quinta-feira

Um perfil do criminoso actual. Que papel cabe a Escola?

A maneira de ser de um criminoso que seja reincidente assume um quadro de relacionamento interpessoal mais ou menos taxativo. Desde logo, é alguém com uma profunda carência cognitiva. O seu pensamento geralmente não acompanha a idade do autor. Por outro lado, é uma pessoa pouco sensível às ideias, à posição ou mesmo ao sofrimento do outro.
Daqui decorre um egocentrismo que leva o criminoso a achar que o mundo cometeu contra ele uma tremenda injustiça, que o legitima depois a justificar todos os crimes e a não sentir algum sentimento de arrependimento. É assim, por regra, que se guia a tendência actual dos jovens delinquentes ao atribuírem todos os males do mundo a terceiros, explicando os seus crimes mais violentos pela necessidade de defenderem os seus próprios direitos.
Há dias uma estação de tv até entrevistou um desse criminosos que dizia que recorria ao crime até arranjar o dinheiro suficiente para montar um negócio e depois mudar de vida. Fiquei muito sensibilizado a ouvir o canalha...
Creio que foi na televisão onde pagamos os impostos, e o criminoso deu a entrevista de cara tapada. Provavelmente, a rtp ainda lhe pagou um cachet pelo serviço. Fiquei com a sensação que depois de se ter mediatizado, apesar de ter a vox distorcida, converteu-se num "criminoso bom" inovando ao nível da nova criminologia.
Vive do contencioso interpessoal recorrente. A escassez de vocabulário empurra-o para isso. É incapaz de se desenvolver porque para ele não existe futuro, só presente. Ou melhor, ele vive obsecado com o presente, tornando-o completamente irresponsável a qualquer compromisso. Também não consegue dominar a sua própria agressividade: verbal e física. Com os pais, com os amigos e a comunidade envolvente - onde já tem uma tradição de hostilidade e de violência.
Por outro lado, só os amigos - igualmente delinquentes - lhe interessam, e isso faz com que seja quase impossível escapar ao círculo vicioso em que mergulhou envenenando sistemáticamente as suas relações com os outros.
No fundo, é gente com esta personalidade que recorre ao carjacking, assalta residências e ourivesarias, supermercados e o mais. São tipos imprevisíveis, instáveis, compulsivamente desleais sempre prontos para transformar uma simples conversa numa enorme discussão apenas regulada pela agressão deliberada e injustificada. Tudo serve de pretexto para uma resposta violenta. Uma violência que naturalmente atrai violência, provocando mais e mais rupturas.
Sendo certo que as suas carências cognitivas têm quase sempre origem em graves lacunas educativas. É com este tipo de pessoas que os agentes policiais, as autoridades competentes e a comunidade no seu conjunto tem de lidar diáriamente.
Actualmente, a sociedade e a economia funcionam de tal forma que as pessoas, as famílias, as instituições estão de tal forma privadas de coesão e de níveis de confiança necessários para cimentar quadros de relacionamentos que as probabilidades de essas pessoas se tornarem delinquentes crónicos aumentou significativamente.
Não é por acaso que as famílias que originam delinquentes estruturados definem-se pela desordem educativa, o que nos deixa a pensar o que a Escola em Portugal está a pensar fazer para inverter os indicadores de criminalidade que hoje são preocupantes em Portugal.
A oportunidade deste tipo de questões é tanto maior quanto as autarquias têm uma responsabilidade especial nas escolas. Paralelamente, terão também responsabilidades acrescidas no domínio da segurança - em articulação com o MAI e o Governo Civil. Razão por que esta questão deverá ser pensada transversalmente.
Se nada se fizer, significa que os rapazes que hoje têm 10 anos daqui por meia dúzia de anos podem ser "os putos" que andam por aí a fazer carjacking nas principais cidades do País.