sexta-feira

Pacheco Pereira - de gurú passou a expanador de Ferreira leite.

Já aqui referimos que Pacheco Pereira tem qualidades intelectuais inegáveis que são de apreciar, mas quando ele procura, por mera conveniência politico-partidária, justificar o injustificável converte-se num homem em busca do absurdo, denuncia até uma futilidade de pensamento e um primarismo de raciocínio que tudo aquilo que de virtuoso lhe reconhecemos fica comprometido.

Na base estão as tais declarações lamentáveis de Ferreira Leite sobre o congelamento da democracia por 6 meses, que ela própria se recusou a esclarecer, talvez com receio de a emenda ser pior do que o soneto. Por isso, Pacheco desempenhou essa tarefa com o seu expanador argumentativo - dizendo que a coisa culminou numa montagem da agência Lusa e do ps.
De facto, Pacheco deveria ter reconhecido o erro, que é congénito em Ferreira Leite - e prosseguido com serenidade fingindo que a coisa não era com ele. Mas não foi isso que Pacheco fez, empurrou com a barriga para a frente na vã tentativa de desculpar as asneiras que leite multiplica à cadência da luz sempre que ocupa o espaço público. De modo que o papel de Pacheco, desde que se tornou no gurú da actual locatária da Lapa, é ser uma espécie de expanador da Lapa a fim de limpar os erros que leite comete sempre que abre a boca. Tarefa ingrata..., além de suja.
À cadência com que a srª Leite comete erros e diz disparates é de prever que Pacheco não faça mais nada nos próximos meses senão empurrar a pedra, até novo Congresso com vista à substituição de leite por alguém mais capaz.
Pacheco está hoje condenado - como o personagem da mitologia grega - a repetir a mesma tarefa de empurrar uma pedra, leia-se - a srª Ferreira leite - para o topo da montanha, nem que seja para a ver rolar de novo para a planície.
Mas o mais interessante nesta nova teoria do expanador que Pacheco Pereira personifica, decorre do processo de comunicação a dois tempos que ele comporta:

  • 1. Primeiro a srª Ferreira Leite irrompe no espaço público, com o glamour e o fair-play que já (lhe) conhecemos e debita um discurso - que será, naturalmente, eivado de ofensas à realidade, à democracia, à liberdade, ao common sense, enfim, à inteligência e paciência dos 10 milhões de portugueses;

  • 2. Num segundo momento aparece Pacheco Pereira de expanador na mão a descodificar a mensagem e os erros da sua líder junto da opinião pública. De modo que Pacheco torna-se, assim, uma espécie de filtro-expanador de Ferreira leite.

Até se pode falar, se quisermos ser um pouco mais elaborados, no multi-step flow of communication: primeiro a Manela debita a asneira no espaço público, produzindo aí os estragos prováveis e possíveis, depois, do outro lado da rede, está Pacheco com uma raquete para apanhar os restos da asneira - e devolvê-la à opinião pública - já expurgada de vícios, erros e omissões graves.

Nesta medida, a dupla de politicos Leite & Pacheco estão a revolucionar a forma de fazer comunicação em Portugal, pois o objectivo essencial parece ser colocar no mercado político um erro gritante a circular - para depois a opinião pública o ampliar e lamentar.

Tudo isto evoca a filosofia do absurdo de A. Camus, que conduzia o homem fútil em busca de um sentido para a vida, ainda que o mundo fosse desprovido de inteligibilidade e bondade. Mas no caso que Camus perspectiva o absurdo o resultado culminava no suicídio.

É óbvio que não é isso que se sugere à srª Leite, tanto mais uma avozinha babada mas, pelo menos, também seria desejável que um homem inteligente e culto como é Pacheco Pereira não nos queira transformar a todos nós numa espécie de Ferreira leite à la carte, porque se isso acontecer a pergunta que me coloco não é a do suicído, mas onde fica o exílio?!