Jean Baudrillard, again... A Disneylândia nacional tem nome e chama-se...
“Ce que vous appelez mourir, c’est achever de vivre, et ce que vous appelez naître c’est commencer à mourir, comme aussi ce que vous appelez vivre, c’est mourir en vivant. Vous n’attendez pas la mort, mais vous l’accompagnez perpétuellement”.
Existências e metafísicas à parte, o regresso a Baudrillard impõe-se porque foi um dos mais brilhantes filósofos do séc. XX. De pensamento, original e criativo - desafiando até a própria realidade - criando os alicerces para equacionar a hiper-realidade.
Se recuperarmos a metáfora (e a realidade) que representa a Disneylândia (D.) não deixa de ser um modelo perfeito de todos os tipos de simulacros. É, como diz o filósofo desaparecido em Março de 2007 com uma febre estúpida, um terrível jogo de ilusões e de fantasmas. Um terreno povoado por piratas - e outros fazedores de crimes de colarinho branco, cinzento, negro, etc. Este mundo imaginário, na verdade, não é tão imaginário assim. Ou seja, a D. existe para esconder algo da América "real" como, por exemplo as prisões, como Guantanamo. Portanto, o mundo imaginário que a Disneylândia suscita não é verdadeiro nem falso, como diz Baudrillard, é uma "máquina de dissuasão encenada para regenerar no plano oposto a ficção do real." Em Portugal, o BPN representa esse mundo oculto, dissimulado reflectindo uma degenerescência que atravessa todo o sistema de poder mo país. De certo modo, o BPN espelha o imaginário infantil que coabita em cada um de nós, e quer-se infantil para fazer crer que os adultos (leia-se, os responsáveis pelos ilícitos alegadamente cometidos que instabilizaram a referida instituição financeira) estão noutra parte, inacessível aos comuns. E hoje a informação é servida a conta-gotas, consoante as conveniências pessoais, políticas e partidárias. Oxalá a situação não apodreça muito mais e o sistema judicial faça algo pela democracia e pela liberdade. Em rigor, são os simulacros que dão hoje um retrato do mundo e dos homens mais fiel. E, por essa razão, o mundo quer-se infantil a fim de fazer crer aos adultos que a infantilidade está por toda a parte, sendo certo que hoje são esses mesmos adultos que vêm fingir que são crianças para iludir a sua infantilidade real. De resto, em Portugal a "Disneylândia-do-BPN" não será um caso único, pois se se perguntar aos portugueses a que conclusão chegaram acerca do caso da pedofilia as respostas serão inconclusivas. Mas uma coisa é certa: os media terão neste caso/BPN alimento podre para alinhar as suas agendas noticiosas para os próximos meses. E de hora a hora, como faz a Sic, repete as mesmas peças noticiosas. E fá-lo, creio, porque deve ter apostado com o diabo a melhor maneira de deixar os portugueses alienados. O problema a montante de tudo isto reside, a meu ver, na tradicional ineficácia do sistema judicial nacional. Que é lento e injusto e, além de penalizar pessoas inocentes, também penaliza fortemente a actividade económica do País - adiando a modernidade e o desenvolvimento colectivo dos portugueses. Todos nós, afinal, temos a nossa Disneylândia: um sistema de representações sem dúvida simpático, repleto de cor e emoções, mas do lado do passivo reflecte sinais de uma infância retardada (que remonta à década de 80 - já que o bpn está intimamente associado ao "cavaquistão") e de fantasmas falsificados. Quid juris?
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