evasão fiscais e na lavagem de dinheiro. Na prática, os "sobrinhos na Suíça" a desempenhar a profissão de "taxista" fica dificultada. Cabendo aos Estados arrecadar mais receitas pelos impostos que passam a cobrar, e que dantes se escapavam pela porta do cavalo. Havendo mais impostos os Estados podem realizar mais obra e empreender mais projectos sociais em benefício das populações, em tese.

As remunerações e as bonificações de executivos, criticados pela sua ganância, fica também regulamentada. Não lhes sendo devido tais bónus sempre que as respectivas instituições financeiras estão em crise.

E até as famosas agências de avaliação de riscos, algumas das quais falham em todas as previsões (intoxicando ainda mais o mercado), passarão a subordinar-se a um código de conduta a fim de avaliar de forma mais rigorosa os activos das empresas.

Bons prenúncios, portanto, para mais conversas de que o mundo depende para sobreviver à crise de confiança que atinge mercados, Estados, sociedades, empresas e pessoas.

Foi uma bela birra. Talvez a mais bem onerada que Sarkosy fez na vida.

Uma nota final respeitante às manifestações na City de Londres com a justificação de que assim mandam a globalização abaixo. Puro engano. Um engano resultante da alienação daqueles anarquistas, pacifistas, comunistas, utopistas, homens e mulhres em busca dum ideal e dum projecto que jamais se deveriam iludir com a ideia fixa de que a globalização é destrutiva. Na realidade, a "globalização" não passa duma metáfora, duma narrativa a que todos se agarram para explicar este varrimento do mundo que a finança desgovernada anda a empobrecer o mundo.

Seja qual for a influência exercida por uma cultura, seja a grega, na Antiguidade, a italiana, na Renascença, a francesa, na Idade das luzes (que hoje estão fundidas) ou no tempo atual guiado por um neoliberalismo que hoje busca regulação múltipla em nome do bem comum - nenhuma cultura chegou ao ponto de aniquilar as restantes, cuja originalidade foi frequentemente estimulada pela situação.

Hoje o desafio do G20 está aí: converter a crise numa oportunidade (global). No fundo, fazer "judo-político". E, para começar, o teatro de Sarkosy sortiu efeito.

É isto que confere à política o palco mais nobre onde todas as cenas cruciais são representadas. Mas, porventura, os takes mais importantes deste filme nem sequer serão filmados, apenas vivenciados nas salas e dos quartos dos hóteis pelos próprios intervenientes.

Esperemos que as participantes também ajudem, e, já agora, o champagne seja bom...