sábado

Evocação de Jean Baudrillard

O simulacro nunca é o que oculta a verdade
- é a verdade que oculta que não existe.
O simulacro é verdadeiro.
O Eclesiastes
Outrora, por recurso à alegoria de Borges, era possível fazer com que os cartógrafos do Império desenhassem um mapa tão detalhado que acabasse por cobrir exactamente todo o território. Hoje Lisboa submeteu-se ao teste em alguns edifícios da cidade a fim de testar tecnologias e afinar procedimentos de prevenção e segurança comuns. O saldo deve apontar para uma correcção de muita coisa que hoje está caduca, ainda assim só sabemos que tropeçamos depois de tropeçar, daí a vantagem do simulacro.
E na vida social e política, como é? Há mapa, há abstracção, há duplos, há espelhos...
Dantes, o território vinha antes do mapa, hoje parece ser o mapa que precede o território, vq, é ele que engendra o planeamento das operações que, se nada for feito, pode colocar uma sociedade em piores condições de segurança na eventualidade de uma catástrofe natural.
E como será isto no mundo político, visto que todos representamos em maior ou menor escala?! Todos dissimulamos ao fingir não ter o que se tem, todos simulamos ao fingir ter o que não se tem.
Na prática, quando ouvimos Dias Loureiro na entrevista à RTP devemos ou não validar a sua versão; devemos ou não tomar por boas as palavras do seu interlocutor, António Marta, que tutelava a área da Supervisão bancária no BdP? Quem mente ou simula mais?
E o PGR, Pinto Monteiro, quantas vezes já dissimulou ou simulou no exercício das suas funções.?
E Cavaco, PR, sabendo-se que o BPN era o banco do cavaquistão, o que terá ele a dizer ao País sobre o assunto, posto que antes de ser uma questão de tribunais o escândalo que envolve o BPN é, em 1ª ordem, uma questão política? Cavaco nada diz, como se sabe. Dissimula mais do que simula, ou é o contrário?
E é neste jogo de presenças e ausências que vamos deixando intacto o princípio da realidade. Uma realidade que nunca se sabe bem o que é:
- se um reflexo
- se uma máscara que deforma
Mas nada muda quando uma sociedade quebra o espelho da loucura, nem quando a ciência quebra o espelho da sua pretensa objectividade.
Hoje muita gente não sabia o que se passava em Lisboa. Mas depois de se saber que a ciência e a técnica se mobilizaram para testar equipamentos e afinar procedimentos de prevenção e segurança - também ninguém acreditaria que este simulacro poderia salvar a múmia de Ramsés II...
PS: Reflexão dedicada à memória do filósofo Jean Baudrillard - que muito nos ensinou.